As divergências sobre
os critérios a serem adotados pelo STF para definir as penas dos condenados no
processo do mensalão atrasará o fim do julgamento.
Ministros admitiram a
possibilidade de mudar os votos no final, o que pode levar à redução de penas.
Ramon Hollerbach,
ex-sócio de Marcos Valério, já foi condenado a 14 anos e quatro meses de
prisão.
Julgamento
sofre atraso, e Supremo pode rever penas
Em três sessões, ministros só conseguiram definir a situação de Valério
Pelo menos quatro magistrados admitem que no final poderão mudar seus votos
e reduzir punições
Felipe Seligman, Flávio Ferreira, Márcio Falcão e Nádia Guerlenda
BRASÍLIA - A falta de consenso entre os ministros do Supremo Tribunal
Federal para fixar as penas dos 25 condenados no processo do mensalão vai
atrasar o final do julgamento, que completa três meses na próxima semana.
Ministros também já admitem que as punições que foram estabelecidas irão
passar por ajustes no final, o que deve resultar na redução das penas de alguns
condenados.
"Estamos deixando para o fim um ajuste e vocês não estranhem, não,
dosimetria de pena é assim mesmo. Vamos estabelecendo parâmetros e no final
faz-se as unificações", disse o presidente do STF, Carlos Ayres Britto.
Em três sessões para analisar a chamada dosimetria, os ministros tiveram uma
série de embates por divergências técnicas e só conseguiram definir as penas relativas
a Marcos Valério (mais de 40 anos de prisão) e parte das condenações de seu
sócio Ramon Hollerbach (mais de 14 anos).
A expectativa de Britto e do relator do mensalão, Joaquim Barbosa, era
terminar a análise das penas de todos os condenados até ontem.
Nas ultimas sessões, porém, novas divergências entre Barbosa e o revisor,
Ricardo Lewandowski, levaram o tribunal a longas discussões.
Os integrantes do STF debatem questões como a aplicação de penas diferentes
para personagens com maior ou menor destaque e a lei mais adequada a ser
aplicada.
Ontem, por exemplo, quando discutiam a condenação de Hollerbach por lavagem
de dinheiro, decidiram aumentar sua pena em dois terços, mas se deram conta
que, no mesmo caso, a punição de Valério aumentou só um terço.
Diante dos impasses, a Folha apurou que ministros já dão como praticamente
impossível o término do julgamento antes da aposentadoria obrigatória de Ayres
Britto, que completa 70 anos em 18 de novembro. Com isso, o julgamento pode
terminar com Barbosa na presidência.
O STF não realizará sessões na semana que vem, pois o relator tem viagem
para a Alemanha, onde irá tratar de seu problema na coluna. O caso será
retomado no dia 7.
Ao menos quatro ministros -Ricardo Lewandowski, Celso de Mello, Marco
Aurélio e Cármen Lúcia- disseram haver possibilidade de redução no tamanho das
penas.
Isso acontecerá se eles considerarem os crimes de Valério e sócios não de
forma separada, mas como um só. Daí receberiam apenas uma sanção, e não várias.
Se isso ocorrer, o tribunal poderia considerar os três episódios em que
foram condenados (desvios no Banco do Brasil, Câmara e compra de apoio
político) em um grande crime, escolhendo a maior das penas. Há ainda a
possibilidade de haver uma punição só para corrupção e peculato, por serem
contra a administração pública.
Fonte: Folha de S. Paulo
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