Com o apoio dos maiores partidos no Congresso, o PT e o PMDB, a presidente Dilma sai na frente e tem, até agora, o maior tempo de propaganda na tevê. A oposição, com Aécio Neves, aparece em segundo. Eduardo Campos e Marina Silva precisam de alianças políticas
Paulo de Tarso Lyra, Karla Correia, Ivan Iunes
A eleição presidencial de 2014 começou na semana que passou com eventos midiáticos, como a festa do PT em São Paulo; o discurso de Aécio Neves (PSDB-MG) no Senado; o encontro do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) com prefeitos; e o lançamento do novo partido de Marina Silva, o Rede Sustentabilidade, em Brasília. Mas disputas desse porte são decididas nos bastidores, com a definição das alianças políticas — que trarão tempo de tevê para os candidatos — e na montagem de palanques estaduais fortes para os presidenciáveis visitarem, fatores que só serão definidos no ano que vem.
No momento, a presidente Dilma Rousseff beneficia-se de uma ampla coligação governista, que inclui aproximadamente 14 partidos que apoiam o governo no Congresso. Mas a negociação terá que ser pontual. Até o momento, apenas o PMDB está na chapa de Dilma, indicando o vice-presidente Michel Temer. Reunidos, PT e PMDB somam 170 deputados, o que garante à presidente pouco mais de seis minutos e meio de tempo de tevê, de acordo com os critérios definido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em segundo lugar, com quase três minutos e meio de tempo de televisão, surge o provável candidato do PSDB, Aécio Neves (MG), que tem confirmados em sua coligação o DEM e o PPS, totalizando 88 deputados. Os outros dois presidenciáveis enfrentam, no momento, cenários mais delicados. Eduardo Campos só conta com os deputados do próprio partido, o PSB: 26. Situação pior enfrenta Marina Silva que tem até outubro para criar o Rede Sustentabilidade, que tem a promessa da filiação de três deputados. Isso garante escassos sete segundos no horário eleitoral gratuito de rádio e televisão.
Para além das parcerias já conhecidas, existe uma massa de 17 partidos que ainda definirão seus rumos nas eleições do ano que vem. Juntos, eles têm a oferecer os nada desprezíveis oito minutos e 53 segundos “voando” diante dos olhos dos possíveis presidenciáveis. Boa parte deles já está com Dilma e deve continuar — é o caso, por exemplo, do PCdoB, que sempre esteve ao lado do PT desde as primeiras eleições presidenciais de 1989.
Flerte
Quatro partidos que atualmente flertam com o Palácio do Planalto podem desequilibrar essas forças: PSD, PR, PDT e PP. Coincidência ou não, as três primeiras legendas intensificaram, nas últimas semanas, conversas com a presidente Dilma e devem ser contempladas com ministérios ou um tratamento diferenciado na Esplanada. “O PSD, com certeza, marchará com Dilma em 2014. Mas o partido ainda está dividido sobre a vantagem de ter ou não um ministério neste momento”, afirmou o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz.
Em conversas anteriores, Saulo já havia dito que a candidatura de Dilma unifica a legenda, diferentemente do nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que enfrenta forte resistência no setor do partido ligado ao agronegócio, que tem como principal expoente a senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Em conversas internas com a legenda, a parlamentar — que tem uma ótima relação com a presidente Dilma — também tem dúvidas se é o momento de o PSD assumir ou não uma pasta na Esplanada.
O PR vive uma situação diferente. O partido sempre esteve ao lado do PT, desde 2003. Em 2011, o senador Alfredo Nascimento (AM) foi exonerado do Ministério dos Transportes sob acusações de superfaturamento em obras da pasta. Há duas semanas, Dilma chamou o próprio Nascimento e o líder do partido na Câmara, Anthony Garotinho (RJ), para avisar que gostaria de contar com o partido em 2014. “Mas a senhora será candidata? Tem gente no PT que acha que o candidato será o Lula”, indagou Garotinho. “Vamos mudar de assunto, eu serei candidata”, respondeu ela. Na última quarta-feira, Lula confirmou que a tarefa do PT é reeleger Dilma Rousseff.
O PP não vê a própria situação no ministério ameaçada. O ministro Aguinaldo Ribeiro tem prestígio no governo. São as relações consanguíneas que jogam incertezas sobre o futuro rumo da legenda. O presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), é tio do provável candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves. Em 2010, cogitou-se a possibilidade de ele ser vice do PSDB, caso Aécio fosse candidato. Os tucanos acabaram escolhendo o ex-governador de São Paulo José Serra. “A eleição de 2014 será devidamente tratada em 2014”, sintetizou o senador fluminense.
O secretário de organização do PT, Paulo Frateschi, lembra que quase todos os partidos aliados — inclusive o PSB de Eduardo Campos — estiveram presentes na festa do PT da última quarta-feira. “E acho que estarão juntos conosco no ano que vem, até o PSB. Eduardo é muito grande para contentar-se em participar para forçar a realização do segundo turno”, apostou Frateschi. O secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, faz mistério sobre os possíveis futuros aliados. “Queremos conversar para fechar parcerias. Mas não podemos adiantar nada para não atrapalhar a nossa estratégia.”
Mesma situação vive o PSDB. Eles não perdem a esperança de que o bom trânsito de Aécio Neves entre os diversos partidos possa atrair legendas com o PP, o PR e o PDT. “Mesmo assim, não temos a ilusão de chegar ao início do ano eleitoral disputando minuto a minuto o tempo de televisão com a presidente Dilma”, declarou o secretário-geral do PSDB, Rodrigo de Castro (MG).
588 dias
Tempo que falta até a realização do primeiro turno das eleições presidenciais de 2014, marcado para 5 de outubro do ano que vem
"O PSD, com certeza, marchará com Dilma em 2014. Mas o partido ainda está dividido sobre a vantagem de ter ou não um ministério neste momento" - Saulo Queiroz, secretário-geral do PSD
Fonte: Correio Braziliense
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