Corrupção partiu de políticos e ex-diretores, afirma doleiro
• Em sua 1ª defesa formal, Youssef diz ter exercido papel secundário no esquema
• Delator "não é um anjo", mas "só cuidava da última fase, a lavagem de dinheiro", afirmou seu advogado à Folha
Mario Cesar Carvalho – Folha de S. Paulo
CURITIBA - Na primeira defesa formal de Alberto Youssef desde o início da Operação Lava Jato, protocolada nesta quarta-feira (28), o advogado do doleiro afirma que a corrupção na Petrobras partiu de políticos e de dirigentes da estatal para servir a um projeto de poder de PT, PP e PMDB.
De acordo com Antonio Figueiredo Basto, que representa Youssef, a liderança do esquema era exercida por políticos e agentes públicos, e não pelo doleiro --ao contrário do que apontam procuradores, policiais e o juiz federal do Paraná Sergio Moro.
"O Alberto nunca atuou para corromper. Ele nunca corrompeu o [ex-diretor] Paulo Roberto Costa. A corrupção veio de dentro da Petrobras", disse o advogado à Folha.
Paulo Roberto foi detido e está em prisão domiciliar após ter feito um acordo de delação premiada. "Eu não estou dizendo que o Alberto é anjo, mas ele só cuidava da última fase do processo, que é lavagem de dinheiro", complementou Figueiredo Basto.
Segundo os depoimentos de Costa e de Youssef no âmbito das delações premiadas, os três partidos ficavam com um percentual sobre o valor dos contratos com a estatal que variava de 1% a 3%. Para a defesa, o trabalho do doleiro dependia de um tripé formado pela Petrobras, políticos e empreiteiras e "tinha uma importância menor".
Nos dez processos em que o doleiro é réu, ele é acusado de lavagem de dinheiro, evasão de divisas que somam US$ 444,5 milhões, formação de organização criminosa, operação de instituição financeira sem autorização e uso de falsa identidade.
Delações
No acordo de delação que fechou com procuradores, Youssef diz ter revelado quem eram seus contatos nas empreiteiras, o que levou à prisão de uma série de executivos, dos quais 11 estão detidos na Polícia Federal de Curitiba há mais de 60 dias.
Para defender o instrumento da delação, questionada por advogados de empresas, Basto citou frase do escritor francês Honoré de Balzac: "Mas os ladrões espertos são recebidos pela sociedade, passam por pessoas de bem".
No acordo, Youssef se comprometeu a pagar multa de cerca de R$ 50 milhões. Em troca, terá pena que pode ir de três a cinco anos. Sem o acordo, ele poderia pegar até 240 anos de prisão, segundo estimativa de seu advogado.
Basto também refuta que seu cliente tenha praticado qualquer crime antecedente da lavagem de dinheiro.
O advogado requisita ao juiz a unificação dos dez processos, por considerar que a divisão é arbitrária e superficial, além de prejudicar seu cliente. Com um processo, o doleiro teria somente uma pena, em vez de dez.
Basto lembra na defesa que a suspeita de corrupção na estatal não começou com a chegada do PT ao poder.
Ele cita o caso do jornalista Paulo Francis, que em 1996, no governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), afirmou, sem ter provas, que a cúpula da Petrobras tinha contas na Suíça.
O presidente da estatal à época, Carlos Rennó, abriu processo conta ele nos Estados Unidos, pedindo indenização de US$ 100 milhões. Amigos de Francis associam a ação judicial à morte dele, em 1997. O jornalista não teria como pagar a indenização.
No governo petista, o esquema seria uma espécie de "sucedâneo do mensalão", ainda conforme o advogado.
Outro lado
Procurada, a Petrobras e o PT não quiseram se manifestar. Por meio da assessoria, o PMDB disse que "repudia e nega veementemente as acusações". Presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) afirmou que não comentará enquanto o partido não for notificado oficialmente.
Colaboraram Alexandre Aragão e Marina Dias, de São Paulo
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