Operação deflagrada
pelo Ministério Público do Distrito Federal pôs atrás das grades um dos
principais alvos da CPI mista que começou a funcionar no Congresso Nacional:
Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta Construções no Centro-Oeste. Ele é acusado
de ser integrante do esquema criminoso chefiado pelo bicheiro Carlos Cachoeira.
Heraldo Puccini, outro diretor da empreiteira, em São Paulo, também teve a
prisão preventiva decretada, mas até a noite de ontem não havia sido
localizado. Entre os detidos estão Valdir dos Reis, ex-servidor do GDF, o
vice-presidente da Câmara Municipal de Anápolis, vereador Wesley Silva (PMDB),
e o lobista Dagmar Alves Duarte. Diálogos captados pela PF evidenciam que o
grupo tramava para abocanhar um contrato de R$ 60 milhões com DFTrans
Ex-diretor da Delta
é preso em ação do MP
Em desdobramento da Operação Monte Carlo, Ministério Público do DF apura
articulação do grupo de Cachoeira para abocanhar o sistema de bilhetagem
eletrônica no transporte público da capital
Ana Maria Campos, Erich Decat
No dia em que a CPI do Cachoeira começou oficialmente os trabalhos, o
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) deflagrou ontem a
Operação Saint-Michel que levou à prisão um dos principais alvos da
investigação no Congresso: o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste Cláudio Dias
de Abreu. Outro executivo da empresa em São Paulo, Heraldo Puccini Neto, teve
também a prisão preventiva decretada, mas até o fechamento desta edição era
considerado foragido. As casas dos dois representantes da Delta foram alvo de
ação de busca e apreensão. Promotores de Justiça e policiais civis do DF
cumpriram mandados em Brasília, São Paulo, Goiânia e Anápolis no primeiro
desdobramento da Operação Monte Carlo.
Entre os presos da Operação Saint-Michel está o vice-presidente da Câmara
Municipal de Anápolis, vereador Wesley Silva (PMDB), um aliado e amigo de
Carlinhos Cachoeira, um dos poucos políticos a acompanhar o enterro da mãe do
contraventor na semana passada. A investigação do Núcleo de Combate às
Organizações Criminosas do Ministério Público do DF provocou a prisão de outros
dois suspeitos, Valdir dos Reis e Dagmar Alves Duarte. Eles foram citados em
diálogos captados pela Polícia Federal, entre junho e agosto de 2011, durante
as interceptações da Monte Carlo que apontaram um esquema de corrupção liderado
por Cachoeira, com a influência do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).
Policiais federais separaram parte do inquérito que indica suspeita de
articulação do grupo de Cachoeira para tentar expandir a influência econômica
na capital do país. A Delta Construções, que já tem o contrato de coleta de
lixo no Distrito Federal, tentava conquistar um outro negócio milionário, o
sistema de bilhetagem eletrônica. Escutas da PF flagraram diálogos entre o
bicheiro e um de seus assessores, Gleyb Ferreira da Cruz, sobre uma manobra com
objetivo de abocanhar o contrato na área de transporte público coletivo no DF.
De acordo com decisão do juiz Felipe de Oliveira Kersten, da 5ª Vara Criminal
de Brasília, havia um plano para comprar software da empresa coreana EB CARD ou
promover uma parceria entre esta e a Delta para entrar no ramo da bilhetagem
eletrônica. "Os diálogos evidenciam que Carlinhos Cachoeira pretendia a
todo custo que o serviço fosse prestado pela Delta, ante a estimativa de que o
negócio movimentasse R$ 60 milhões por mês", ressaltou o juiz.
O magistrado apontou também que houve a intervenção de lobistas como Dagmar,
o vereador Wesley e Valdir com o diretor administrativo do DFTrans, Milton
Martins de Lima Júnior, para tentar se aproximar de funcionários públicos que
poderiam influenciar diretamente o resultado de licitações no órgão, com acesso
a detalhes de editais ou até mesmo à elaboração do contrato. Sob investigação,
o diretor administrativo do DFTrans prestou depoimento ontem na Divisão
Especial de Combate ao Crime Organizado (Deco) da Polícia Civil e a sala dele
foi alvo de busca. Ele, no entanto, não teve a prisão requerida pelo MP.
"Ele está colaborando com as investigações", afirma o presidente do
DFTrans, Marco Antônio Campanella.
Mandados
O diretor-geral da Polícia Civil, Jorge Xavier, explicou que a participação dos
policiais da Deco se limitou ao cumprimento dos mandados de busca e apreensão e
de prisão expedidos pela Justiça a pedido do Ministério Público. Ele não quis
entrar em detalhes da investigação, mas considerou em entrevista a jornalistas
no Palácio do Buriti que não houve crime contra a administração pública porque
nenhum dos presos preventivamente integra os quadros do GDF. Valdir dos Reis,
que seria servidor público, deixou o cargo em 31 de dezembro de 2010. Os
promotores, no entanto, investigam o envolvimento de outros servidores do
Executivo local em crime de tráfico de influência.
Preso em Goiânia, onde reside, Cláudio Abreu chegou a Brasília conduzido por
agentes da Polícia Civil, no banco de trás de um carro. Ele recebeu a visita do
advogado, Ricardo Pagliuso. "O que eu vi da decisão é que não há nada
específico contra o Cláudio que justifique uma medida dessa ordem",
ressaltou o defensor. Abreu foi conduzido ontem ao Departamento de Polícia
Especializada (DPE) onde passou por exame de corpo de delito e deve ficar
detido até amanhã, quando será transferido para o Complexo Penitenciário da
Papuda. A advogada do vereador Wesley Silva, Mayra Victoy, negou participação
do político no suposto esquema. "Wesley Silva foi citado por terceiros na
interceptação", disse. "O que existe é apenas uma amizade com várias
pessoas", acrescentou.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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