Mesmo com a frustração do projeto de Lula de um vice do candidato do PT parecido com seu companheiro de chapa nas últimas e vitoriosas campanhas presidenciais, o empresário José Alencar (que propiciasse a esse candidato superar ou reduzir significativamente as predominantes restrições ao esquerdismo petista, ao invés de apresentar-se tendo a companhia de um nome ainda mais esquerdista do PC do B), mesmo assim o postulante que o ex-presidente indicou à prefeitura paulistana, Fernando Haddad, deverá chegar ao 2º turno. Por meio de um salto da precaríssima taxa de intenções de voto que segue obtendo (7% na Datafolha e 6% no Ibope) para uma situada entre 20% e 30% com o amplo tempo de que disporá no horário “gratuito” e, sobretudo, com o empenho redobrado ou triplicado do seu forte cabo eleitoral. Pois o PT tem um patamar próprio de votos na capital paulista próximo dos 30%, por enquanto dividido em face da resistência a Haddad do grupo da ex-prefeita Marta Suplicy, abalado pela péssima repercussão interna da aliança com Paulo Maluf e em parte manifestando-se pró-Celso Russomanno. Mas que deverá terminar se aglutinando em favor do candidato do partido.
No outro pólo, o empate técnico entre José Serra e Russomanno (do PRB com um vice do PTB) registrado nos últimos levantamentos dos dois referidos institutos de pesquisa e indicativo de uma queda do primeiro e de ascensão do segundo, reflete a elevada rejeição ao tucano (de 34% no Ibope e perto disso no Datafolha), que se reforça com o julgamento popular negativo da gestão do prefeito Gilberto Kassab, estreitamente vinculado a Serra. Mas o governador Geraldo Alckmin e o próprio Serra contam com taxa de apoio consistente no eleitorado da capital, em torno de mais de 30%, que deve garantir ao candidato da coligação liderada pelo PSDB votos suficientes para levá-lo à decisão final do pleito.
Desse modo, o cenário provável persiste sendo o da polarização Serra/Haddad, com uma progressiva perda por Russomanno de parcela das intenções de voto que tem colhido no eleitorado de centro e conservador e de parcela maior delas que se tem desviado do candidato de Lula. A insistência, porém, já às vésperas do horário eleitoral, de sinais que apontam a possibilidade de cenários diferentes deve ser avaliada. A concretização de um desses cenários decorreria do insucesso de uma arrancada da candidatura de Haddad para um índice de apoio quatro ou cinco vezes maior do que aquele que tem conseguido até agora. O que implicaria uma disputa do eleitorado tradicional dos petistas pelos candidatos Russomanno e Gabriel Chalita, do PMDB.
Cabe levar em conta que uma condenação dos principais réus do mensalão que acolha as denúncias básicas da acusação, em face da íntima relação deles com o PT paulista ampliaria as dificuldades para tal arrancada. Russomanno ou Chalita, um dos dois, se beneficiaria diretamente dos efeitos do insucesso, ao passo que Serra teria os dividendos indiretos de livrar-se do adversário de maior potencial político. Por outro lado, sentenças do STF que se limitem à prática do Caixa 2 – real estratégia da defesa dos réus – mesmo que inclua José Dirceu entre os condenados, terão efeitos bem menores até porque os “crimes” estariam prescritos. E uma absolvição, improvável, propiciaria a eles e a Lula capitalizar o julgamento para reafirmação do petismo, fortalecimento de seus candidatos e, mais que isso, aumento das pressões que fazem para o controle da mídia.
Outros cenários alternativos da polarização, ainda mais improváveis, seriam o de 2º turno sem José Serra, com Haddad como um dos finalistas, ou sem este também, neste caso o de uma dupla zebra de disputa conclusiva entre Russomanno e Chalita. A qual, quanto a Serra (já tratados os riscos de Haddad) resultaria da não ultrapassagem de dois problemas: a contaminação do desgaste do prefeito Kassab e a insegurança do eleitorado sobre se ele, vitorioso, permaneceria, ou não, à frente da prefeitura. Tema que os concorrentes enfatizarão na fase final de suas campanhas.
Jarbas de Holanda é jornalista
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