O detalhamento dos indicadores desastrosos da produção industrial em novembro não deixa qualquer margem para dúvida: o setor vive uma crise séria e abrangente. São poucos os segmentos que conseguiram escapar do cenário de desaceleração prolongada e que se aprofunda há meses. E o que é ainda pior, é que são poucas as esperanças de que o cenário mude de forma substantiva - para melhor - a curto prazo, diante da necessidade de aperto fiscal encampada pela equipe econômica do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
Senão, vejamos: o setor industrial apresentou uma queda de 3,2% na produção nos 11 meses terminados em novembro em relação ao mesmo período do ano anterior. As quatro grandes categorias econômicas estudadas pelo IBGE tiveram retrocesso, assim como 19 dos 26 ramos, 61 dos 79 grupos e 63,7% dos 805 produtos pesquisados. Em vários setores, a queda superou 10% - veículos automotores, reboques e carrocerias (-17,3%) e produtos de metal (-11,1%).
Em novembro, especificamente a produção industrial mostrou queda de 0,7% em relação a outubro. No confronto com novembro de 2013, o conjunto da indústria apontou redução de 5,8%. Foi a nona taxa negativa consecutiva nesse tipo de comparação e a mais intensa desde junho, quando o IBGE havia registrado um recuo de 6,9%. Assim, o setor industrial acumulou queda de 3,2% nos 11 meses do ano.
Esses dados foram analisados por especialistas de forma simples. Novembro foi a continuação de uma tendência que predominou de forma ampla no ano passado. "O resultado de novembro foi fraco e decepcionante, mas não é muito diferente do quadro geral que vimos ao longo de 2014", disse ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, Rodrigo Nishida, da LCA Consultores. "A indústria está fragilizada há anos e não há alguns meses. Desde 2011 vem registrando quedas", afirmou Fernanda Consorte, do Santander. "Isso em um cenário já desfavorável. Há aumento de juros, aperto monetário e agora teremos também contração fiscal. Ao longo de 2015 inteiro teremos resultados ruins."
Para dezembro, as projeções dos analistas indicam crescimento da produção pouco acima de zero. No ano, teria havido queda da ordem de 3%. Ou seja, de novo, a indústria vai ter um desempenho bem pior do que a economia de forma geral já que há um certo consenso entre governo e mercado financeiro de que o ano passado não fechou com queda no Produto Interno Bruto (PIB). As últimas pesquisas do boletim Focus (em que o Banco Central recolhe as opiniões de especialistas) indicam que as previsões são de que a economia brasileira cresceu algo como 0,14% ou 0,15% no ano passado. Isso significa, portanto, que a participação da indústria na composição do PIB vai perder importância mais uma vez abrindo mais espaço para o predomínio do setor de serviços.
Para alguns analistas, este início de ano poderá não ser tão ruim quanto o último trimestre de 2014 porque existem indicações de que o setor industrial ajustou seus estoques em dezembro. Entre novembro e dezembro, segundo a Sondagem da FGV, a diferença entre estoques excessivos e suficientes caiu de 13% para 10%, e em nove setores houve queda no indicador de mercadoria parada.
Se isso se confirmar, seria um bom sinal de que o setor privado está tentando se adequar a um cenário de menor demanda interna já que esperar medidas salvadoras do governo não teria sentido no segundo governo Dilma. Ficaram para trás, aparentemente, decisões como desonerações tributárias para segmentos industriais já que o momento agora é de ajuste das contas públicas.
E essa é uma prioridade do governo e não apenas da equipe econômica liderada por Joaquim Levy, da Fazenda. Em entrevista a Sergio Leo, colunista do Valor, ficou claro que o novo ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro Neto, está consciente de que há restrições orçamentárias sérias e ajustes a serem feitos. Mas vê espaço para um consistente programa de apoio às exportações, que pretende esboçar até fevereiro, quando o levará para debate com representantes do setor privado, e em seguida, em consulta aos outros membros do governo. "Só a exportação representa a perspectiva de animação da atividade econômica em um ano de baixo crescimento interno", defende.
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