quinta-feira, 26 de abril de 2012

O possível derretimento do PSD:: Jarbas de Holanda


Gerado a partir de uma divisão do DEM dirigida pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e atraindo grande parte de suas bancadas federais, estaduais e municipais, bem como prefeitos e um dos dois governadores da legenda (o de Santa Catarina, Raimundo Colombo), o PSD logo se configurou como instrumento muito útil ao governo Dilma e ao ex-presidente Lula para debilitamento, ainda maior, da oposição. Por isso tendo sua montagem em escala nacional se processado com decisivo apoio de lideranças petistas em vários estados, com destaque para o governador Jacques Wagner, da Bahia.
E, em face do sucesso e da amplitude dessa montagem – exemplifica-das pela adesão inicial da senadora Katia Abreu, expres-siva liderança ruralista, seguida da do governador do Amazonas, Omar Azis, de par com a formação da quarta maior bancada na Câmara dos Deputados -, a nova legenda passou a ser avaliada, por alguns analistas, até como peça significativa de um realinhamento das forças partidárias. No qual ela cumpriria, entre outras funções, a de reduzir crescentemente a dependência do Palácio do Planalto ao PMDB, substituindo-o no respaldo ao Executivo no Congresso.
Tais configuração e perspectivas sofreram, porém, um primeiro e forte contratempo com a decisão do tucano José Serra de participar como candidato do pleito para a prefeitura de São Paulo. Isso num contexto em que o maior dirigente do PSD, Gilberto Kassab, tinha o reiterado compromisso de apoio a ele, numa disputa que Lula tornara ainda importante ao lançar a candidatura do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, como etapa da conquista pelo PT em 2014 do governo estadual paulista, principal cidadela do PSDB. A postura pró-candidatura Serra, que surpreendeu Kassab mas foi de pronto e segue sendo plenamente assumida por ele, ademais de complicar o projeto paulistano de Lula (baseado numa aliança com o prefeito que facilitasse o acesso ao eleitorado tradicionalmente hostil ao petismo, e tendo em vista uma articulação dos governos federal e municipal contra o candidato do governador Geraldo Alckmin) dificultou sobremaneira o preparo de alianças entre o PSD e o PT para as eleições municipais em vários estados. E travou o relacionamento do novo partido com o lulopetismo no Congresso. Um e outro processos afetados pelos efeitos do distanciamento e do choque na disputa da prefeitura mais relevante do país.
Um segundo e mais importante golpe que o PSD poderá sofrer será o de uma decisão – provavelmente hoje ou amanhã, mais ainda transferível e com algum grau de incerteza – do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estabelecendo que só partidos com votos recebidos em eleições (e não formados com base em parlamentares eleitos por outras legendas) terão direito a recursos do Fundo Partidário além do mínimo de 5% destinado àqueles sem re-presentação no Congresso. Bem como precisando que só partidos com parlamentares eleitos para a atual legislatura poderão dispor de um tempo de propaganda eleitoral “gratuita” (no rádio e na televisão) equivalente ao peso de suas bancadas no legislativo federal. Decisão que, se adotada, confirmaria o voto do relator da matéria, ministro Marcelo Ribeiro, e reduziria o PSD a um partido nanico, sem condições de negociar alianças eleitorais.
Duas reações já são previstas a uma decisão desse tipo. A perda, rápida, pelo PSD de grande parcela das adesões que recebeu de parlamentares federais, estaduais e municipais. E o desencadeamento pela cúpula da alternativa de deslocar as desfiliações controláveis para o PSB, com a troca do ambicioso projeto original pelo de um papel, menor, de respaldo à afirmação como liderança nacional do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Jarbas de Holanda, jornalista

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