A requisição para
exame da CPI dos autos da Operação Vegas, iniciada pela Polícia Federal em 2007
e concluída no início de 2009, é tida como essencial por integrantes da
comissão mista já instalada para investigar as ramificações do chamado esquema
Cachoeira.
Considerada a “mãe”
da Operação Monte Carlo, que resultou na prisão do bicheiro Carlos Augusto
Ramos, pôs fim à carreira do personagem encarnado pelo senador Demóstenes
Torres e motivou a criação da CPMI, a Vegas pode levar à ampliação das
investigações para caminhos ainda não explorados.
Especialmente no
governo e no PT há evidente disposição a fazer carga sobre o procurador-geral
da República, Roberto Gurgel. A posição contrária do partido no momento é
tática.
Por todo lado que se
ande, com qualquer pessoa que se converse nos escalões elevados do Legislativo
e do Executivo surge sempre a pergunta: por que Gurgel não tomou providência
quando o inquérito da Vegas foi para o Ministério Público?
Ele poderia ter
arquivado, requerido novas investigações ou encaminhado o material para o
Supremo Tribunal Federal. Optou por não tomar nenhuma atitude e explicou que o
fez no aguardo da conclusão da Operação Monte Carlo.
Esta, porém, não
existia por ocasião da conclusão da primeira. Só começou em 2010.
Por isso a explicação
do procurador é considerada insatisfatória. Não se lançam suspeições sobre sua
conduta pessoal, mas existe sim a desconfiança de que alguma razão muito forte
pautou a paralisia.
Os de boa-fé
acreditam que o procurador simplesmente teria informações de que a PF iniciaria
uma nova operação e, por isso, resolveu aguardar.
Os de má-fé
disseminam a versão de que ele teria deliberadamente tentado proteger
Demóstenes Torres pelo fato de o senador ser oriundo do Ministério Público.
Argumento frágil, na
visão dos “neutros”, porém igualmente curiosos a respeito: se fosse levar a
questão esse lado, Roberto Gurgel teria mais motivos para expor que para
resguardar o senador que por diversas vezes o atacou publicamente.
No ambiente de
dúvidas, vicejam as especulações que só seriam dirimidas com eventual
convocação de Roberto Gurgel à CPMI. Não há nas conversas preliminares consenso
quanto a isso.
No governo existe
explícito desejo de que a comissão decida convocá-lo. Não se faz referência
aberta ao fato, mas a realidade é que o procurador não ficou exatamente bem
visto nesse setor ao ter qualificado no ano passado o mensalão como um “grave
atentado à democracia”.
Mas, deixando
retaliações de lado, sobram desconfianças de que a cautela do procurador-geral
possa indicar a existência de informações sobre contaminação do Poder
Judiciário, ou mesmo do Ministério Público, no inquérito da Vegas.
E se houver base
nessa suspeita, aí sim, haveria suporte para a ofensiva petista em defesa da
CPI como tentativa de misturar nesse caldo o mensalão e atrapalhar o julgamento
do processo.
Conjugado.
Os
trabalhos da CPI levarão seis meses. Terminam, portanto, em outubro, em cima
das eleições municipais. Observados critérios de seriedade, para usar o mantra
da estação, doerá em alguém.
No governo, na
oposição ou em ambos.
No
forno. Criada por lei aprovada no ano passado,
a Comissão da Verdade deverá ser finalmente constituída em maio. No governo
assegura-se que a demora nada tem a ver com a resistência de militares. Guarda,
antes, relação com questões políticas.
Provavelmente
relacionadas ao ajuste cirúrgico necessário à escolha dos sete nomes para o
equilíbrio de forças na composição do grupo.
Redundância.
Se
o enriquecimento é “ilícito”, a decisão da comissão de juristas que auxilia o
Senado na reforma do Código Penal de torná-lo crime é um pleonasmo.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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