segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Pressionado, Bezerra dirá a Dilma que quer ficar no cargo

O ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração) dirá a Dilma Rousseff, se a presidente questioná-lo, que prefere ficar no cargo a se candidatar a prefeito do Recife, relata Marta Salomon. Bezerra, que favoreceu Pernambuco com verbas antienchente, não acredita que será demitido - o governador Eduardo Campos (PSB-PE), aliado do Planalto, é seu padrinho político

Cobrado por Dilma, ministro da Integração descarta plano eleitoral e fica no cargo

Marta Salomon

BRASÍLIA - A candidatura a prefeito de Recife em outubro é um plano quase descartado na cabeça do ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho, há seis dias tentando explicar o favorecimento a Pernambuco no repasse de verbas antienchentes. Na reunião prevista para esta segunda-feira, 9, com a presidente Dilma Rousseff, Coelho dirá, se perguntado, que prefere continuar no cargo de ministro responsável pela defesa civil, pela polêmica transposição do Rio São Francisco e pelo novo programa de irrigação que o governo está para lançar.

O encontro foi combinado em telefonema da presidente ao ministro na sexta-feira. Bezerra Coelho passou a informação adiante no Twitter. Ele começava dizendo no microblog: "Muito trabalho pela frente". O ministro deverá ter de explicar as ações que sua pasta está elaborando para evitar enchentes, mas terá também de falar sobre a denúncia de nepotismo publicada pelo Estado, que criou desconforto ao governo. Mas ele não acredita que perderá o cargo na Esplanada.

O raciocínio é reforçado pela operação deflagrada pela própria presidente na sexta-feira, quando acionou a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para defender o repasse de verbas federais para Pernambuco, Estado governado por Eduardo Campos (PSB). O governador é padrinho político do ministro e aliado importante não apenas pelos votos que detém no apoio ao governo no Congresso, mas pelo peso nas articulações para 2014, ano de eleição presidencial.

"Estão interpretando como bairrismo uma mudança de paradigma", argumentou a ministra, defendendo a construção de barragens para impedir cheias no Rios Una e Sirinhaém, considerada por ela uma solução "definitiva" para as enchentes em Pernambuco e Alagoas.

Miriam Belchior deu razão ao colega da Integração até por ter lançado mão de uma medida provisória que autorizava gastos extras para conter efeitos das enchentes no Sul e no Sudeste para garantir os R$ 50 milhões necessários ao início das obras em seu Estado. "O dinheiro não estava carimbado, a Integração não fez nada de irregular, foi uma solução técnica", alegou a ministra do Planejamento na sexta-feira.

Para combater a blindagem do governo a Bezerra, a oposição quer levar o caso para a esfera jurídica. O líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), disse que vai entrar com representação na Procuradoria-Geral da República na terça-feira. "O governo pode blindá-lo politicamente. Juridicamente, no entanto, ele tem de prestar contas."

Além disso, o favorecimento no repasse de verbas para Pernambuco será avaliado pela Comissão de Ética Pública, ligada à Presidência da República. A primeira reunião do ano da comissão está prevista para fevereiro.

Domicílio. Antes de a crise na Integração estourar, os planos de Bezerra para 2012 estavam amarrados ao calendário eleitoral. Além de cacifar a candidatura do filho a prefeito em Petrolina, o ministro mudou o domicílio eleitoral para Recife e colocou-se como pré-candidato na capital. Era uma manobra para conter o apetite do PT sobre o feudo de Eduardo Campos.

Em conversa com o Estado pouco antes de a crise vir a público, o ministro afirmou que preferia ficar no governo. Disse que a decisão dependeria de um gesto do PT, previsto para fevereiro, no sentido de manter a aliança com o PSB, inclusive para a sucessão presidencial de 2014. "Acho que o PT está muito atento de que é preciso estarmos unidos em 2012 para que não haja surpresa em 2014. Não vamos ficar sem carta para jogar o jogo, e a construção de agora gera um compromisso em torno da reeleição da Dilma, ou se for o Lula."

O ministro supunha que Campos é um aliado que Dilma tentaria "prestigiar". O desfecho da crise vai mostrar se o raciocínio de Bezerra fazia sentido.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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