Joaquim
Barbosa deve pedir hoje a condenação de Dirceu por corrupção
O Supremo Tribunal Federal inicia nesta quinta-feira o julgamento mais emblemático do mensalão até o momento. É quando os ministros começam a encaixar as últimas peças do quebra-cabeça do caso. No banco dos réus, estão os petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Mais poderoso ministro de Lula à época do escândalo, Dirceu é apontado na denúncia como o chefe da quadrilha.Hoje, porém, os três serão julgados por corrupção ativa: teriam articulado a compra de apoio político para o governo. Relator do processo, Joaquim já deu sinais de que os julgará culpados. Mas a decisão da maioria dos ministros do STF de condená-los ou absolvê-los do crime, punido com até 12 anos de prisão, só deve ser conhecida na semana que vem.
Chegou a vez de Zé Dirceu
Supremo começa a
julgar hoje a acusação contra o ex-ministro da Casa Civil no governo Lula, mas
o veredicto só vai sair depois do primeiro turno das eleições municipais
Diego Abreu, Ana Maria
Campos e Karla Correia
A apenas quatro dias
do primeiro turno das eleições municipais, o Supremo Tribunal Federal (STF)
inicia hoje o julgamento de três petistas que, na época em que o escândalo do
mensalão veio à tona, comandavam o partido. O ministro relator do processo,
Joaquim Barbosa, será o primeiro a manifestar se o ex-ministro chefe da Casa
Civil José Dirceu cometeu ou não crime. Também estarão sob a análise do STF as
condutas do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares; do ex-presidente do partido
José Genoino; do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto; do empresário
Marcos Valério e de outros cinco réus. O calendário da Suprema Corte deve
empurrar para depois do pleito de domingo a conclusão dessa parte do
julgamento.
O entendimento
firmado pelos ministros quanto à existência de um esquema de compra de apoio
político no Congresso não deixa dúvidas de que a STF condenará um ou mais réus
pelo crime de corrupção ativa e, ainda, que apontará quem são os mentores. O
subitem que começa a ser julgado hoje é o mais emblemático do julgamento. Não
só pelos réus envolvidos, mas também por ser o momento no qual os ministros
encaixarão a última peça do quebra-cabeça do mensalão, ao mostrar onde o
esquema criminoso surgiu e quem são os acusados que executaram a compra de
apoio parlamentar. Nos itens já julgados, os ministros concluíram que houve
desvio de recursos públicos, simulação de empréstimos para o PT e gestão
fraudulenta de instituição financeira.
Os três réus do PT
são acusados pela Procuradoria Geral da República de articularem o esquema de
compra de apoio parlamentar ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Dirceu é apontado
na denúncia como o "chefe da quadrilha". Delúbio, conforme a
acusação, articulava o repasse de dinheiro para lideranças de partidos da base
aliada do governo. E Genoino assinou um empréstimo que foi considerado forjado
pelo Supremo, quando exercia o cargo de presidente do PT.
Nos votos que já
proferiu, Joaquim Barbosa sinalizou que condenará Delúbio e Valério, pois citou
mais de uma vez que ambos "operacionalizaram" o esquema. O relator,
porém, não mencionou nenhum ato concreto de José Dirceu, embora tenha dado
ênfase a uma viagem de três réus a Portugal. Segundo a acusação, Marcos Valério
teria viajado a mando de Dirceu para tratar da captação de dinheiro para o
esquema. Caso Barbosa peça a condenação de Dirceu, a defesa do ex-ministro da
Casa Civil vai entregar um novo memorial aos ministros.
Segundo turno
Advogado de Dirceu, José Luiz de Oliveira Lima alega que a questão da viagem a
Portugal está superada e não atinge seu cliente. "Testemunhas isentas
afirmam taxativamente que eles (os réus que se encontraram com representantes
da Portugal Telecom) não falaram em nome do PT e nem do ministro José Dirceu, e
não trataram de questão de repasse de dinheiro a partido político", afirma
o defensor.
A análise dessa
segunda parte do item 6 da denúncia tende a terminar somente na terça ou
quarta-feira da semana que vem. Barbosa avisou que deve usar toda a sessão de
hoje para ler seu voto, enquanto o revisor, Ricardo Lewandowski, disse que precisará
de pelo menos mais uma sessão, o que leva a crer que só os dois conseguirão
votar nesta semana. Dessa forma, o julgamento deve invadir o período de
campanha pelo segundo turno das eleições.
A movimentação
recente do PT demonstra o peso que o assunto vem assumindo para a legenda na
corrida pelas prefeituras. Em Salvador, o partido conseguiu que a Justiça
Eleitoral da Bahia proibisse candidatos do DEM de fazer referências ao mensalão
e ao ministro Joaquim Barbosa em seus programas de rádio e tevê. A decisão
judicial atendeu a ação movida pelo candidato petista à prefeitura da capital
baiana, Nelson Pellegrino, que está tecnicamente empatado com ACM Neto (DEM) na
disputa.
Em São Paulo, o
crescimento da rejeição ao candidato do PT à prefeitura da capital paulista,
Fernando Haddad, é entendido como uma resposta do eleitorado à exploração do
tema nos palanques e na propaganda eleitoral. Nesse cenário, um eventual voto
do ministro Joaquim Barbosa condenando o núcleo petista já é considerado pelos
tucanos como um elemento benéfico em meio a uma disputa tão acirrada.
"O impacto (do
julgamento) no PT já aconteceu e vai continuar acontecendo. O mensalão é uma
ferida viva no partido e o assunto vai continuar sendo debatido nos comícios e
levado à televisão", afirma o deputado Walter Feldman (PSDB-SP),
coordenador de mobilização da campanha de José Serra (PSDB).
Os petistas adotam um
discurso mais defensivo e minimizam a influência do calendário do julgamento no
pleito. "É indiferente se a decisão sair antes ou depois do primeiro
turno. O crescimento da rejeição a Haddad é um efeito colateral do avanço do
candidato nas pesquisas de intenção de votos. Cresce o eleitorado, cresce
também a rejeição", argumenta o deputado Jilmar Tatto (PT-SP).
12 anos.
Pena máxima
prevista para o crime de corrupção ativa no Código Penal
Fonte: Correio
Braziliense
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