sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Com quantos postes se faz uma hegemonia - Eduardo Graeff


O crescimento do PT não ameaça a democracia, desde que a oposição faça a sua parte

"De poste em poste, vamos iluminar o Brasil inteiro", disse Lula num comício. Será?

O PT não sai das eleições de passaporte carimbado para a hegemonia, mas sai como principal força política do país, tanto em votos como em reconhecimento da legenda.

O projeto petista de hegemonia tem elementos perniciosos: estatização da economia, aparelhamento da máquina do governo, controle da mídia, menosprezo pela lei em nome dos objetivos do partido.

Felizmente, também tem limites: mídia e Judiciário independentes, aliados reticentes, alguma oposição articulada, pouco fôlego gerencial e financeiro do Estado para liderar uma economia complexa e internacionalizada.

Já a consolidação do PT como força política não me tira o sono. Ela é um desdobramento da democratização do país. Não entendo democracia sem primado da lei e divisão de poderes, mas tampouco entendo sem ascensão da base da sociedade. Disso Lula e seus companheiros são uma expressão contraditória -"impura", mas vigorosa.

O resultado destas eleições não antecipa o das nacionais, mas mexe no cacife dos principais atores.

Uma vitória em São Paulo reforçará o comando de Lula sobre o PT. Isso pode ser um bônus ou um ônus ao partido, dependendo de como digiram a condenação dos petistas pelo mensalão. Se Lula se enroscar no assunto, o ônus aumenta. Desde que a oposição faça sua parte.

No campo da oposição, Aécio Neves sai fortalecido, não tanto pela votação do PSDB, mas pelo êxito das alianças com o PSB. Êxito ambíguo, já que o crescimento do PSB aumenta a chance de uma candidatura presidencial de Eduardo Campos. São duas hipóteses de alternância no poder, em todo caso.

Se a economia chegar bem em 2014, a reeleição de Dilma Rousseff é mais provável. Além de sorte na conjuntura externa, ela precisará de virtude para domar seu estatismo e pressões corporativas de sua base.

Desse ponto de vista, o pior inimigo do PT pode ser seu próprio projeto de hegemonia ancorado no Estado.

Eduardo Graeff é cientista político e foi secretário-geral da Presidência na gestão FHC

Fonte: Folha de S. Paulo

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