Num
jantar em que foi homenageado, na sexta-feira, Samuel Pinheiro Guimarães,
ex-secretário-geral do Itamaraty, fez um sutil desagravo a Lula e a José
Dirceu, que começa a ser julgado hoje, relata Mônica Bergamo.
"Há
quem tenha lutado com mais sofrimento para diminuir nossas inaceitáveis
desigualdades. Sofreram e ainda sofrem. Não preciso citar nomes."
Mônica Bergamo
TORPEDOS PELO CELULAR
O escritor Fernando
Morais e o embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arvelaiz, acabam de
fazer discurso em homenagem ao ex-secretário-geral do Itamaraty, Samuel
Pinheiro Guimarães, num jantar que ofereceram a ele na sexta, em São Paulo. O
diplomata pede a palavra.
Apontado como figura
central no governo do ex-presidente Lula, "num tempo em que, como dizia
Chico Buarque, o Brasil deixou de falar grosso com os vizinhos e de falar fino
com os EUA", segundo Morais, Guimarães agradece ao escritor, anfitrião do
encontro.
E reverte a
homenagem. "Sinto-me emocionado. No entanto, entre nós aqui há quem tenha
lutado com mais vigor e com mais sofrimento para diminuir as nossas
inaceitáveis desigualdades. Sofreram. E ainda sofrem. Não preciso citar
nomes."
A plateia -entre
outros, a atriz Letícia Sabatella e o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto-
se vira na direção de José Dirceu. O ex-ministro da Casa Civil do governo Lula
esboça um sorriso. Está ainda mais magro e com os cabelos mais compridos do que
o habitual. Hoje, ele começa a ser julgado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
É possível que seja condenado e até preso.
"As classes
tradicionais -ou, se preferirem, retrógradas, reacionárias- nunca vão aceitar
que um nordestino [Lula] tenha se transformado em um líder respeitado e
reconhecido internacionalmente. É disso que se trata. É isso o que estamos
vendo", disse Guimarães, no que foi entendido como uma referência ao
julgamento do mensalão e de Dirceu.
"Nunca vão
aceitar que esse operário tomou o poder", diz o diplomata. "Ou
melhor, tomou uma parte do poder do Estado. Não todo. Não tenhamos ilusão.
Vivemos numa plutocracia, que precisa virar uma verdadeira democracia."
Depois do discurso de
Guimarães, os convidados começam a jantar. Enquanto todos comem, Dirceu fala ao
telefone. Ou dispara torpedos freneticamente pelo celular.
Fonte: Folha de S.
Paulo
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