sábado, 30 de novembro de 2013

IBGE: 9,6 milhões de jovens não estudam nem trabalham

Pesquisa do IBGE mostra que 9,6 milhões de jovens, a maioria mulheres, muitas com filhos, não estudam nem trabalham e são alvo de preocupação n os estudos sobre condições de vida da população brasileira. Cresceu o número de filhos que opta por continuar com os pais.

Maioria 70,3% da chamada “geração nem nem" é formada por mulheres.

1 em cada 5 jovens não estuda nem trabalha

A chamada "geração nem nem" atinge 9,6 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos; para mulheres, há a necessidade de cuidar dos filhos

Luciana Nunes Leal

Apesar da ampliação do acesso à escola e da crescente geração de emprego, uma população de 9,6 milhões de jovens, formada principalmente por mulheres, muitas delas com filhos, não estuda nem trabalha e é motivo de preocupação nos estudos sobre condições de vida da população brasileira, aponta a Síntese de Indicadores Sociais 2013 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados de 2012. Um em cada cinco brasileiros (19,6%) de 15 a 29 anos faz parte da "geração nem nem" (nem estuda nem trabalha).

Na população de 18 a 24 anos, os que não frequentam a escola nem estão no mercado de trabalho chegam a quase um quarto (23,4%), ou 5,2 milhões de jovens. Segundo a pesquisadora do IBGE Ana Saboia, coordenadora da Síntese, os dados não permitem apontar as razões para número tão significativo da "geração nem nem", mas, com relação às mulheres, a necessidade de cuidar dos filhos é fator determinante. Já a proporção de 15 a 29 anos que não vai à escola e não tem emprego se mantém estável, com pequena redução nos últimos dez anos: em 2002, eram 20,2% da população nesta faixa etária. Na faixa dos 18 a 24 anos, porém, houve pequeno aumento na proporção dos "nem nem", que passaram de 22,9% para 23,4%.

Estudiosa do fenômeno, a pesquisadora Joana Monteiro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, diz que as preocupações devem ser concentradas nos 3,1 milhões de jovens (32,4%) que não estão na escola nem no mercado de trabalho e sequer completaram o ensino fundamental. "Essas pessoas tendem a ficar nessa situação por mais tempo e continuar dependendo dos pais ou do governo. Provavelmente já abandonaram a escola e não foram atraídas pela forte geração de emprego dos últimos três anos."

"O número absoluto de 9,6 milhões chama a atenção, mas há um grupo que não considero preocupante, porque está em uma situação temporária", diz Joana. "Há também mães que optaram por ficar com seus filhos. O que me preocupa são os jovens de baixa escolaridade."

Os indicadores mostram que 70,3% dos jovens que não trabalham nem estudam são mulheres, e, neste grupo, 58,4% (3,9 milhões) tinham pelo menos um filho. A participação das mulheres sem estudo e sem trabalho, porém, está diminuindo era de 723% em 2002. "Em geral, essas mulheres estão em casa para cuidar dos filhos. Na medida que se criam estruturas para as mães deixarem seus filhos com segurança, que se ampliam as creches e pré-escolas, essa proporção tende a diminuir", diz a presidente do IBGE, Wasma lia Bivar. "

"Dá muita agonia ficar sem fazer nada, porque você fica sem dinheiro. Na verdade, bate o desespero, ainda mais com filhos", diz Nícole Gomes Fernandes, de 21 anos, que tem duas filhas e cursou até a 8ª série. Quando largou a escola, passou três anos sem trabalhar e sem estudar. Entretanto, há cerca de um mês, conseguiu um emprego no escritório de uma igreja e saiu da geração "nem nem".

Por região. Hoje, o Nordeste é a região com maior proporção de jovens que não estudam nem trabalham, em todas as faixas etárias estudadas. Na faixa de 18 a 24 anos, Alagoas tem nada menos que 35,2% da população que não estuda nem trabalha.

Na Região Metropolitana do Recife, o índice é preocupante: 31,8% dos jovens de 18 a 24 anos não têm atividade produtiva. É o caso de Ana Maria Cristina da Conceição, de 22 anos, que para de estudar na 4ª série do fundamental. Já estava atrasada em relação à idade, quando engravidou, aos 15. "Fiquei com vergonha de ir para a aula "buchuda" e larguei", contou. Depois, teve mais dois filhos. Hoje, vive na comunidade Caranguejo Tabaiares, na Ilha do Leite, com ajudas eventuais do pai e da mãe.

Colaboraram Laura Maia de Castro e Ângela Lacerda

Fonte: O Estado de S. Paulo

Nenhum comentário: