DEU EM O GLOBO
O Lula que emerge dessa seleção de colunas é mais coerente do que se possa imaginar , embora incoerente como que defendia no passado.A incoerência mais marcante foi a manutenção da política econômica do seu antecessor , o inimigo cordial Fernando Henrique Cardoso, decisão corajosa de Lula com a ajuda do destino, quase um pleonasmo em se tratando da sua carreira.
Fora a questão econômica, de cuja manutenção das linhas básicas se convenceugraças a Palocci, que por sua vez se convencera depois de várias conversas com membros do primeiro escalão do governo anterior, especialmente o então presidente do Banco Central, Armínio Fraga, o desenho do que seria o governo Lula desde os primeiros movimentos foi riscado com tintas mais leves no primeiro mandato, e com pinceladas mais fortes no segundo. (...) A posse, em janeiro de 2003, foi uma amostra do que seria a política externa brasileira, mais voltada para a América Latina epara as relações Sul-Sul.
Lula referiu-se aos Estados Unidos apenas uma vez no seu discurso e colocou o representante do governo americano, Robert Zoelick, a quem chamara de “sub do sub do sub”, em lugar secundário no palanque oficial, superado no cerimonial por líde-res terceiro-mundistas como Fidel Castro e Hugo Chávez.
O tom antiamericano que hoje predomina na nossa política externa foi aumentando com o passar dos anos, o que não impediu que Lula se desse bem com o mais direitista dos recentes presidentes dos Estados Unidos, GeorgeW. Bush, e chegasse a ser apontado por Barack Obama, em 2009, como o seu preferido entre os dirigentes mundiais.
(...) Com o tom esquerdista da política externa aumentando coma crise em Honduras e a acolhida a Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã que o mundo tentava isolar para que desistisse de seu programa nuclear, o prestígio pessoal de Lula decaiu.
Ele, que chegara ao final do ano sendo considerado o líder mais destacado do mundo por jornais do peso do “Le Monde”, da França, e o “El País”, da Espanha, e com o Financial Times” colocando-entre as personalidades que mais influenciaram a década, começou a receber críticas no início de 2010, especialmente depois que tentou em sucesso intermediar a paz no Oriente Médio e uma negociação, junto com a Turquia, sobre o programa nuclear do Irã, acordo rejeitado ela maioria do Conselho de Segurança da ONU.
Ilusionista, camaleônico, Lula- conseguiu internamente convencer boa parte dos ricos de que era o único a poder controlar a revolta dos despossuídos, o mesmo tempo em que lhes permitiu lucros extraordinários; e deu a sensação aos despossuídos de que estava no o poder em seu nome, e ao mesmo tempo, com programas sociais assistencialistas como o bolsa Família e o aumento do salário mínimo, deu-lhes a impressão de que pela primeira vez alguém olhava por eles.
Suas políticas de transferência de renda, embora não tenham alterado estruturalmente a sociedade brasileira, tiraram milhões de cidadãos da miséria e fortaleceram a classe média, que passou a incluir a maioria da população. Da mesma forma, no plano internacional, Lula conseguiu convencer o Primeiro Mundo de que era o único a poder controlar os líderes esquerdistas autoritários, quase ditatoriais, que foram sendo eleitos na América Latina, ao mesmo tempo em que, na região em que o Brasil é um líder natural, convenceu seus “companheiros” de esquerda de que era um deles a enfrentar os “louros de olhos azuis”. Já se disse que o líder populista se diferencia do estadista porque o primeiro pensa na próxima eleição, enquanto o outro pensa na próxima geração.
Lula definitivamente não é um estadista, tem uma visão de curto prazo que supera suas preocupações com o futuro, exceto quando se trata de si mesmo.
Apesar de, na retórica, apresentar-se como o grande estadista que o país jamais teve. (...)
Desde o início do primeiro mandato de seu governo, tenta controlar os meios de comunicação, seja através de um Conselho Nacional de Jornalismo, proposta que não vingou devido à forte reação da sociedade e que hoje está de volta através de sugestões da Conferência Nacional de Comunicação.
(...) O episódio do mensalão foi o ponto de inflexão de seu governo. Até aquele momento, em 2005, o governo Lula era “um governo que não roubava nem deixava roubar”, na definição do então ministro-chefe do Gabinete Civil, José Dirceu, depois identificado pelo procurador-geral da República como o chefe de uma quadrilha que, de dentro do Palácio do Planalto, organizou a compra de partidos políticos inteiros para dar apoio ao governo no Congresso.
(...) A oposição, na definição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não tinha“gosto de sangue” na boca e temeu a ameaça de que os chamados “movimentos sociais” sairiam à rua para defender o mandato do presidente Lula. O próprio Fernando Henri-que dizia que não era inteligente criar “um Getulio vivo”, referindo-se ao episódio do suicídio de Getulio Vargas, que reverteu o estado de espírito da população a favor do presidente morto.
Lula reverteu a percepção do povo brasileiro de maneira espetacular sem precisar de gestos extremos.
O Lula hoje entrando no seu último ano de mandato expandido é um político em permanente ascensão popular ,com uma votação que vai mudando territorialmente ao longo do tempo, até se transformar no principal líder da esquerda brasileira. Lula sempre foi maior do que o PT, e principalmente ao longo de seu segundo governo foi gradativamente se afastando do partido que fundou e ganhando dimensões de líder populista dos maiores que o Brasil já teve. O lulismo passou a ser uma força política baseada nos programas assistencialistas, na classe média ascendente e no carisma de Lula, que passou a ter oPT apenas como instrumento de sua vontade.
(Trechos do prefácio do livro “O lulismo no poder”, lançado em setembro deste ano pela Editora Record)
O Lula que emerge dessa seleção de colunas é mais coerente do que se possa imaginar , embora incoerente como que defendia no passado.A incoerência mais marcante foi a manutenção da política econômica do seu antecessor , o inimigo cordial Fernando Henrique Cardoso, decisão corajosa de Lula com a ajuda do destino, quase um pleonasmo em se tratando da sua carreira.
Fora a questão econômica, de cuja manutenção das linhas básicas se convenceugraças a Palocci, que por sua vez se convencera depois de várias conversas com membros do primeiro escalão do governo anterior, especialmente o então presidente do Banco Central, Armínio Fraga, o desenho do que seria o governo Lula desde os primeiros movimentos foi riscado com tintas mais leves no primeiro mandato, e com pinceladas mais fortes no segundo. (...) A posse, em janeiro de 2003, foi uma amostra do que seria a política externa brasileira, mais voltada para a América Latina epara as relações Sul-Sul.
Lula referiu-se aos Estados Unidos apenas uma vez no seu discurso e colocou o representante do governo americano, Robert Zoelick, a quem chamara de “sub do sub do sub”, em lugar secundário no palanque oficial, superado no cerimonial por líde-res terceiro-mundistas como Fidel Castro e Hugo Chávez.
O tom antiamericano que hoje predomina na nossa política externa foi aumentando com o passar dos anos, o que não impediu que Lula se desse bem com o mais direitista dos recentes presidentes dos Estados Unidos, GeorgeW. Bush, e chegasse a ser apontado por Barack Obama, em 2009, como o seu preferido entre os dirigentes mundiais.
(...) Com o tom esquerdista da política externa aumentando coma crise em Honduras e a acolhida a Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã que o mundo tentava isolar para que desistisse de seu programa nuclear, o prestígio pessoal de Lula decaiu.
Ele, que chegara ao final do ano sendo considerado o líder mais destacado do mundo por jornais do peso do “Le Monde”, da França, e o “El País”, da Espanha, e com o Financial Times” colocando-entre as personalidades que mais influenciaram a década, começou a receber críticas no início de 2010, especialmente depois que tentou em sucesso intermediar a paz no Oriente Médio e uma negociação, junto com a Turquia, sobre o programa nuclear do Irã, acordo rejeitado ela maioria do Conselho de Segurança da ONU.
Ilusionista, camaleônico, Lula- conseguiu internamente convencer boa parte dos ricos de que era o único a poder controlar a revolta dos despossuídos, o mesmo tempo em que lhes permitiu lucros extraordinários; e deu a sensação aos despossuídos de que estava no o poder em seu nome, e ao mesmo tempo, com programas sociais assistencialistas como o bolsa Família e o aumento do salário mínimo, deu-lhes a impressão de que pela primeira vez alguém olhava por eles.
Suas políticas de transferência de renda, embora não tenham alterado estruturalmente a sociedade brasileira, tiraram milhões de cidadãos da miséria e fortaleceram a classe média, que passou a incluir a maioria da população. Da mesma forma, no plano internacional, Lula conseguiu convencer o Primeiro Mundo de que era o único a poder controlar os líderes esquerdistas autoritários, quase ditatoriais, que foram sendo eleitos na América Latina, ao mesmo tempo em que, na região em que o Brasil é um líder natural, convenceu seus “companheiros” de esquerda de que era um deles a enfrentar os “louros de olhos azuis”. Já se disse que o líder populista se diferencia do estadista porque o primeiro pensa na próxima eleição, enquanto o outro pensa na próxima geração.
Lula definitivamente não é um estadista, tem uma visão de curto prazo que supera suas preocupações com o futuro, exceto quando se trata de si mesmo.
Apesar de, na retórica, apresentar-se como o grande estadista que o país jamais teve. (...)
Desde o início do primeiro mandato de seu governo, tenta controlar os meios de comunicação, seja através de um Conselho Nacional de Jornalismo, proposta que não vingou devido à forte reação da sociedade e que hoje está de volta através de sugestões da Conferência Nacional de Comunicação.
(...) O episódio do mensalão foi o ponto de inflexão de seu governo. Até aquele momento, em 2005, o governo Lula era “um governo que não roubava nem deixava roubar”, na definição do então ministro-chefe do Gabinete Civil, José Dirceu, depois identificado pelo procurador-geral da República como o chefe de uma quadrilha que, de dentro do Palácio do Planalto, organizou a compra de partidos políticos inteiros para dar apoio ao governo no Congresso.
(...) A oposição, na definição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não tinha“gosto de sangue” na boca e temeu a ameaça de que os chamados “movimentos sociais” sairiam à rua para defender o mandato do presidente Lula. O próprio Fernando Henri-que dizia que não era inteligente criar “um Getulio vivo”, referindo-se ao episódio do suicídio de Getulio Vargas, que reverteu o estado de espírito da população a favor do presidente morto.
Lula reverteu a percepção do povo brasileiro de maneira espetacular sem precisar de gestos extremos.
O Lula hoje entrando no seu último ano de mandato expandido é um político em permanente ascensão popular ,com uma votação que vai mudando territorialmente ao longo do tempo, até se transformar no principal líder da esquerda brasileira. Lula sempre foi maior do que o PT, e principalmente ao longo de seu segundo governo foi gradativamente se afastando do partido que fundou e ganhando dimensões de líder populista dos maiores que o Brasil já teve. O lulismo passou a ser uma força política baseada nos programas assistencialistas, na classe média ascendente e no carisma de Lula, que passou a ter oPT apenas como instrumento de sua vontade.
(Trechos do prefácio do livro “O lulismo no poder”, lançado em setembro deste ano pela Editora Record)
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