A Polícia Civil de
Brasília prendeu ontem Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta no Centro-Oeste, que
foi demitido do cargo após escutas da PF revelarem sua ligação com o grupo de
Carlinhos Cachoeira. Minutos após a divulgação da prisão, o dono da empresa,
Fernando Cavendish, anunciou seu afastamento da presidência.
Ex-diretor
regional da Delta ligado a Cachoeira é preso em Brasília
Cláudio Abreu foi flagrado em negociações para fraudar licitação milionária
Roberto Maltchik
BRASÍLIA. Elo entre a máfia dos caça-níqueis e a Delta Construções, o
ex-diretor da empreiteira no Centro-Oeste Cláudio Abreu foi preso ontem pela
Polícia Civil de Brasília, num desdobramento da Operação Monte Carlo. A ação -
deflagrada em Goiás, Brasília e São Paulo - também resultou na prisão de um
vereador de Anápolis (GO), berço do esquema de Carlinhos Cachoeira, e de outras
duas pessoas, incluindo um ex-servidor do governo do Distrito Federal.
Outro diretor da Delta, em São Paulo, teve a prisão preventiva decretada,
mas não havia sido encontrado pela polícia até o início da noite.
A Operação Saint-Michel, determinada pela Justiça de Brasília a pedido do
Ministério Público, teve como objetivo impedir que o grupo de Carlinhos
Cachoeira obtivesse vantagens em contrato milionário de prestação de serviços
de bilhetagem eletrônica no transporte coletivo. Cachoeira determinou a
integrantes da organização, em interceptações telefônicas feitas pela Polícia
Federal, para que atuassem junto ao governo e permitissem à Delta vencer a
licitação, cujo edital ainda não foi lançado.
Além das prisões, os policiais apreenderam documentos e arquivos de
computador, inclusive no Departamento de Trânsito do Distrito Federal
(Dftrans). Cláudio Abreu foi indiciado por corrupção e por associação ao grupo
de Carlinhos Cachoeira.
O ex-diretor da Delta integrava o "clube Nextel", rede de
interlocutores do contraventor que recebeu o aparelho habilitado nos Estados
Unidos para dificultar a ação policial. O relatório da Operação Monte Carlo,
lançada em fevereiro pela PF, é farto em evidências da ligação do ex-executivo
ao bicheiro.
A PF afirma que Cláudio Abreu, além de negociar contratos em nome da Delta e
da organização criminosa, determinava o destino de dinheiro que saía da conta
de empresas de fachada, abastecidas com recursos da construtora. Ele foi
demitido pela Delta, depois da Monte Carlo.
Em São Paulo, a Justiça determinou a prisão do diretor Heraldo Puccini Neto,
que não foi encontrado. Em Anápolis, a Polícia Civil prendeu o vereador Wesley
Silva (PMDB), amigo de Carlinhos Cachoeira. Ao GLOBO, há duas semanas, o
vereador se vangloriava da estreita relação com a família Cachoeira. Outro
detido na operação foi o ex-servidor do governo do DF Valdir Reis e Dagmar
Alves Duarte, ambos flagrados nas gravações feitas pela PF com autorização
judicial.
Abreu foi preso em casa, em um condomínio de luxo em Goiânia (GO). Segundo a
polícia, era um dos artífices da operação para ganhar a concorrência da
bilhetagem eletrônica, um contrato de R$ 6 milhões ao ano. O ex-executivo
chegou a manter reuniões com integrantes da administração do DF, como o
secretário de Saúde, Rafael Barbosa.
O porta-voz do governo, Ugo Braga, disse que a operação comprova as inúmeras
tentativas feitas por Cachoeira para ganhar dinheiro em contratos públicos do
Distrito Federal.
- Ele tentou, de várias formas, fazer negócios com o GDF. Porém, fracassou
em todas - afirmou o porta-voz.
O advogado de Abreu pretende ingressar ainda hoje com pedido de habeas
corpus, sob o argumento de que não havia motivo para a prisão do cliente.
- Nem mesmo a Operação Monte Carlo pediu a prisão dele. Não é narrado nenhum
fato nessa operação que o envolva, e ele não tem intenção de deixar o país -
diz o advogado Roberto Pagliuso.
FONTE: O GLOBO
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