Instituições privadas perderam em março ainda mais mercado para Banco do Brasil
e Caixa Econômica
Os povos dos mercados venderam ontem ações dos bancos brasileiros.
Derrubaram assim seus preços e, por tabela, a Bovespa.
O mercado faz muxoxo porque o lucro dos bancos caiu no primeiro trimestre e
não deve ser muito melhor até ao menos a metade do ano.
Aumentou o risco de calote, e o governo Dilma Rousseff faz campanha para
diminuir o ganho das instituições. O "efeito Dilma" nem apareceu
ainda nas estatísticas -deve pesar mais a partir de abril.
A inadimplência já pesou, e os banqueiros tiveram de colocar mais dinheiro
de lado a fim de cobrir possíveis perdas. O mercado estima que a inadimplência
não vai baixar bastante tão cedo. Em março, os números de atrasos de pagamentos
apenas pararam de piorar, segundo os dados consolidados e divulgados ontem pelo
Banco Central.
Mas os "spreads" foram menores já em março. Isto é, diminuiu a
diferença entre as taxas que os bancos cobram para emprestar e aquelas que
pagam para tomar emprestado. Mais muxoxo do mercado, dos donos do dinheiro, que
negociam o grosso das ações na Bolsa.
Apesar da quedinha de março, os "spreads" continuam tão altos
quanto em setembro de 2011. Foi em agosto que a Selic, a taxa
"básica" de juros da economia, começou a cair. Mas foi então que se
notou que a inadimplência era persistente.
O pessoal do Itaú, que divulgou anteontem balanço trimestral, disse que o
banco terá de ser mais seletivo na concessão de crédito e que vai ter de fazer
mais provisões ("reservar") para cobrir eventuais calotes. O Bradesco
atribui a pequena expansão do seu lucro também à necessidade de se proteger de
calotes.
Os bancos privados brasileiros estão mesmo seletivos, faz tempo. No balanço
geral do crédito divulgado ontem pelo BC, vê-se que o aumento do estoque de
crédito (dinheiro emprestado) das instituições privadas de capital nacional foi
de 13,9% em 12 meses. No caso dos bancos públicos, o avanço foi de 24,6%.
É uma diferença brutal. Mas, no conjunto do setor financeiro, o avanço do
crédito não acelera quase nada, embora ainda corra a boa velocidade, aumentando
19,3% nos últimos 12 meses.
Não é por causa do BNDES, que está emprestando menos porque a demanda do
setor privado vinha sendo fraca. Banco do Brasil e Caixa estão segurando a
peteca do crédito. Aliás, estão chutando a peteca para muito alto. Desde julho
do ano passado vêm roubando mercado dos bancos privados.
E daí?
Bem, o governo está feliz porque, na sua opinião, "dobrou" os
bancos privados, obrigou-os a baixar taxas de juros. Ainda é preciso ver quanto
dinheiro foi emprestado a taxas menores na estatística de abril. Porém, a
julgar pelas entrevistas de diretores e banqueiros na divulgação de balanços,
os grandes bancos privados brasileiros dificilmente vão "correr para a
galera".
Desde que começou a grande querela dos juros, os bancos privados dizem que
estão meio na retranca devido à inadimplência. O Banco Central acha que a
retranca foi excessiva, mas não exagera na crítica. O resto do governo pega
muito mais pesado com os bancões. Mas tal campanha vai fazer a banca privada jogar
mais no ataque? Ou os bancos estatais vão apenas compensar a retranca privada?
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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