• Presidente falta à convenção de Padilha em SP; petistas reagem a críticas da oposição
Germano Oliveira, Thiago Herdy e Maria Lima* - O Globo
SÃO PAULO- A ausência da presidente Dilma Rousseff na convenção do PT que homologou a candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha a governador de São Paulo causou estranheza e criou grande mal-estar entre os petistas paulistas. Eles contavam com a presença da presidente para dar a largada no processo de salvar a candidatura do ex-ministro, que patina nas pesquisas (segundo o Instituto Datafolha, está com 3%).
Mesmo assim, com discursos recheados de palavras como “ódio” , “elite” e “pessoas mal-educadas” que não têm “calos nas mãos”, Lula, ministros e o presidente do PT, Rui Falcão, usaram o ato para reafirmar a defesa de Dilma, e a estratégia de politizar os discursos e as manifestações de solidariedade à presidente, em função dos xingamentos que recebeu da torcida na abertura da Copa do Mundo, na última quinta-feira, e das críticas dos candidatos de oposição.
A Presidência da República deu versões diferentes para a ausência de Dilma na convenção petista. Uma era que estava fortemente gripada. Outra, que precisava se preparar para jantar com a chanceler alemã Angela Merkel. Mas petistas entenderam que a presidente cedeu a pressões do PMDB, que tem o empresário Paulo Skaf como candidato a governador pelo partido. Dilma estaria, assim, com um pé em cada canoa em São Paulo.
Fiador da candidatura de Padilha e principal cabo eleitoral do petista, o expresidente Lula disse que aprendeu em casa a importância de ter “educação” e “respeito” e de “saber tratar os outros”.
Ao lembrar as manifestações contra a presidente na quinta-feira, quando parte do público gritou, em coro, “ei, Dilma, vai tomar no ...”, afirmou:
— Se esse tipinho de gente acha que, fazendo o que fez com a Dilma, vai nos amedrontar, eu quero dizer para eles que, se tivesse medo, teria pedido à minha mãe para me abortar, para eu não nascer. Nasci para enfrentar esse tipo de gente — disse Lula, para quem os xingamentos contra Dilma no estádio teriam partido de “gente que não sabe o que é um calo na mão” e “tinha cara de tudo, menos de pessoas trabalhadoras deste país”.
Para o ex-presidente, a campanha deste ano será da esperança contra o ódio:
— Se em 2002 fizemos uma campanha da esperança contra o medo, agora é da esperança contra o ódio.
Presidente gravou vídeo
Lula disse que ninguém nunca o viu, em nenhum momento, dizer “um palavrão” contra um Presidente da República.
— Mesmo aqueles contra os quais a gente tinha até razão de dizer — afirmou.
Para minimizar a irritação dos articuladores da campanha de Padilha, Dilma mandou um vídeo gravado que foi exibido num grande telão durante o ato. Disse disse que gostaria de estar no evento, mas o cargo de presidente traz certas limitações. “Mas estarei presente de corpo, alma e coração”.
Ela aproveitou para criticar mais uma vez a gestão do governo Geraldo Alckmin por causa da escassez de água no Sistema Cantareira. — São Paulo não pode mais confiar no volume morto (do reservatório do Cantareira). Você, Padilha, é o volume vivo que vai levar mudanças a São Paulo — disse Dilma na mensagem gravada.
Lula voltou a culpar a imprensa pela queda da popularidade de Dilma, registrada pelas últimas pesquisas. Disse que jornalistas que se identificam como profissionais “não políticos”, na verdade, seriam tucanos dispostos a criticar o PT.
— Por que essas pessoas de repente ficaram com ódio do PT? Por que de repente passaram a nos tratar como se fôssemos uma doença grave? — questionou Lula, completando que parte do ódio da elite vem do aumento de pobres em restaurantes, teatros e aviões.
Petistas no evento também reagiram às declarações do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, que na véspera disse que um tsunami vai varrer o PT do governo. Lula disse que o PSDB repetiu Jorge Bornhausen, que, na época do Mensalão, em 2005, disse que iam acabar com a raça do PT.
Críticas a Fernando Henrique
O petista classificou como uma “desfaçatez” Fernando Henrique acusar o PT de corrupção em discurso na convenção tucana que lançou o senador mineiro.
— Vi ontem o ex-presidente falar, com a maior desfaçatez, que é preciso acabar com a corrupção. Ele devia dizer quem estabeleceu a promiscuidade entre o Poder Executivo e o Congresso, quando começou a comprar voto para ser aprovada a reeleição em 1996 — disse Lula, que não citou o julgamento do mensalão, circunstância em que dirigentes petistas foram condenados pelo STF sob a acusação de comprar apoio político no Congresso no período em que ele era presidente.
— Por que eles não colocam o tsunami pra trazer água de volta para o Sistema Cantareira? — ironizou Lula, fazendo referência à crise hídrica ocasionada pela falta de chuvas e investimentos no sistema de abastecimento de água de São Paulo.
Mais cedo, o presidente do PT, Rui Falcão, também respondeu a Aécio:
— Antes falaram em acabar com a nossa raça. Agora falam em tsunami para nos varrer do mapa. Para varrer o PT do mapa, antes tem que mover a metade do povo brasileiro — discursou o dirigente.
Em Brasília, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) também foi escalado para defender Dilma. Ele apresentou dados e números sobre diferentes programas do governo atual e comparou com a gestão de Fernando Henrique Cardoso.
Apesar de dizer que estava agindo em defesa do governo que integra, e não para responder frases de efeito do candidato de oposição, o ministro, ao final da coletiva, acabou fazendo referência à afirmação do tucano na véspera.
— A oposição ficou um bom tempo dizendo que ia ter tempestade e tivemos um verão tranquilo. Agora, estão falando em vendaval, tsunami. O único tsunami que tivemos foi a gestão pública em alguns governos do passado. Mas, como no Brasil não temos tsunami, eles não voltarão.
O ministro disse que a presidente não foi aos eventos em São Paulo porque está gripada, com início de bronquite, e a recomendação médica é de repouso.
(*enviada especial)
Um comentário:
“Lula já ofendeu dois presidentes:
O ex-presidente Lula já usou ofensas e palavrões para se referir a dois presidentes da República e a um presidente de um partido adversário.
Em 1987, ao defender as propostas do PT para a reforma da Constituição, chamou de forma indireta, mas clara, o presidente José Sarney de “grande ladrão” do país.
Em maio de 1993, quando era presidente nacional do PT e corria o país com a “Caravana da Cidadania”, comentou com jornalistas, em conversa informal, que achava o então presidente da República, Itamar Franco, “um filho da puta” por estar perdendo a oportunidade de fazer um bom governo.
Na mesma conversa, disse que o então ministro da Fazenda, Eliseu Resende, era um “canalha que tem compromissos com empreiteiras”. Xingamento divulgado, ele pediu desculpas.
Mesmo depois de colocar a faixa presidencial, não deixou de fazer alguns insultos públicos. Em janeiro de 2010, pelo menos três ministros ouviram Lula, em reunião ministerial, chamar de “babaca” o então presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra. Nos palanques, o repertório preferido do ex-presidente, para atacar os críticos de seu governo, era chamá-los de imbecis e ignorantes”
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