• Texto diz que a presidente adota, no segundo mandato, estratégia "conservadora e ortodoxa" na economia
Fernanda Krakovics – O Globo
BRASÍLIA - Um dia depois de o Ministério da Fazenda anunciar um pacote de aumento de impostos, a Fundação Perseu Abramo (FPA), do PT, divulgou um boletim com análise de conjuntura na qual afirma que a presidente Dilma Rousseff, no início deste segundo mandato, adota estratégia "bastante conservadora e ortodoxa na política econômica". O documento ainda coloca em dúvida os efeitos do "ajuste recessivo" para alcançar os efeitos desejados. A Fundação Perseu Abramo foi criada em 1996 pelo PT para promover estudos e debates. Ela recebe pelo menos 20% dos recursos do Fundo Partidário destinados ao PT, de acordo com a Lei dos Partidos Políticos.
"O problema é que, diante da continuidade de um mundo em crise e da desaceleração abrupta do mercado interno (último motor de crescimento da economia nacional que ainda funcionava), a possibilidade desses ajustes aprofundarem as tendências recessivas da economia nacional não é desprezível", afirma o texto.
O documento não é assinado. Procurada, a assessoria de imprensa da fundação disse que ele foi escrito pelo economista Guilherme Mello, que trabalha para a fundação. Mello é doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura da instituição. Economistas, Dilma, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e o presidente da fundação, Marcio Pochmann, também passaram pela Unicamp.
O Boletim Diário de Conjuntura 236, divulgado ontem, faz uma análise sobre o pacote de aumento de impostos, que visa ampliar a arrecadação em R$ 20 bilhões; as mudanças de regras de benefícios sociais como o seguro-desemprego, que devem significar um corte de R$ 18 bilhões; o retorno de cobrança de Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre automóveis; e o corte de gastos correntes.
Segundo a análise feita pela fundação, o conjunto de medidas adotadas pelo governo neste início do segundo mandato de Dilma "indica uma clara inflexão na estratégia da política econômica". Ainda de acordo com o documento, o governo Dilma abandonou a agenda de incentivo à competitividade das empresas, como desonerações tributárias.
A escolha de Joaquim Levy, de perfil mais liberal, para o Ministério da Fazenda incomodou as alas mais à esquerda do PT. Ele colaborou com a campanha do candidato do PSDB, Aécio Neves, para presidente da República. Apesar do desconforto com as medidas impopulares, integrantes da corrente majoritária petista afirmam que elas são necessárias e lembram que o mesmo foi feito pelo ex-presidente Lula em seu primeiro mandato, quando o ministro da Fazenda era Antonio Palocci.
- O PT é um partido democrático, tem várias opiniões, e não necessariamente essa (da fundação) é a do conjunto do partido. Ele (Levy) é um especialista em finanças públicas, se ele está defendendo isso (aumento de imposto), é porque acha necessário para recompor o caixa do governo - disse Alberto Cantalice, vice-presidente do PT.
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