Em 2000 as legendas aliadas ao governo Fernando Henrique Cardoso somaram 60%
dos votos válidos no primeiro turno. Doze anos depois, os aliados da presidente
Dilma Rousseff ultrapassaram os 70% dos votos.
O sucesso dos partidos governistas sob a égide tucana não foram suficientes
para manter o PSDB na Presidência da República em 2002. Por mais retumbante que
pareça, o desempenho dos aliados petistas este ano também não é garantia da
reeleição presidencial em 2014.
São fartas as evidências de que o eleitor da disputa municipal não se
subordina às estratégias eleitorais das lideranças partidárias.
Frente aos projetos de poder das legendas - e, contrariando o veredito da
toga, todos o têm senão não seriam partidos - há o eleitor que, cada vez mais
escolarizado, faz escolhas com crescente independência em relação a caciques
políticos de todas as colorações partidárias.
O que eleições municipais revelam é a estruturação das máquinas partidárias
para a conquista do voto. Um dos dados mais eloquentes da força dessas máquinas
é a eficácia com que convertem candidato lançado em prefeito eleito.
Nas contas de Wanderley Guilherme dos Santos, que coleciona esses dados
desde 1946, o PSB foi, de fato, aquele cuja eficácia eleitoral mais cresceu
este ano.
Mesmo que o segundo turno lhe seja favorável, a eficácia eleitoral do PSB,
no entanto, ainda não foi capaz de dar ao partido uma presença homogênea no
país. O partido de Eduardo Campos mantém-se concentrado no Nordeste. Fora da
região, elegeu mais de 10% dos municípios apenas em Amapá, Tocantins e Espírito
Santo.
As dificuldades que Dilma vai enfrentar, no entanto, não vêm das
vicissitudes do PSB, mas da profusão de legendas médias.
O PMDB continua a ostentar o título de partido com o maior número de
municípios, mas já começa a ser acossado em sua condição de fiel da balança.
Em 1988, primeira eleição de todos os municípios pós-redemocratização,
apenas cinco partidos elegeram mais de 5% dos prefeitos (PMDB, PP, PTB, PFL e
PL). Este ano, ainda sem contar o segundo turno, oito legendas já ostentam essa
condição (PMDB, PSDB, PT, PSD, PSB, PP, PDT e PTB).
Cada vez mais a aliança com o PMDB é necessária mas não suficiente para os
projetos reeleitorais do PT.
Dez partidos já têm mais de 250 prefeituras no país
Ao final deste segundo turno o PT deve se firmar como a única legenda que,
além de crescimento contínuo, tem distribuição nacional e presença em pequenos,
médios e grandes municípios.
Isso o define como um pólos da disputa nacional, mas não o único. Além de
assegurar os pemedebistas, a presidente ainda tem que se ver com a inflação de
partidos médios pelo país.
Seu partido e o PMDB formam a única dupla da política nacional com prefeitos
em todos os Estados da Federação. Mas a emergência das legendas médias traz o
risco de estas passarem a ser fiéis da balança de outros projetos
presidenciais. Dos resultados que se concluem neste domingo estes são o de
maior valia para 2014.
Vinte anos atrás, ao disputar a terceira eleição de sua história, o PT fez
planos de passar de 38 para 200 prefeitos. Calcou suas campanhas na onda do
impeachment de Fernando Collor de Mello que havia tomado o país naquele ano de
1992. O partido cresceu mas chegou a um quarto da meta que havia traçado com a
eleição de 54 prefeitos.
Se o impeachment, movimento que levou multidões às ruas, não pôde ser
capitalizado eleitoralmente, que dirá o mensalão.
A aposta excessiva no julgamento pode explicar o desempenho do PSDB cuja
curva de declínio nem o sucesso de 100% nos municípios que disputa nesse
segundo turno será capaz de reverter.
Apesar da queda, o PSDB mantém-se como a segunda força municipal a despeito
de estar há dez anos fora do poder. É um feito mais do que suficiente para
analistas como Fernando Limongi não verem ameaça a sua condição de principal
polo de oposição em 2014.
Petistas costumavam atribuir a implantação do segundo turno eleitoral à
reação conservadora contra sua chegada ao poder. Viam na maioria arregimentada
maquinação contra a perspectiva do partido mudancista chegar ao poder.
Acrescente-se ao petismo o vezo de se resumir a política nacional ao
território paulistano e a tese estava pronta. Houvesse segundo turno, Luiza
Erundina não teria sido eleita prefeita de São Paulo.
Passaram-se 20 anos desde a primeira eleição municipal em dois turnos. Pela
lente paulistana, vê-se agora um segundo turno com chances de evitar que o
candidato vitorioso na primeira rodada, mas rejeitado pela maioria, seja eleito
prefeito da maior cidade do país. Talvez haja mesmo avanços onde alguns só
enxergam conspiração.
Fonte: Valor Econômico
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