A inflação voltou a subir pela primeira vez desde outubro de 2011. As taxas estão bem mais baixas este ano, mas é bom lembrar que o IPCA está em 5,2% num país que está quase parado. Pelas projeções das instituições do mercado financeiro ouvidas pelo Banco Central, o PIB pode ser de apenas 1,85% em 2012. O país quer crescer forte em 2013, mas com a inflação sob controle.
O governo já fez dez pacotes e o ritmo do PIB tem ficado cada vez mais fraco. Desde o pico da produção, de maio de 2011, a indústria já encolheu 5,5%. O setor de bens de capital caiu 12% este ano, até junho, e 5,5% nos últimos 12 meses. A produção de bens duráveis também caiu 9,4% este ano.
O Banco Central tem atuado para manter o dólar mais alto e assim ajudar a indústria, com corte de juros e compra de dólares. Segundo relatório do Bank of America, o BC já comprou US$ 11,1 bilhões no mercado à vista e US$ 7 bi no mercado futuro desde fevereiro. O dólar saiu de R$ 1,70, em fevereiro, para R$ 2,05, este mês. Tem bons efeitos na economia, mas a inflação perdeu um dos seus freios.
Parte do problema da indústria é a crise internacional, parte é coisa nossa. A estratégia de distribuir favores para setores específicos produz cada vez menos resultado e adia a agenda do aumento da competitividade da economia.
O mercado de trabalho vive uma contradição. Os empresários reclamam de falta de mão de obra qualificada, e as centrais sindicais estão apresentando uma proposta de criar um fundo anticrise para garantir o emprego de quem está sendo demitido pela indústria automobilística.
O desemprego é doloroso, do ponto de vista pessoal, seja em que segmento ou nível de renda ocorra, mas o foco tem que ser o trabalhador mais vulnerável. O GLOBO publicou esta semana uma série de reportagens de indispensável leitura. De um lado, a ventura: 1.133 cidades em condições que os técnicos definem como "pleno emprego". De outro, a escassez: cidades com taxas de desemprego que superam os níveis espanhóis.
A boa notícia é que os lugares com alto desemprego são menos de 1% dos municípios. Mas, num desses, as jornalistas Letícia Lins e Fabiana Ribeiro encontraram Gerson de Freitas, 35 anos, analfabeto, cinco filhos. Em sua carteira de trabalho, jamais assinada, a foto está se apagando. Faz bicos e às vezes fica "feito menino de abelha indo para a mata pegar mel".
Gerson nunca teve seguro-desemprego, sempre foi invisível para os programas do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Os cursos das centrais e do Sistema S nunca o treinaram, e ele não é alvo do fundo anticrise. O trabalhador qualificado terá mais chance de voltar ao mercado com programas que a economia formal já dispõe. Gerson está na lista do desemprego estrutural.
Ao conjunto dos trabalhadores o governo favorecerá com políticas que aumentem a competitividade da economia e com o cronograma de investimentos que está particularmente atrasado este ano. E, claro, mantendo a inflação baixa.
O governo fez um movimento tardio e incompleto nas concessões de aeroportos. Fez um gesto breve na direção das reformas, com o fundo de previdência do setor público. Fez uma mudança parcial no custo da folha salarial de alguns setores e começa a falar em reduzir o preço da energia elétrica. Tudo somado é pouco.
Sinais de alerta estão surgindo. A criação de empregos formais está menos dinâmica. A arrecadação está caindo. A margem da queda de juros está se estreitando com o aumento da previsão da inflação. E o IPCA voltou a superar 5%. São muitos os riscos. É hora de repensar a política econômica.
FONTE: O GLOBO
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