• Objetivo é barrar adesão de PP, PR e PRB à candidatura de Eduardo Cunha, rival do governo, ao comando da Câmara
• Segundo participantes, ministros ameaçaram retaliar os partidos aliados se o PT perder a disputa para o PMDB
Ranier Bragon, Márcio Falcão, Catia Seabra – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O governo mobilizou nesta quarta-feira (28) cinco ministros para tentar forçar partidos sob ameaça de rebelião a votar no petista Arlindo Chinaglia (SP) na eleição de domingo (1) para a presidência da Câmara dos Deputados.
O almoço a portas fechadas teve o objetivo de barrar a adesão de PP, PR e PRB à candidatura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) visto como adversário dentro da base aliada.
O encontro desta quarta foi a mais clara mobilização feita pelo governo federal em prol de Chinaglia. Segundo participantes, houve manifestação aos dirigentes dos três partidos que tendem a aderir a Cunha de que o governo irá retaliá-los caso o PT sofra uma derrota no domingo.
PP, PR e PRB têm 91 dos 513 deputados eleitos e comandam, respectivamente, os ministérios da Integração Nacional, com Gilberto Occhi, Transportes, com Antonio Carlos Rodrigues, e Esporte, com George Hilton.
Os dois primeiros ministros foram ao almoço, assim como dirigentes dos partidos.
Os governistas deixaram claro que a fidelidade a Chinaglia, além de afastar retaliações, levaria PP, PR e PRB a escolherem, no caso de vitória do petista, um nome para ocupar a primeira vice-presidência da Câmara, segundo principal cargo da Casa.
O posto estava reservado ao PSD de Gilberto Kassab (Cidades), outro presente ao almoço, mas haverá negociações para realocação.
Além da presidência, serão definidos no domingo os outros 10 cargos da cúpula da Câmara.
Além de Rodrigues, Occhi e Kassab, foram ao almoço Pepe Vargas (Relações Institucionais) e Ricardo Berzoini (Comunicações). Rodrigues e Occhi usaram carros oficiais.
Os ministros negaram na saída que o governo esteja interferindo na disputa. "Não é o governo que está aqui. Somos lideranças políticas, queremos o melhor para o país, queremos estabilidade política", afirmou Vargas.
"Quem é da base de apoio ao governo deve manter a solidez dessa base. A única razão de não termos um candidato único da base é que algumas pessoas trabalham pela desagregação", disse Berzoini, ex-presidente do PT, sem citar Cunha.
O peemedebista ironizou o encontro: "Que desespero".
O almoço ocorreu um dia depois de PP e PR manifestarem a aliados de Cunha a disposição de apoiá-lo. O PRB já aderiu oficialmente ao peemedebista, mas é pressionado a recuar. A eleição de domingo é secreta, o que propiciará traições de lado a lado.
Cunha tem o apoio oficial até agora do PMDB, PTB, SD, DEM, PRB e PSC. Chinaglia conta com PT, PSD, PROS, PCdoB e, provavelmente, PDT.
A candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) está sob ameaça, já que partidos do bloco que o apoia (PSB, PSDB, PPS e PV) também ameaçam aderir a Cunha. O maior deles, o PSDB, tem reafirmado lealdade, mas parte dos tucanos faz campanha nos bastidores para Cunha.
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