A troca ministerial prevista para as próximas semanas movimenta a disputa entre os partidos. Além de brigar pela indicação dos filiados, legendas estão de olho na verba disponível para investimentos. O PT, por enquanto, está com a maior fatia
Paulo de Tarso Lyra
Uma disputa de R$ 63,23 bilhões envolvendo sete legendas terá que ser administrada pela presidente Dilma Rousseff neste início de ano. É esse o volume total destinado a investimentos nos ministérios comandados pelos sete principais partidos que compõem a base de apoio do governo federal. Tanto dinheiro em jogo só aumenta a angústia dos aliados diante do silêncio da presidente Dilma Rousseff quanto à reforma em si. Em pleno ano eleitoral, com disputas municipais nos grandes centros e nos discretos grotões brasileiros, chefiar pastas com orçamentos vultosos torna-se sinônimo de prestígio e força para 2014.
O apetite foi ainda mais atiçado pela própria presidente, ao avisar a integrantes da equipe econômica que em 2012 pretende soltar as rédeas dos investimentos em obras de infraestrutura. Preocupada em evitar uma paralisia do governo diante da crise internacional, Dilma calcula que o PIB poderá crescer 5% neste ano. Mas, a partir de julho, o acelerador será ativado para que o país possa entrar numa rota de crescimento que permita 6% de acréscimo na economia.
Embora existam discursos públicos de respeito mútuo entre os partidos, eles trocam caneladas nos bastidores em busca de mais espaço. Maior partido no Congresso, com mais senadores e a segunda bancada da Câmara, os peemedebistas choramingam há um ano que Dilma encolheu a legenda na Esplanada. Da boca para fora, ressaltam a presença do vice-presidente Michel Temer no condomínio presidencial. Internamente, resmungam do presente, olham com nostalgia para os tempos do governo Lula e sofrem com a falta de perspectivas de futuro na máquina pública federal.
O PMDB tem quatro ministérios mais a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), vinculada à presidência da República. O maior deles é Minas e Energia, comandado pelo senador Edison Lobão, afilhado político do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A pasta tem obras importantes a administrar no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas a maior parte dos recursos para as obras está espalhada pelas subsidiárias do setor elétrico.
Somadas todas as pastas que administra, os peemedebistas contam com um orçamento total de R$ 4,1 bilhões para investimentos. Na ponta do lápis, o passado já foi mais generoso com a legenda. Ao término do governo Lula, em 2010, o partido administrava o Ministério da Saúde (orçamento de R$ 9,49 bilhões previstos para 2012); Integração Nacional (R$ 6,076 bilhões) e Defesa (R$ 9,127 bilhões).
Para tentar diminuir o prejuízo, a sigla já decidiu escalar o próprio vice-presidente Michel Temer, que recentemente fez uma cirurgia para retirar a vesícula, como negociador com a presidente Dilma Rousseff em busca de um novo patamar de atuação do partido na Esplanada. Os correligionários de Temer sabem que não vão recuperar duas pastas: a Saúde, hoje comandada pelo petista Alexandre Padilha, e a Defesa, que tem à frente o chanceler Celso Amorim, nomeado após o antecessor Nelson Jobim falar o que não devia sobre suas convicções eleitorais.
Integração Nacional
Em meio à turbulência política vivida pelo ministro Fernando Bezerra nos últimos dias, a Integração Nacional, contudo, ainda interessa ao PMDB. O partido tenta provar que não, por meio de mensagens no Twitter do líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves, declarando apoio público ao PSB. Os socialistas, contudo, não acreditam. "Eles já nos disseram que vão tentar nos derrubar junto à presidente Dilma. Não é uma questão de fogo amigo, pois nunca fomos amigos do PMDB", disse ao Correio um dirigente do PSB.
Integrantes do PMDB tentam afirmar que a Integração Nacional é um amor de verões passados. Desdenham a pasta dizendo que a maior parte das verbas está emperrada nas obras de Transposição do São Francisco. E que a nova paixão é o Ministério das Cidades e seu polpudo orçamento: R$ 8,92 bilhões. Não ficariam tristes, contudo, se herdassem o Ministério dos Transportes e seu caixa de pouco mais de R$ 17 bilhões.
Só que essas duas pastas são controladas por partidos que só contam com elas para se sentirem presentes na máquina pública federal: PR (Transportes) e PP (Cidades). Os dois têm algo mais em comum: Alfredo Nascimento era ministro dos Transportes e foi um dos abatidos na revoada ministerial do ano passado. Agora, em janeiro, 9 em cada 10 entrevistados asseguram que Mário Negromonte limpará as gavetas no Ministério das Cidades.
As coincidências não param por aí. Alfredo deu lugar a Paulo Sérgio Passos, filiado ao PR, mas técnico demais para o gosto dos republicanos. Desde a substituição, não se passa uma semana sem que as lideranças do partido reclamem com a ministra Ideli Salvatti que já cumpriram seu período de expiação e que está na hora de o partido ser novamente ouvido na indicação de um ministro. Enquanto isso, no PP, a luta é para que a saída de Negromonte não signifique a ressurreição de Márcio Fortes, técnico amado por Dilma e detestado por senadores e deputados pepistas. Eles torcem por um nome de consenso político, como o deputado Márcio Reinaldo (MG), relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2012.
O PT está quietinho, já que tem o maior naco de poder e recursos da Esplanada. Pode perder a Ciência e Tecnologia (orçamento de R$ 1,7 bilhão) com a ida de Aloizio Mercadante para o Ministério da Educação e uma possível indicação de Ciro Gomes para o seu lugar. Mas insinuam que, se a presidente quiser, não reclamariam em desalojar o PP de Cidades. "Achamos que isso não vai dar certo, mas não custa enviar sinais para o Planalto", brincou uma liderança petista.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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