quinta-feira, 26 de abril de 2012

Preso diretor da Delta; dono deixa presidência


A Polícia Civil de Brasília prendeu ontem Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta no Centro-Oeste, que foi demitido do cargo após escutas da PF revelarem sua ligação com o grupo de Carlinhos Cachoeira. Minutos após a divulgação da prisão, o dono da empresa, Fernando Cavendish, anunciou seu afastamento da presidência.

Ex-diretor regional da Delta ligado a Cachoeira é preso em Brasília

Cláudio Abreu foi flagrado em negociações para fraudar licitação milionária

Roberto Maltchik

BRASÍLIA. Elo entre a máfia dos caça-níqueis e a Delta Construções, o ex-diretor da empreiteira no Centro-Oeste Cláudio Abreu foi preso ontem pela Polícia Civil de Brasília, num desdobramento da Operação Monte Carlo. A ação - deflagrada em Goiás, Brasília e São Paulo - também resultou na prisão de um vereador de Anápolis (GO), berço do esquema de Carlinhos Cachoeira, e de outras duas pessoas, incluindo um ex-servidor do governo do Distrito Federal.

Outro diretor da Delta, em São Paulo, teve a prisão preventiva decretada, mas não havia sido encontrado pela polícia até o início da noite.

A Operação Saint-Michel, determinada pela Justiça de Brasília a pedido do Ministério Público, teve como objetivo impedir que o grupo de Carlinhos Cachoeira obtivesse vantagens em contrato milionário de prestação de serviços de bilhetagem eletrônica no transporte coletivo. Cachoeira determinou a integrantes da organização, em interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal, para que atuassem junto ao governo e permitissem à Delta vencer a licitação, cujo edital ainda não foi lançado.

Além das prisões, os policiais apreenderam documentos e arquivos de computador, inclusive no Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Dftrans). Cláudio Abreu foi indiciado por corrupção e por associação ao grupo de Carlinhos Cachoeira.

O ex-diretor da Delta integrava o "clube Nextel", rede de interlocutores do contraventor que recebeu o aparelho habilitado nos Estados Unidos para dificultar a ação policial. O relatório da Operação Monte Carlo, lançada em fevereiro pela PF, é farto em evidências da ligação do ex-executivo ao bicheiro.

A PF afirma que Cláudio Abreu, além de negociar contratos em nome da Delta e da organização criminosa, determinava o destino de dinheiro que saía da conta de empresas de fachada, abastecidas com recursos da construtora. Ele foi demitido pela Delta, depois da Monte Carlo.

Em São Paulo, a Justiça determinou a prisão do diretor Heraldo Puccini Neto, que não foi encontrado. Em Anápolis, a Polícia Civil prendeu o vereador Wesley Silva (PMDB), amigo de Carlinhos Cachoeira. Ao GLOBO, há duas semanas, o vereador se vangloriava da estreita relação com a família Cachoeira. Outro detido na operação foi o ex-servidor do governo do DF Valdir Reis e Dagmar Alves Duarte, ambos flagrados nas gravações feitas pela PF com autorização judicial.

Abreu foi preso em casa, em um condomínio de luxo em Goiânia (GO). Segundo a polícia, era um dos artífices da operação para ganhar a concorrência da bilhetagem eletrônica, um contrato de R$ 6 milhões ao ano. O ex-executivo chegou a manter reuniões com integrantes da administração do DF, como o secretário de Saúde, Rafael Barbosa.

O porta-voz do governo, Ugo Braga, disse que a operação comprova as inúmeras tentativas feitas por Cachoeira para ganhar dinheiro em contratos públicos do Distrito Federal.

- Ele tentou, de várias formas, fazer negócios com o GDF. Porém, fracassou em todas - afirmou o porta-voz.

O advogado de Abreu pretende ingressar ainda hoje com pedido de habeas corpus, sob o argumento de que não havia motivo para a prisão do cliente.

- Nem mesmo a Operação Monte Carlo pediu a prisão dele. Não é narrado nenhum fato nessa operação que o envolva, e ele não tem intenção de deixar o país - diz o advogado Roberto Pagliuso.

FONTE: O GLOBO

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