Ex-presidente havia dito que não acompanharia sessões do mensalão
Jailton de Carvalho, Júnia Gama
UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA
BRASÍLIA . O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não está desinteressado do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), como tem tentado demonstrar desde as primeira sessões na Corte sobre o maior escândalo de corrupção de seus dois governos. Anteontem, Lula conversou por telefone com o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos para se informar sobre o andamento do caso. Advogado de José Roberto Salgado, um dos réus, Bastos fez uma análise geral da situação e elogiou as defesas apresentadas pelos colegas no plenário do tribunal. Para Bastos, as defesas foram técnicas, consistentes e podem ter efeito sobre os votos dos ministros.
Bastos é interlocutor de Lula para assuntos jurídicos desde que o ex-presidente emergiu como líder político no cenário nacional. Na semana passada, Lula afirmou que não acompanharia o julgamento:
- Tenho mais coisas para fazer do que isso. Quem tem de assistir são os advogados - disse, na ocasião.
Mesmo engajado na campanha do ex-ministro da Educação Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, Lula não resistiu à tentação de se informar sobre o julgamento. Três ex-ministros do ex-presidente estão no banco dos réus: José Dirceu (Casa Civil), Anderson Adauto (Transporte) e Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação) - esse último com pedido de absolvição já apresentado pelo Ministério Público Federal.
Também estão sendo julgados o ex-deputado José Genoino, atual assessor do Ministério da Defesa, e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, dois fundadores do partido. Até o início do escândalo, ambos eram próximos de Lula.
Gilberto Carvalho também ligou para Bastos
O julgamento desperta interesse no governo, mesmo depois da determinação da presidente Dilma Rousseff para que o assunto seja deixado em segundo plano. Ontem, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, ligou para Márcio Thomaz Bastos para lhe desejar boa sorte. O ex-ministro agradeceu a deferência e voltou rapidamente para a análise final da defesa do seu cliente, ex-diretor do Banco Rural.
Anteontem, Carvalho rompeu o silêncio dos líderes petistas sobre o mensalão e disse que o julgamento no STF não desgastaria o PT nas eleições municipais, como estariam apostando adversários do partido. O silêncio determinado por Dilma seria uma estratégia para diminuir a repercussão sobre o caso, considerado o maior escândalo do governo Lula.
Reforçando o discurso de Carvalho, petistas e aliados do governo que participaram ontem do lançamento do Plano de Prevenção de Acidentes Naturais disseram estar confiantes de que o julgamento não terá reflexos negativos para o governo nem para o PT. Cresceu nos últimos dias uma nova estratégia dos petistas, que é repetir à exaustão que o julgamento passará longe do governo e do resultado do partido nas eleições municipais de outubro.
- Como liderança do PT, eu vejo o julgamento e formo minha convicção, mas como ministro não me pronuncio - disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que, no entanto, não deixou de dar usa opinião: - O governo não será atingido em hipótese nenhuma. É uma questão afeta ao Poder Judiciário. O governo em nenhum momento será atingindo por nenhuma decisão judicial.
Perguntado se o julgamento poderia prejudicar os petistas nas eleições, o ministro também se manteve otimista:
- Acredito que não, mas é melhor perguntar para as lideranças do PT.
Eduardo Campos concorda com petistas
O governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), também presente à cerimônia comandada pela presidente Dilma, manteve o tom otimista. Afirmou ser possível que a oposição e os que são contra o PT queiram se valer do julgamento para prejudicar o partido, mas disse não acreditar em consequências nas urnas:
- Como tentativa de capitalização política, o mensalão já foi usado em três eleições anteriores - disse Déda, para se referir à vitória do PT nesses pleitos.
O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, aliado do PT em algumas capitais e adversário em outras nestas eleições, disse concordar que o governo Dilma não será afetado pelo julgamento:
- Não vejo como pessoas que não estão envolvidas diretamente possam ser afetadas. O Judiciário deve condenar duramente quem errou e inocentar quem não errou. Mas não podemos confundir as instituições com os personagens.
Na última terça-feira, ao comentar o julgamento, o secretário-geral da Presidência da República afirmou que aqueles que apostam no "desgaste do projeto político" iniciado no governo Lula, devido ao julgamento do mensalão, "se decepcionarão".
FONTE: O GLOBO
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