Só com a progressiva retomada em agosto dos trabalhos do Senado e da Câmara, depois do recesso de julho, será possível medir-se com alguma precisão as repercussões no conjunto da base governista no Congresso do desmonte do controle do ministério dos Transportes pela cúpula do PR. Bem como se a presidente Dilma Rousseff parara com a demissão do ministro Alfredo Nascimento e dos dirigentes do DNIT e da Valec sua ofensiva moralizadora do governo (curiosamente até agora apenas como resposta a denúncias da imprensa), ou se a estenderá a órgãos da máquina federal ocupados por representantes de outros partidos, especialmente do principal aliado, o PMDB, nesta hipótese subestimando advertências do antecessor sobre os riscos de erosão da referida base. Esta semana – no contexto de férias parlamentares – cabe tratar das complicações da economia, que se traduzem num leque de indicadores negativos do desempenho este ano, e em projeções do adensamento deles em 2012. Independentemente das implicações de possível, mas improvável, desencadeamento de uma crise na economia dos EUA com a persistência do impasse entre o governo Obama e a maioria de republicanos na Câmara de Representantes.
Seguem-se alguns desses maus indicadores da relação da nossa economia com o Palácio do Planalto, no primeiro semestre do governo Dilma. A forte valorização do Real exacerba os problemas restritivos de nossas exportações industriais e de serviços. A continuidade do aumento das despesas de custeio – em torno de 12% em relação à disparada delas promovida no ano eleitoral de 2010, desqualifica a promessa formal e reiterada da nova presidente de que iria reduzi-las; promessa combinada com outra igualmente desmentida – a de preservação do nível de investimentos, que teve queda significativa crescendo apenas 1,5%. Por outro lado, reforçam-se as avaliações relativas à inflação e ao PIB deste ano, também contrapostas às do governo: de que a primeira tende a situar- se além do limite de tolerância da meta, de 6,5% (o que vai alimentando um processo de reindexação) e de que o crescimento será inferior a 4% (de 3,8% segundo pesquisa da CNI divulgada ontem). O presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, já admitiu – praticamente antecipando – uma elevação do preço dos combustíveis. E voltam a circular informações de que o Planalto terminará partindo para a recriação da CPMF (ou adoção de imposto semelhante).
Quanto ao desempenho em 2012, a pesquisa Focus feita semanalmente pelo Banco Central e divulgada anteontem, mudou a estimativa de inflação de 5,2% para 5,8% constituindo mais um indicador da inviabilidade do objetivo de retorno, até o final do próximo ano, do índice ao centro da meta de 4,5%. E tal estimativa dificilmente resistirá ao impacto e aos desdobramentos do salto das despesas, a partir do início de 2012, decorrentes do aumento de 14% do salário mínimo e dos seus efeitos nas contas da Previdência, bem como nos custos dos serviços em geral. Cabendo lembrar que parte desses efeitos afetará as finanças dos estados e municípios. Isso tudo sob as pressões por mais gastos de um governo petista, num ano eleitoral.
Lula, Alckmin e as prévias
Os principais adversários na disputa eleitoral paulistana de 2012, o expresidente Lula e o governador Geraldo Alckmin, têm também posturas divergentes quanto à realização de prévias no processo de indicação dos candidatos a prefeito, do PT e do PSDB. Lula é contrário com o argumento de que acirram os conflitos entre os pré-candidatos, dificultando a necessária unidade na fase decisiva da disputa; e, de fato, pelo motivo de que elas atrapalham seu papel, como maior liderança petista, de condutor do processo. Da escolha do nome à montagem de alianças (tendo em vista já um 2º turno), com o tratamento da campanha como etapa dos objetivos maiores, projetados para 2014, de derrota da hegemonia tucana no estado de São Paulo e da eleição presidencial, em que poderá voltar a ser protagonista. Já para o governador Alckmin, a defesa das prévias associa-o, bem como o PSDB, à democratização das decisões partidárias, com bons dividendos na opinião pública. E a realização delas – num cenário em que ele conta com amplo apoio do conjunto do partido no estado e na capital – terá dupla utilidade. De um lado, a provável indicação de um pré-candidato afinado com o Palácio dos Bandeirantes. De outro, a de reduzir sua dependência de uma definição de José Serra (se assumirá ou não a candidatura), com a geração de alternativa capaz de forçar tal definição. Que, Alckmin segue torcendo para que seja positiva.
Jarbas de Holanda é jornalista
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