quinta-feira, 26 de abril de 2012

Caso Cachoeira leva mais gente para a cadeia


Operação deflagrada pelo Ministério Público do Distrito Federal pôs atrás das grades um dos principais alvos da CPI mista que começou a funcionar no Congresso Nacional: Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta Construções no Centro-Oeste. Ele é acusado de ser integrante do esquema criminoso chefiado pelo bicheiro Carlos Cachoeira. Heraldo Puccini, outro diretor da empreiteira, em São Paulo, também teve a prisão preventiva decretada, mas até a noite de ontem não havia sido localizado. Entre os detidos estão Valdir dos Reis, ex-servidor do GDF, o vice-presidente da Câmara Municipal de Anápolis, vereador Wesley Silva (PMDB), e o lobista Dagmar Alves Duarte. Diálogos captados pela PF evidenciam que o grupo tramava para abocanhar um contrato de R$ 60 milhões com DFTrans

Ex-diretor da Delta é preso em ação do MP

Em desdobramento da Operação Monte Carlo, Ministério Público do DF apura articulação do grupo de Cachoeira para abocanhar o sistema de bilhetagem eletrônica no transporte público da capital

Ana Maria Campos, Erich Decat

No dia em que a CPI do Cachoeira começou oficialmente os trabalhos, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) deflagrou ontem a Operação Saint-Michel que levou à prisão um dos principais alvos da investigação no Congresso: o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste Cláudio Dias de Abreu. Outro executivo da empresa em São Paulo, Heraldo Puccini Neto, teve também a prisão preventiva decretada, mas até o fechamento desta edição era considerado foragido. As casas dos dois representantes da Delta foram alvo de ação de busca e apreensão. Promotores de Justiça e policiais civis do DF cumpriram mandados em Brasília, São Paulo, Goiânia e Anápolis no primeiro desdobramento da Operação Monte Carlo.

Entre os presos da Operação Saint-Michel está o vice-presidente da Câmara Municipal de Anápolis, vereador Wesley Silva (PMDB), um aliado e amigo de Carlinhos Cachoeira, um dos poucos políticos a acompanhar o enterro da mãe do contraventor na semana passada. A investigação do Núcleo de Combate às Organizações Criminosas do Ministério Público do DF provocou a prisão de outros dois suspeitos, Valdir dos Reis e Dagmar Alves Duarte. Eles foram citados em diálogos captados pela Polícia Federal, entre junho e agosto de 2011, durante as interceptações da Monte Carlo que apontaram um esquema de corrupção liderado por Cachoeira, com a influência do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).

Policiais federais separaram parte do inquérito que indica suspeita de articulação do grupo de Cachoeira para tentar expandir a influência econômica na capital do país. A Delta Construções, que já tem o contrato de coleta de lixo no Distrito Federal, tentava conquistar um outro negócio milionário, o sistema de bilhetagem eletrônica. Escutas da PF flagraram diálogos entre o bicheiro e um de seus assessores, Gleyb Ferreira da Cruz, sobre uma manobra com objetivo de abocanhar o contrato na área de transporte público coletivo no DF. De acordo com decisão do juiz Felipe de Oliveira Kersten, da 5ª Vara Criminal de Brasília, havia um plano para comprar software da empresa coreana EB CARD ou promover uma parceria entre esta e a Delta para entrar no ramo da bilhetagem eletrônica. "Os diálogos evidenciam que Carlinhos Cachoeira pretendia a todo custo que o serviço fosse prestado pela Delta, ante a estimativa de que o negócio movimentasse R$ 60 milhões por mês", ressaltou o juiz.

O magistrado apontou também que houve a intervenção de lobistas como Dagmar, o vereador Wesley e Valdir com o diretor administrativo do DFTrans, Milton Martins de Lima Júnior, para tentar se aproximar de funcionários públicos que poderiam influenciar diretamente o resultado de licitações no órgão, com acesso a detalhes de editais ou até mesmo à elaboração do contrato. Sob investigação, o diretor administrativo do DFTrans prestou depoimento ontem na Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado (Deco) da Polícia Civil e a sala dele foi alvo de busca. Ele, no entanto, não teve a prisão requerida pelo MP. "Ele está colaborando com as investigações", afirma o presidente do DFTrans, Marco Antônio Campanella.

Mandados


O diretor-geral da Polícia Civil, Jorge Xavier, explicou que a participação dos policiais da Deco se limitou ao cumprimento dos mandados de busca e apreensão e de prisão expedidos pela Justiça a pedido do Ministério Público. Ele não quis entrar em detalhes da investigação, mas considerou em entrevista a jornalistas no Palácio do Buriti que não houve crime contra a administração pública porque nenhum dos presos preventivamente integra os quadros do GDF. Valdir dos Reis, que seria servidor público, deixou o cargo em 31 de dezembro de 2010. Os promotores, no entanto, investigam o envolvimento de outros servidores do Executivo local em crime de tráfico de influência.


Preso em Goiânia, onde reside, Cláudio Abreu chegou a Brasília conduzido por agentes da Polícia Civil, no banco de trás de um carro. Ele recebeu a visita do advogado, Ricardo Pagliuso. "O que eu vi da decisão é que não há nada específico contra o Cláudio que justifique uma medida dessa ordem", ressaltou o defensor. Abreu foi conduzido ontem ao Departamento de Polícia Especializada (DPE) onde passou por exame de corpo de delito e deve ficar detido até amanhã, quando será transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda. A advogada do vereador Wesley Silva, Mayra Victoy, negou participação do político no suposto esquema. "Wesley Silva foi citado por terceiros na interceptação", disse. "O que existe é apenas uma amizade com várias pessoas", acrescentou.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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