quinta-feira, 26 de abril de 2012

Le Pen, fantasma também na Grécia:: Clóvis Rossi


Extrema direita usa a crise econômica na Europa para crescer além da pregação contra os imigrantes

ATENAS - Foi só puxar o tema "eleições" para que o taxista que me levava do aeroporto ao hotel, no centro de Atenas, mencionasse um fantasma, o de Marine Le Pen, a líder de extrema direita e estrela da votação francesa no domingo, cujo espólio é disputado pelos dois candidatos que passaram ao segundo turno.

"O Le Pen daqui também está indo para cima, para cima, para cima", diz o taxista.

Refere-se a "Chrysi Avgi" (Aurora Dourada), o partido neofascista, criado pelos simpatizantes da ditadura dos coronéis que governou a Grécia entre 1967 e 1974.

Não que o partido possa roçar os 20% dos eleitores, como fez Le Pen. Mas pode, pela primeira vez, superar a barreira dos 3%, o que lhe abriria as portas do Parlamento na eleição do dia 6. Pesquisa publicada pelo jornal "Ethnos" dá à "Aurora Dourada" 5,2%, o que é espantosas 18 vezes mais do que o obtido na anterior eleição geral (2009).

Por isso, o partido neofascista já mexeu na agenda eleitoral.

Comenta Fragkiska Megaloudi, no "Neos Kosmos", o jornal da comunidade grega da Austrália:

"A agenda mudou dos sérios problemas sociais para a "ameaça" dos imigrantes ilegais e para a criação de centros de detenção".

A propósito, o ministro para a Proteção dos Cidadãos, o socialista Michalis Chrysochoidis, anunciou para a próxima semana a abertura do primeiro dos 30 centros de detenção para imigrantes sem documentos a serem abertos na Grécia.

Na verdade, há um certo exagero em dizer que a questão dos imigrantes roubou a agenda. Na Grécia como na França, a extrema direita enganchou no seu tradicional discurso xenófobo a agenda social que é a inquietação majoritária em ambos os países e no resto da Europa.

Sobre Marine Le Pen, comenta para "El País" Nonna Mayer, diretora de pesquisa do Centro de Estudos Europeu de Ciências Políticas e especializada no voto da extrema direita: "Le Pen também tem um forte discurso social. Quer um Estado forte, o regresso dos serviços públicos [afetados pelos ajuste orçamentário] e da aposentadoria aos 60 anos [Sarkozy elevou-a para 62 anos]. Tem um discurso de esquerda em questões sociais".

Vale para a França, vale para a Grécia, como escreve Emmanouela Seradakis para "The Greek Reporter": "Aurora Dourada está mais à esquerda do que a social-democracia no respaldo a generosos Estados de bem-estar, altos salários, aposentadorias. E, na medida em que a crise na eurozona se arrasta e as coisas ficam piores e piores para as pessoas comuns, a extrema direita obterá maiores e maiores porcentagens".

Vale também para boa parte da Europa, completa Emmanouela, para nada simpatizante do neofascismo: "Uma coisa é clara: a situação, com diversos extremistas, racistas, neonazis ou simplesmente profundos conservadores na Hungria, Suécia, Finlândia, Grécia, França etc., deveria fazer Bruxelas [a capital da Europa unificada] pensar".

É bom mesmo, antes que o ovo da serpente rompa a casca, até porque o "etc." da frase acima deveria abarcar também Holanda, Dinamarca e Itália, pelo menos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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