Governador mostra que deve repetir plataforma testada por Geraldo Julio em 2012, do representante do "pós-petismo"
Gilvan Oliveira
O discurso adotado por Eduardo Campos (PSB) nessa largada antecipada à sucessão presidencial é exatamente o mesmo utilizado por Geraldo Julio (PSB) na campanha para prefeito do Recife, no ano passado. E, aqui, qualquer semelhança não é mera coincidência. Aquela campanha eleitoral serviu de grande laboratório para testar o discurso do projeto Eduardo 2014, de se apresentar como o representante da uma "política moderna", dissociada de brigas, de alguém capaz de dar um salto de qualidade à gestão no "pós-petismo", sem rupturas e sem colocar em risco avanços sociais construídas pelo aliado PT, ou até mesmo a estabilidade econômica do PSDB.
Segundo o cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco, Eduardo usou esse discurso já em 2010, quando disputou o governo contra Jarbas Vasconcelos (PMDB), estigmatizando o peemedebista como representante da "velha política", marcada mais por disputas ideológicas que por discussões administrativas. Na campanha de 2012, completa, essa estratégia foi reforçada e teve na candidatura de Geraldo seu teste de fogo.
O maior indicativo de que o governador colocará o mesmo discurso em prática, caso se confirme sua candidatura, foram as declarações dele durante o evento que reuniu prefeitos, parlamentares e lideranças de todo o Estado em Gravatá, no final da semana. A crítica à "velha rinha política", a ênfase em buscar uma administração "que entregue resultados concretos" e que construa um modelo de gestão focado em metas e desempenho pontuaram as afirmações do governador e de seus aliados. Foi a linha do discurso de Geraldo contra o PT, que deu certo no Recife.
A crítica à "rinha política" de Eduardo, ao se referir ao embate entre petistas e tucanos, na campanha de 2012 era utilizada em referência às "arengas" internas do PT pernambucano. A ênfase na qualidade da gestão, em formular metas e buscar resultados, na preocupação em "entregar o que prometeu", traz uma crítica velada à gestão Dilma Rousseff, cobrada por atrasos em obras, caso da transposição do Rio São Francisco. Ineficiência foi uma das principais censuras apresentada por Geraldo em relação ao governo petista de João da Costa.
Além do discurso, a campanha de 2012 dá outros indicativos de como seriam os movimentos de Eduardo. Ele não seria um opositor de Dilma Rousseff: se apresentaria como um aliado crítico, que converge com o PT nos valores "de esquerda", mas diverge no direcionamento administrativo, pregando não um rompimento, mas ajustes de rumos. Foi o que fez Geraldo em 2012. Em nenhum momento ele empunhou a bandeira de opositor do PT. Fez o discurso do meio termo: pregou o avanço com a preservação "do que deu certo".
"A mensagem é a seguinte: houve o momento do desafio da estabilidade econômica, vencido pelo PSDB, da adoção de políticas sociais, tocadas pelo PT, e que o próximo será de aliar essas conquistas com qualidade na gestão e crescimento econômico. E Eduardo se coloca como capaz de comandar essa nova etapa", avalia Túlio Velho Barreto.
O resultado das eleições no Recife mostrou que a oposição não conseguiu aderência no eleitorado capaz de convencê-lo a uma guinada. No plano nacional, a aposta do PSB é que o modo petista de governar está se desgastando, porém não o suficiente para levar o eleitorado a optar pela oposição, mas por alguém que faça ajustes, como no quadro recifense. E, por coincidência, a oposição local corresponde à nacional, com DEM, PSDB e PPS.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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