Raphael Di Cunto – Valor Econômico
PT e PMDB, os dois maiores partidos da Câmara dos Deputados começam a delinear mais claramente quem serão os líderes da bancada em 2015, ano que prevê duros embates com o ajuste fiscal e denúncias contra parlamentares envolvidos em desvios na Petrobras, mas a definição dependerá da eleição do presidente da Casa, em que as duas legendas disputam poder, e da escolha do líder do governo.
O PT é o que está mais próximo de um acordo. A corrente majoritária na estrutura partidária, a Construindo um Novo Brasil (CNB), terá entre 29 e 34 deputados dos 69 eleitos - a conta depende de quantos "independentes" estarão alinhados ao grupo no momento da eleição. O resto da bancada é composto pela Mensagem ao Partido, Democracia Socialista e outros agrupamentos menores.
Para manter a unidade da bancada e evitar disputas no voto, a CNB e a Mensagem estão próximas de fechar um acordo de revezamento, repetindo o que ocorreu na atual legislatura. O indicado da CNB, Sibá Machado (AC), é o favorito para exercer a liderança neste primeiro ano, e caberia à Mensagem a indicação do segundo cargo de maior importância destinado ao PT - provavelmente a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Em 2016, a Mensagem indicaria o líder e a CNB o presidente da CCJ. Ainda há um impasse interno sobre o nome da corrente. O mais cotado é Décio Lima (SC), mas há outros candidatos como Alessandro Molon (RJ) e Afonso Florence (BA). O acordo, que deve ser selado em reunião no dia 31, também valeria para os cargos da Mesa Diretora e demais comissões.
Eventuais mudanças nesta ordem só devem ocorrer se a presidente Dilma Rousseff decidir mexer na liderança do governo - o que o ministro Pepe Vargas (PT), da Secretaria de Relações Institucionais, sinalizou ontem em café da manhã com jornalistas. O atual líder, Henrique Fontana (RS), é da Mensagem. Se o Planalto aceitar a pressão da CNB e indicar José Guimarães (CE), poderia haver uma troca e a Mensagem indicar o líder da bancada este ano para manter o equilíbrio de forças.
De qualquer forma, os dois nomes fogem do grupo paulista que tradicionalmente comandou a bancada do PT e foi mais ativo nas decisões, principalmente no governo Lula. Com Dilma, três dos quatro líderes foram de São Paulo e um do Nordeste, mas já houve uma reconfiguração de forças, com menos espaço para a CNB, que perdeu a liderança do governo.
No caso do PMDB, a mudança só ocorrerá se o atual líder, Eduardo Cunha (RJ), vencer a disputa pelo comando da Câmara. Disputam a vaga Manoel Júnior (PB), Marcelo Castro (PI), Danilo Forte (CE), Lúcio Vieira Lima (BA) e Leonardo Picciani (RJ). Os cinco apoiaram a eleição de Cunha há dois anos e são próximos do pemedebista, embora Danilo Forte e Lúcio Vieira Lima sejam vistos como mais independentes.
Dos cinco, apenas Manoel Júnior e Marcelo Castro fizeram campanha para Dilma em 2014. Os outros três, por desavenças locais com o PT, atuaram na linha de frente do grupo pró-Aécio Neves (PSDB) no PMDB e votaram contra a reedição da aliança nacional com os petistas - e, consequentemente, contra a recondução do vice-presidente Michel Temer (PMDB) no cargo.
As movimentações pela liderança da bancada, contudo, estão restritas aos bastidores por um pedido de Cunha, que não quis ver a bancada rachada em meio à disputa pela presidência da Câmara. A recomendação tem sido seguida publicamente, embora internamente pelo menos dois dos candidatos já tenham feito consultas a alas do PMDB sobre um eventual apoio.
Parte do PMDB vê a intenção de Cunha de emplacar Manoel Júnior, um de seus aliados mais próximos, para manter controle maior sobre a bancada, movimento negado por ambos. É uma dobradinha próxima a que Cunha tinha com o ex-líder, Henrique Eduardo Alves (RN), a quem substituiu quando este virou presidente da Câmara.
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