• Governo trata de estimular a criação de mais partidos — como se já não bastassem 30 — para atrair oposicionistas e, em especial, peemedebistas
Abaixo da superfície do discurso a favor de uma reforma política alegadamente moralizadora, transcorre, no subsolo do campo político do governo, uma dessas manobras cujo desfecho resulta no oposto — em maior pulverização partidária e mais combustível para o fisiologismo.
À frente da operação está um especialista em prestidigitação, o ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, aquele que não se coloca no centro, nem na direita nem na esquerda, responsável pela ressurreição da sigla PSD — nenhuma semelhança com aquela fundada por Vargas para abrigar os getulistas conservadores —, partido feito sob medida para apoiar o governo petista de Dilma.
Atingido o objetivo, o ágil e também metamorfósico Kassab foi premiado, no segundo governo Dilma, com o Ministério das Cidades, estratégico para quem se dispõe a trocar verbas por votos. E já se lança em nova missão, também para ajudar o Planalto.
Kassab aplica seus conhecimentos no ramo para criar mais uma legenda, outra exumação, o PL, Partido Liberal, sigla que já teve como um dos principais nomes o falecido Álvaro Vale, do Rio de Janeiro. A manobra ocorre em paralelo a uma outra, idêntica, deflagrada pelo PR do senador Alfredo Nascimento (AM), defenestrado do Ministério dos Transportes quando a palavra de ordem no Planalto era “faxina ética”. Nascimento trabalha para fundar o Muda Brasil, seja lá o que isso signifique.
O objetivo de ambos, com a criação de dois “novos” partidos, é, aproveitando uma falha da legislação supostamente anti-infidelidade partidária, fundar legendas para atrair oposicionistas que desejam bandear-se para o bloco de apoio ao governo. Há sempre alguém, eleito pela oposição, que não consegue sobreviver fora do regaço do poder. O próprio PSD já cumpriu esta função. Como a legislação permite sair de partido para uma legenda nova, criaram-se as condições para esta farra. O objetivo principal, porém, é reduzir o peso do PMDB, o qual, com todas as mazelas, é barreira contra aventuras petistas no Congresso.
Ao estimular Kassab e o PR, o Planalto ajuda a ampliar a já excessiva pulverização partidária. Hoje, há 30 legendas reconhecidas pela Justiça eleitoral, das quais 28 têm representação no Congresso. Não espanta que haja negociatas nada republicanas de troca de apoio parlamentar por acesso a dinheiro público, e funcione um balcão de venda de tempo no programa eleitoral dito gratuito. O absurdo só faz aumentar, porque há mais legendas na linha de montagem. Entre elas, o Partido Piratas do Brasil (Piratas).
Não se deve parar de insistir: o caminho é o inverso, ou seja, a criação de cláusula de desempenho e o fim da coligação em eleições proporcionais, para que só tenha representação no Congresso e demais prerrogativas legenda que atraia votos, e só se eleja político com apoio efetivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário