quarta-feira, 7 de maio de 2014

Renan combinou com Dilma estratégia para CPIs da Petrobras

• Objetivo é adiar início das investigações e incluir Alstom e refinaria Abreu e Lima como temas conexos

Maria Lima, Isabel Braga e Junia Gama - O Globo

BRASILIA - Na iminência da criação de duas CPIs para investigar a Petrobras, a presidente Dilma Rousseff, seu vice Michel Temer e os principais articuladores da base aliada entraram nas negociações para reduzir o risco de as investigações abalarem ainda mais o governo. Uma das estratégias é tentar novamente acuar os principais adversários de Dilma nas eleições de outubro: o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-governador Eduardo Campos (PSB-PE). Após varar a noite de segunda-feira em uma reunião tensa com integrantes do PMDB, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), anunciou a antecipação de sessão do Congresso Nacional do dia 20 para esta quarta-feira com o objetivo de pedir que os líderes partidários indiquem os nomes para a CPI mista que reunirá deputados e senadores. Ao mesmo tempo, recebeu nesta terça-feira os nomes dos indicados pelo governo para a comissão exclusiva do Senado e avisou a oposição de que, caso ela não indique os senadores até hoje, ele mesmo o fará.

A decisão de agir nas duas frentes foi tomada após a reunião de segunda-feira com líderes de partidos da base e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). De acordo com relatos, houve um intenso bate-boca entre Renan e o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que tinha o apoio de Alves. O cerne do problema seria a intenção de Cunha de indicar deputados alinhados com a oposição. Horas depois da reunião, Renan foi com Alves, Temer e o líder do governo no Senado, Eduardo Braga, conversar com a presidente Dilma sobre a situação. Nesse encontro, foram traçadas estratégias para postergar ao máximo o início das investigações e, quando elas enfim começarem, encurralar a oposição. O objetivo é usar o rolo compressor da maioria para aprovar requerimento de convocação de pessoas citadas nos casos do cartel do metrô de São Paulo e da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

— Vai ser olho por olho, dente por dente. A Petrobras tem turbina da Alstom e deu R$ 2 bilhões para que a empresa Comgás, do governo de Pernambuco, fizesse obras no entorno da Abreu e Lima. A conexão já existe — relatou um dos participantes da reunião com Dilma e os ministros Aloizio Mercadante e Ricardo Berzoini.

— Se fizerem isso, aí pega fogo! O equilíbrio vai para as cucuias. O requerimento para convocar Sérgio Machado, da Transpetro, cai na hora. Aprovando ou não aprovando, a CPI vai pegar fogo — reagiu um dos líderes da oposição.

Nesta terça, os líderes da base indicaram os nomes que vão compor a CPI exclusiva do Senado, boicotada pela oposição, que só vai indicar integrantes para a CPMI. Nesta quarta-feira, além de pedir a indicação dos nomes para a CPI mista, Renan vai encaminhar à Comissão de Constituição e Justiça do Senado as questões de ordem enviadas pelo governo pedindo a instalação apenas da CPI restrita. O recurso não tem efeito suspensivo.

— As CPIs vão funcionar. Se os líderes não indicarem os nomes, regimentalmente eu estarei obrigado a fazê-lo. O papel de presidente do Congresso é delicado, complexo. A oposição acha que você está delongando, o governo acha que você está agilizando — reclamou Renan, depois da reunião com Dilma no Planalto.

O presidente do Congresso também avisou que, se os partidos da base não indicarem nomes para a comissão mista, ele mesmo o fará depois do prazo de cinco sessões da Câmara. O comando do PT no Senado ficou indignado com a decisão de Renan de acelerar a instalação da comissão mista, e anunciou que insistiria no funcionamento apenas da CPI do Senado. O líder do PT, Humberto Costa (PE), chamou de “insanidade” o funcionamento de duas CPIs.

A pedido de Dilma, Temer e Renan entraram no circuito para conter os rebeldes do PMDB na Câmara. Na reunião que varou a madrugada de segunda-feira, Renan bateu boca com Eduardo Cunha e Henrique Alves para que eles vetassem as indicações dos deputados Danilo Forte (CE) e Lúcio Vieira Lima (BA), dois dos mais ativos contra o governo.

Antes disposto a integrar a CPMI apenas como suplente, o líder Eduardo Cunha disse ontem que poderia participar agora como titular para fazer tudo o que fosse decidido pela bancada. Ele disse que houve pedidos de 15 deputados do PMDB para serem indicados, mas que ainda não tinha definido os nomes. Definirá hoje, depois de reunir a bancada. Cunha negou, no entanto, que tenha recebido veto aos nomes de Danilo e Lúcio. (Colaboraram Luiza Damé, Catarina Alencastro e André de Souza)

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