José Maria Tomzalea e Lu Aiko Otta
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu na quarta-feira, 15, a posição da presidente Dilma Rousseff sobre a greve dos servidores federais, ao afirmar que o governo nem sempre pode atender às reivindicações. O ex-presidente destacou que Dilma "quer ajudar as pessoas mais pobres, que não têm salário". "É direito dos trabalhadores fazer greve, mas é direito do governo atender ou não", disse, após gravar para o horário eleitoral gratuito de candidatos do PT num hotel da zona sul de São Paulo.
A greve mobiliza no País cerca de 350 mil funcionários públicos de pelo menos 36 categorias. A direção do PT teme que as paralisações possam produzir impacto negativo nas eleições deste ano.
Na quarta, representantes do INSS e de inúmeras categorias de grevistas protestaram em frente ao Palácio do Planalto, fechando o trânsito no local. A manifestação, que entrou pela noite, obrigou a presidente a deixar o Palácio pelos fundos. Assim que os manifestantes tomaram a praça dos Três Poderes e avançaram em direção ao Planalto, a segurança foi engrossada pelo Batalhão de Choque, que chegou com escudos, armas em punho e cachorros. Os manifestantes carregavam faixas "Fora Dilma" e "queremos reajuste".
Para Lula, o governo está disposto ao diálogo, mas depende do Orçamento a ser votado. "As pessoas devem compreender que o governo não tem todo o dinheiro que a gente lá fora pensa que tem. O dinheiro é limitado."
Ele defendeu um acordo entre governo e trabalhadores e disse que as pessoas não podem perder a esperança porque sua sucessora na Presidência tem sensibilidade social e quer ajudar. Lula citou a crise internacional que afeta a Europa e outros países e lembrou que, embora o Brasil sofra menos, o País está inserido numa economia globalizada. "Ela (Dilma) tem outras coisas para fazer investimentos, como a infraestrutura, que é importante para melhorar a vida do povo."
O ex-presidente recordou que também enfrentou manifestações quando estava na Presidência e achava engraçado o fato, já que, como líder sindical, também liderou muitas greves. "Até entrei em passeata contra mim mesmo", brincou Lula.
Calendário. O governo negocia com os servidores públicos em greve para reduzir o valor dos pedidos de aumento, que somam R$ 92 bilhões. Na reunião que a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, teve na última segunda-feira, 13, com a presidente Dilma ficou sacramentado que o valor disponível para conceder reajustes é muito inferior ao pleiteado pelos servidores. A estratégia, então, é contar com o calendário para forçar os funcionários públicos a aceitar correções salariais mais modestas ou, em alguns casos, nada.
Pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), os reajustes salariais só podem ser pagos se o Executivo tiver enviado projeto de lei propondo os novos valores até o dia 31 de agosto do ano anterior. Esse é também o prazo máximo para envio da proposta do Orçamento para o ano seguinte, onde estará a previsão de gastos adicionais com salários.
"Não adianta manter greve depois do dia 31", disse o presidente da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Josemilton Costa. "A perspectiva legal de atender a algum pedido depois de fechado o orçamento é nenhuma."
O secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, destacou a necessidade de lidar com as especificidades de cada carreira. Segundo ele, qualquer aumento depende do "espaço orçamentário". Ontem, quatro horas de reunião não foram suficientes para resolver os impasses entre os técnicos administrativos das universidades e institutos federais e o governo.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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