domingo, 9 de março de 2014

Tentativa de paz de Dilma com PMDB não agrada deputados do partido

Reunião marcada para hoje gerou ainda mais insatisfação dentro de ala do PMDB. Deputados se sentem enfrentados pelo Planalto e defendem fim da aliança que elegeu Dilma Rousseff em 2010

Grasielle Castro

A estratégia da presidente Dilma Rousseff (PT) de receber o vice-presidente Michel Temer, hoje, para discutir a crise com o PMDB, desagradou os deputados insatisfeitos. Em vez de ser entendida como um sinal de interesse em resolver a relação, a reunião foi vista como um enfrentamento à bancada peemedebista na Câmara dos Deputados. Isso porque, mesmo que ela também receba o presidente em exercício do partido, Valdir Raupp (RO), e os presidentes da Câmara e do Senado, Henrique Eduardo Alves (RN) e Renan Calheiros (AL), os deputados reclamam que os interlocutores da Casa onde há conflito ficaram de fora. A tentativa de isolar o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), — que trocou farpas com o presidente do PT, Rui Falcão, no carnaval — gerou uma rebelião de peemedebistas nas redes sociais ontem. O próprio líder continuou a protagonizar a crise. “Achar que vão me isolar é um erro de avaliação de quem não tem noção do problema real. Apenas verbalizo o que escuto da bancada”, reagiu.

A posição de Cunha reforça o atrito entre o governo e a base aliada, intensificada nos últimos meses. A extensa lista de reclamações tem como ponto alto a demora da presidente em decidir o posicionamento do governo em relação aos palanques estaduais, atrelados à reforma ministerial. A ideia da presidente era decidir como acomodar os partidos na Esplanada até o fim do carnaval. A troca no comando das pastas, no entanto, ainda é incerta. O recuo da presidente na decisão de dar mais um ministério ao PMDB no início do ano e a incerteza sobre o destino dos cargos adicionaram mais lenha à fogueira. Para piorar, o Planalto sugeriu o nome do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) para o Ministério da Integração, enquanto o indicado do partido era o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). A sugestão soou como uma afronta, pois tiraria Eunício da disputa pelo governo do Ceará e beneficiaria outro aliado do governo. Em outros momentos, foi proposto o nome de Vital para a vaga de um ministério comandado por um peemedebista da Câmara.

Os excluídos Em outra frente, o PMDB na Câmara reclama da dificuldade de se relacionar com o Planalto. Para o deputado Danilo Fortes (PMDB-CE), o problema não é a divisão de cargos. “Falta diálogo. Queremos respeito, queremos participar da elaboração de políticas públicas, da execução”, resumiu. Fortes ressalta que, neste momento, o futuro do processo eleitoral é ainda mais importante. “É preciso ter uma posição política definida. Não podemos ser coadjuvantes, nosso papel é ser protagonista do projeto”, emendou. Segundo ele, a decisão de discutir essa insatisfação sem a presença dos líderes é imatura. “Se os problemas são com a Câmara e com o Senado, porque não chamar os líderes? Se são as composições estaduais, porque não chamar os diretórios? Sem ouvir os responsáveis pelas áreas não adianta. Parece que o PT perdeu no escuro e foi procurar no claro porque era mais fácil”, criticou.

Em uma rede social, o líder do partido na Câmara ressaltou que a quantidade de insatisfeitos é grande. “Com certeza é mais do que a metade. Sei o que cada um pensa”, pontuou. O deputado Osmar Terra (RS) ratificou com uma resposta também pela internet: “Com certeza”. Para o deputado Sandro Mabel (GO), o melhor seria rachar a aliança. “O PMDB é um partido grande e coerente, que acredita que política é honrar compromissos. É impossível fazermos uma aliança com um partido que agora volta a desprezar essas premissas”, alfinetou. Para contornar os entraves da aliança, alguns peemedebistas defendem o adiamento da convenção para abril, para liberar a possibilidade de fazer coligações.

Fonte: Estado de Minas

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