Somente nessa quinta a bancada do PMDB assumiu a candidatura, depois de o senador passar semanas em silêncio e sem comentar sobre as denúncias contra ele
Eugênia Lopes, Débora Bergamasco e Ricardo Brito
BRASÍLIA - Alvo de três inquéritos que tramitam sob sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF), o senador Renan Calheiros (AL) foi oficialmente lançado nessa quinta-feira, 31, pelo PMDB candidato à presidência do Senado. O peemedebista deverá ser eleito nesta sexta-feira, 1º, com um placar folgado de votos, mas, alvo de denúncias, deve enfrentar críticas constrangedoras dos colegas na tribuna. Ele disputará com o senador Pedro Taques (PDT-MT), que nessa quinta-feira, 31, obteve o apoio do PSDB e do PSB.
A menos de 24 horas da eleição e debaixo de uma saraivada de críticas, Renan manteve o suspense e uma candidatura furtiva: ele simplesmente se recusou a falar sobre sua pretensão de suceder José Sarney (PMDB-AP) no comando do Senado, pelos próximos dois anos. Um dos inquéritos do Supremo é sobre o caso de 2007, que levou o peemedebista a renunciar a presidência da Casa sob pena de ser cassado. Ele foi acusado de pagar despesas pessoais (a pensão de uma filha fora do casamento) com recursos de um lobista. Para comprovar o dinheiro recebido, Renan apresentou notas frias referentes a compra de gado.
Recentemente, reportagem do Estado mostrou a influência política de Renan em Alagoas para turbinar contratos de empreiteira de amigos com a Caixa Econômica Federal para o programa Minha Casa, Minha Vida.
Questionado se a bancada está desconfortável e constrangida com a candidatura de Renan, o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp foi incisivo: "Em absoluto. O Renan não teve nenhum julgamento, nenhuma condenação. É um líder nato".
Pedro Taques (PDT-MT) foi lançado como candidato único de um grupo de parlamentares apontados como independentes. "Ganhar ou perder é uma consequência da disputa", avaliou Taques, depois de receber o apoio do PSDB, que conta com 11 senadores. Por contrariar o PMDB, o PSDB agora corre o risco de perder a 1.ª Secretaria, uma espécie de prefeitura da Casa. "O político que entra numa eleição pensando só em ganhar não pode ser candidato. Construímos esta candidatura por motivo de honra", disse o pedetista.
A expectativa de aliados de Renan, porém, é que ele receba votos de tucanos, já que a votação é secreta. O senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) cogitou se lançar na disputa, mas desistiu depois que Taques se recusou a abrir mão de sua candidatura. O PSB resolveu, então, apoiar também candidatura de Taques.
A candidatura de Renan para suceder Sarney foi aprovada por 17 do total de 20 integrantes do PMDB. Os senadores Pedro Simon (RS), Jarbas Vasconcellos (PE) e Luiz Henrique (SC) não estavam presentes.
Ao fim do encontro, Renan foi abordado por jornalista que indagou se ele se sentia confortável para presidir o Senado novamente. Levemente irritado, ele respondeu: "Imagine você", e partiu em disparada.
Enquanto o PMDB oficializava a candidatura de Renan, os tucanos decidiam sobre o apoio à candidatura de Taques. Durante a reunião, houve resistência de alguns deles. Apesar da decisão da bancada favorável ao pedetista, a expectativa é que haja dissidências de ao menos quatro parlamentares, especialmente a de Flexa Ribeiro (PSDB-PA), candidato à 1.ª Secretaria.
Preço. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que a legenda está disposta a sacrificar o cargo na Mesa. "Vamos reivindicar os espaços aos quais temos direito, indicando nomes que possam atender aos interesses da Casa, mas se esse for o preço a pagar, para mim é absolutamente irrelevante." Aécio reconheceu que será difícil reverter o favoritismo de Renan. "Não tomamos uma decisão por razões pessoais, mas para preservar a instituição."
O PMDB decidiu que uma eventual retaliação ao PSDB dependerá do placar. Será diante do número de votos obtidos por Renan que o PMDB saberá o tamanho da dissidência entre os tucanos. Só então os aliados vão resolver se lançam ou não candidato para disputar a 1.ª Secretaria.
À bancada, Renan anunciou a criação de secretaria para dar transparência aos atos do Senado e defendeu a votação de projeto com as novas regras de partilha dos recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE).
Colaborou Débora Álvares
Fonte: O Estado de S. Paulo
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