Na economia, a levantadora Dilma agora joga contra o custo Brasil. Lançará, em 12 de setembro, as medidas destinadas a baratear a energia
Com as concessões de rodovias e ferrovias anunciadas ontem, o governo deu início a seu maior esforço para virar o jogo que vem perdendo na economia, afetada pela crise internacional. A linguagem sempre vai além de nossas intenções ou, talvez, tenha sido isso mesmo que a presidente Dilma quis dizer quando, num dos poucos improvisos de seu discurso escrito, homenageou as meninas da Seleção Brasileira de vôlei. Com alguma emoção, louvou a garra por elas demonstrada na partida que garantiu a medalha de ouro ao Brasil e a lição deixada: "Temos que persistir sempre e sermos capazes de virar mesmo depois de perder uma jogada". Dilma, na adolescência, jogou vôlei no colégio, atuando como levantadora. A causa determinante do crescimento quase zero do PIB no primeiro trimestre foi a crise, naturalmente. Mas ontem, na solenidade em que os empresários e os governadores eram as estrelas convidadas, havia quem visse na metáfora de "virar o jogo" uma admissão muito sutil de dois equívocos, ou demoras, no enfrentamento da crise: o foco inicial no estímulo ao consumo e a manutenção de um superavit primário elevado por tempo demais, face à conjuntura.
Mas, diante das medidas que focam o investimento e a solução de problemas estruturais da economia, como a infraestrutura, discutir esse leite eventualmente derramado é algo tão inútil quanto o tira-teima sobre privatização ou não, bom exercício para os que buscam acertar contas com as críticas que o PT fez no passado às privatizações do PSDB. Não para quem busca resultados. Um dos tucanos mais eminentes, o governador paulista, Geraldo Alckmin, estava lá, todo contente com os investimentos que seu estado receberá. Avalizou o discurso de Dilma, de que se trata de concessões, e não da venda de ativos, e repetiu dezenas de vezes que as medidas são corretas e têm todo seu apoio. Entre os empresários, Eike Batista era o mais exultante, louvando as mulheres do Brasil, "que nos deram a presidente Dilma e as valorosas meninas do vôlei".
Na economia, a levantadora Dilma agora joga contra o custo Brasil. Lançará, em 12 de setembro, as medidas destinadas a baratear a energia. Para os consumidores e para as empresas. Ela pretende mesmo antecipar a renovação das concessões que vencem em 2015 mediante garantias de tarifas mais baixas. Afinal, os investimentos já estão feitos, agora é só gerar e transmitir. Há um problema legal que terá de ser contornado. Em busca da solução jurídica, ela passou boa parte da tarde com o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Após a solenidade, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, vociferou novamente contra essa hipótese. O Planalto acha que ela está falando por si mesmo, não pelo conjunto dos empresários. Eles querem é menor tarifa. Duas semanas depois (e já estaremos bem perto da eleição de outubro), virá o pacote de concessões de portos e aeroportos.
Virar o jogo na economia depende de medidas ousadas, como essas, mas também de fatores incontroláveis, como a crise externa. Mas Dilma tem problemas também na política e na gestão, que serão comentados em outra coluna.
Segundo tempo no STF. Terminou ontem a fase de apresentação oral dos advogados de defesa no Supremo. As falas foram afinadas entre si, é verdade, mas cada um deles tinha como objetivo livrar seu cliente dos crimes que lhe foram imputados pelo procurador-geral. Todas tangenciaram a questão politicamente mais sensível para o legado do governo Lula: houve ou não compra de votos de deputados para garantir as votações do governo, o mensalão de R$ 30 mil mensais denunciado por Roberto Jefferson? Nem mesmo a defesa de José Dirceu concentrou-se nisso. A ênfase foi na acusação mais pesada, a de ter sido mentor e chefe de uma quadrilha. Dos 11 réus que eram deputados na época dos fatos, quatro eram do PT. Podem ter recebido para qualquer fim, mas não para votar com o governo do PT. Restaram sete, que receberam recursos e foram acusados de corrupção passiva, vale dizer, venderam o voto. Suas defesas sustentaram que receberam ajuda petista para saldar dívidas de campanha, mas não disseram o óbvio: para obter a maioria de 257 votos, a coalizão governista precisava de mais 106 deputados, não de apenas sete. Se outros foram corrompidos, precisam aparecer. A CPI ou o procurador estariam devendo isso.
Reconciliados? O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, veio a Brasília para o lançamento das concessões rodoferroviárias e teria ontem um encontro bilateral com a presidente Dilma. Garante que ficou tudo bem entre eles, depois da trepidação no lançamento de candidaturas. Até criticou o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, que, a seu ver, deveria ter avisado com antecedência à presidente que sua base partidária não aceitava a aliança com o PT. "Por isso, se ela participar pessoalmente da campanha em Belo Horizonte, eu vou compreender. Se ela não for a Recife, eu vou agradecer, pois eu apenas reagi a uma decisão unilateral do PT", diz ele. É cedo para saber aonde Dilma irá, dizem no palácio, embora seja certo que irá a Minas. Mas tanto lá quanto em algum outro estado, a conveniência de sua presença será avaliada uns 15 dias depois do início do horário eleitoral. Neste momento, os candidatos aliados já serão mais conhecidos pelo eleitorado e poderão lucrar com o apoio presencial.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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