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Alvorada, ex-presidente diz que investigação é chance para PT atacar opositores
No mesmo dia em que a CPI
Mista do Cachoeira fez sua primeira reunião, o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva foi a Brasília para um encontro com a presidente Dilma Rousseff, no
Palácio do Alvorada, com a preocupação de unificar o discurso oficial sobre a
investigação. Durante cerca de quatro horas, os dois traçaram a estratégia de
como o governo e o PT devem proceder durante os trabalhos da comissão. Uma das
preocupações do ex-presidente é sepultar a ideia de que haja divergência entre
ele e Dilma. Lula repetiu sua tese de que esta é uma oportunidade de atacar
opositores que tanto trabalho lhe deram em sua gestão — ainda que seja preciso
sacrificar alguns aliados, como o governador do Distrito Federal, Agnelo
Queiroz.
Para
acertar os ponteiros da CPI
No primeiro dia da comissão sobre Cachoeira, Lula se reúne com Dilma e
ministros
Maria Lima
No primeiro dia de funcionamento da CPI mista do caso Cachoeira, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou quatro horas reunido com a
presidente Dilma Rousseff e alguns ministros, no Palácio da Alvorada, para
defender sua posição favorável à investigação e unificar o discurso do PT e do
governo no Congresso. Nas conversas de ontem, Lula repetiu sua tese de que a
investigação será a oportunidade de atacar os opositores do governo que estão
sob suspeita, ainda que isso represente eventuais perdas no próprio PT.
Paralelamente à reunião de Lula com Dilma, o presidente do PT, Rui Falcão,
teve reuniões com o governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), um dos alvos da
oposição na CPI Mista, e, depois, com parlamentares do partido que integram a
comissão, também para unificar o discurso. Falcão negou que o PT não esteja
apoiando Agnelo, mas, nos bastidores, já se fez o cálculo: se Agnelo tiver
problemas com Cachoeira, não terá como ser preservado.
À noite, no Congresso, os líderes petistas foram orientados pelo Palácio do
Planalto a ter sobriedade e conter os arroubos na CPI, mantendo o foco já
estabelecido. Delimitar, por exemplo, a investigação a contratos da Delta que
já estão sob suspeitas.
O ministro da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho, que esteve no almoço e é
considerado um interlocutor de Lula no Planalto, já estaria trabalhando para
convencer o ex-presidente a se acalmar e "tirar a faca dos dentes".
Um dos maiores temores do governo e do PT é em relação ao magoado ex-diretor
do Dnit Luiz Antonio Pagot, que pode comprometer o governo, ao escancarar
detalhes de contratos do Ministério dos Transportes com a construtora Delta.
Foi diante de argumentos como esses que Lula estaria moderando o tom beligerante
em relação à CPI.
Divergência sobre relator
Outra suposta divergência entre Lula e Dilma foi na escolha do relator da
CPI. Enquanto Lula brigou pela indicação do ex-líder Cândido Vaccarezza
(PT-SP), considerado incendiário, Dilma queria o líder do PT na Câmara Paulo
Teixeira (PT-SP). Com o impasse, a escolha recaiu sobre o mineiro Odair Cunha.
- A conclusão hoje é que a escolha do Odair Cunha para relator da CPI foi a
melhor, justamente por causa da sua sobriedade - disse um dos participantes da
reunião no Alvorada.
Oficialmente, Lula foi a Brasília para participar do lançamento do
documentário "Pela primeira vez", de Ricardo Stuckert, fotógrafo
oficial dos seus dois mandatos. O filme conta a passagem do poder dele para
Dilma. O lançamento ontem, no Museu da República, foi muito concorrido com a
presença de cerca de 20 ministros, além de ex- ministros como José Dirceu,
Márcio Thomaz Bastos e Franklin Martins - este último participou do almoço no
Alvorada.
Na chegada para ver o filme, Lula e Dilma evitaram falar com a imprensa.
Questionado se os dois haviam "acertado os ponteiros" na reunião que
tiveram mais cedo, Lula afirmou:
- Nosso relógio é suíço. Jamais ele vai ter que atrasar nem adiantar. Nós
nunca temos que acertar ponteiros.
Dilma desconversou ao ser questionada sobre o almoço que reuniu no Alvorada,
além de Lula e Gilberto Carvalho, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e
Mercadante (Ciência e Tecnologia). Em parte da reunião, Lula e Dilma falaram a
sós.
- Foi ótimo, a comida estava ótima - disse Dilma.
O ex-presidente foi a Brasília em jato fretado pelo Instituto Lula. O
aluguel estimado é de cerca de R$ 30 mil.
FONTE: O GLOBO
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