BRASÍLIA - Em sua última conversa com o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, a presidente Dilma Rousseff disse que é candidata à reeleição e que espera contar com o apoio de Campos, no primeiro e - se for o caso -, no segundo turno da eleição presidencial.
Dilma reconheceu o direito do governador de Pernambuco de postular a Presidência da República. Ressaltou, no entanto, que gostaria de ter o PSB na coligação governista já no primeiro turno.
A informação foi publicada com exclusividade no Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor.
De acordo com as fontes, Dilma e Campos têm um acordo tácito: essa é uma decisão a ser tomada mais tarde. Provavelmente no primeiro semestre de 2014. Certamente com a intermediação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que será uma espécie de "coordenador geral da campanha".
Isso, se as condições políticas de 2014 forem ao menos parecidas com as atuais. Se a conjuntura mudar, sobretudo a economia, o próprio Lula pode vir a ser candidato. Além disso, o governador de Pernambuco também já ocupou um espaço dentro do campo governista capaz de credenciá-lo como candidato, diante de alguma eventualidade.
Dilma faz cálculos políticos com Eduardo Campos na disputa sucessória. Segundo aliados, a presidente decidiu que não vai retaliar ou dificultar as relações do governo federal com Pernambuco, por causa da candidatura Campos. O motivo: não lhe interessa enfraquecer Campos a ponto de ele entrar por baixo na aliança governista, em caso de segundo turno.
"Dilma não quer derrotar o Eduardo, ela quer seduzir", disse um habitual interlocutor da presidente Dilma.
Na prática, as atividades dos aliados de Dilma demonstram que ela não entrou na disputa para brincadeiras. Basta verificar a mudança no tom do discurso da presidente, neste início de 2013.
Os aliados de Dilma, por seu turno, desde já mantêm um monitoramento permanente sobre as atividades e articulações de Campos, muito embora o adversário declarado do governo seja o PSDB de Aécio Neves, ex-governador de Minas Gerais e o mais provável candidato das oposições à Presidência da República.
O cenário traçado pelos aliados de Dilma prevê que a presidente entrará na eleição com uma coligação de cerca de dez partidos, como aconteceu nas eleições de 2010, sendo PT e PMDB as siglas principais.
Há na cúpula do PT quem gostaria de ver Campos na Vice de Dilma, mas ninguém vê como desalojar o PMDB de Michel Temer do cargo.
Há um certo consenso de que, se o PSB tiver candidato próprio, fará coligação com o PDT (Dilma já cooptou o PSD), cuja maioria é controlada por seu presidente, Carlos Lupi (hoje na oposição a Dilma), e não pelo ministro Brizola Neto (Trabalho).
Outro nome - importante, mas segmentado - será o de Marina Silva, ainda uma candidata em busca de um partido. Marina está atrasada e os líderes partidários acreditam que ela possa ser bem votada, mas não repetirá os 20 milhões de votos da eleição de 2010.
O quadro se completa com Aécio, este sim, em fase mais adiantada de composições políticas do que gosta de admitir.
Aécio nega que esteja por trás do recente avanço de governadores tucanos, como Geraldo Alckmin (SP) e Beto Richa (PR), no sentido de ampliar suas alianças políticas com partidos da base de Dilma Rousseff. Atribui as movimentação a uma acomodação regional em relação a 2014.
A realidade é mais simples que parece: Alckmin e Richa perderam as capitais, nas eleições deste ano, sentem o PT "no cangote" e precisam ampliar suas alianças para disputar a reeleição em 2014.
Aécio Neves, de qualquer forma, é beneficiado por gravidade.
O dilmismo encara de um modo diferente a movimentação do PSDB. Ao atrair para os governos estaduais aliados da presidente, os tucanos na realidade estariam trabalhando para que essas siglas não tenham candidatos em 2014. Como aconteceu em 2010, por exemplo, com o PP.
Se o "plano" der certo, Dilma terá menos tempo de televisão do que se mantiver todos os atuais partidos da base governista no Congresso também na coligação que patrocinará sua nova candidatura.
Apesar da aceitação pacífica de eventual candidatura de Campos, conforme contam seus interlocutores, o PSB registra atos da presidente como tentativas de dividir o partido. Este seria o caso dos afagos no governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), irmão de seu ex-colega de ministério Ciro Gomes.
No caso de uma cisão entre a presidente e o governador, a avaliação é que alguns chefes de executivo estadual do PSB fiquem do lado da presidente - caso do Piauí, por exemplo.
O Paraná é um outro exemplo do "modus operandi" dilmista. A candidata ao governo estadual contra o tucano Beto Richa será a ministra Gleisi Hoffmann, atualmente no comando da poderosa máquina da Casa Civil da Presidência.
O vice de Gleisi deve ser do PMDB e a cadeira do Senado fica para o senador Osmar Dias, do PDT, partido que na eleição para prefeito de Curitiba contou com o apoio de Gleisi. Com sucesso. É uma tentativa de retomar o controle do PDT e tirar a sigla da esfera de influência de Eduardo Campos.
Se conseguir atrair a grande maioria dos partidos da base aliada para aliança, inclusive o PSB de Campos, Dilma contará com um tempo desproporcional de televisão. Isso somado ao índice de aprovação da presidente à época pode ser decisivo para decidir a eleição no primeiro turno, algo que o PT, mesmo tendo Lula como candidato, nunca conseguiu. (RC)
Fonte: Valor Econômico
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