Em nota oficial divulgada pelo Planalto, presidente rebate as acusações do tucano, que, em artigo, acusou o sucessor dele de deixar uma "herança pesada"
Juliana Braga
O clima amistoso que imperava na relação entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dá sinais de que chegou ao fim. Em dura nota publicada ontem, Dilma rebate as críticas de FHC, destacando as principais crises do antecessor do PT no Palácio do Planalto. No domingo, Fernando Henrique atacou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e o classificou como "herança pesada" para Dilma.
Em seu artigo publicados nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, FHC se refere às quedas de ministros como "crise moral". "Pode-se alegar que quem nomeia ministros deve saber o que faz", disse. "No entanto, como o antecessor jogou papel eleitoral decisivo, seria difícil recusar de plano seus afilhados", completou. Ele atribuiu à "obsessão por formar maiorias hegemônicas, enfermidade petista incurável", o fato de terem relevado as suspeitas contra os ministros que caíram.
Em outro trecho, critica a política energética, tema que Dilma, ex-ministra de Minas e Energia na gestão Lula, conhece com profundidade. "Calemos sobre as usinas movidas "a fio d"água", cuja eletricidade para viabilizar o empreendimento terá de ser vendida como se a produção fosse firme o ano inteiro e não sazonal. Foi preciso substituir o companheiro que dirigia a Petrobras para que o país descobrisse o que o mercado já sabia, havendo reduzido quase pela metade o valor da empresa", alfinetou.
Apesar de ter feito ressalvas em seu artigo, isentando a presidente de responsabilidade sobre a tal "herança pesada", Dilma não poupou FHC e subiu o tom. "Recebi do ex-presidente Lula uma herança bendita. Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão", rebateu, referindo-se ao empréstimo contraído perante o Fundo Monetário Internacional e à crise energética de 2001, quando brasileiros tiveram de reduzir o consumo para evitar um colapso.
A presidente também destacou os programas sociais de Lula e a ampliação ao acesso à educação. "Recebi um país mais justo e menos desigual, com 40 milhões de pessoas ascendendo à classe média, pleno emprego e oportunidade de acesso à universidade a centenas de milhares de estudantes", pontuou. Referindo-se a Lula, alfinetou ainda a mudança na Constituição que permitiu Fernando Henrique concorrer ao segundo mandato. "Um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse. O ex-presidente Lula é um exemplo de estadista", disse.
Por fim, Dilma afirmou que "não reconhecer os avanços que o país obteve nos últimos anos é uma tentativa menor de reescrever a história". "O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento", defendeu. Para concluir, disse que aprendeu com "os erros e, principalmente, com os acertos de todas as administrações" que a antecederam, mas que governa "com os olhos no futuro".
Desde que a presidente Dilma assumiu, os dois mantinham uma boa relação. A atual chefe do Executivo convidou FHC para o almoço que ofereceu ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, quando ele esteve no Brasil. Na instalação da Comissão da Verdade, o ex-presidente fez elogios à Dilma. A discussão repercutiu no Twitter. Os termos "Lula" e "FHC" chegaram à lista dos mais comentados, e petistas e tucanos saíram em defesa de seus correligionários, retuitando o artigo ou a nota.
"Recebi do ex-presidente Lula uma herança bendita. Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão" (Dilma Rousseff, presidente da República, em nota oficial)
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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