- O Globo
O Fórum Econômico Mundial, que começa seus debates hoje em Davos, dá razão à desistência da presidente Dilma, que preferiu ir à Bolívia a estar aqui. Pelo menos, na terceira posse em sequência de Evo Morales, a presidente brasileira terá lugar de destaque, dando a verdadeira dimensão a que o país está relegado no cenário internacional. Em Davos, a participação de autoridades brasileiras está limitada a discussões sobre a América Latina.
O programa prevê o ministro Joaquim Levy e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, num debate sobre os desafios econômicos do continente, ao lado de autoridades da Colômbia e do México. O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, Marcelo Neri, participará de outra discussão sobre a economia latino-americana, ao lado do presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, que é um dos patrocinadores do evento.
E nem mesmo no debate sobre os BRICS estamos incluídos, participarão apenas representantes da China, da Índia e da África do Sul. Representantes do Brasil e Rússia, que enfrentam graves crises econômicas, não estão previstos, a Rússia enviou apenas membros de segundo escalão, sabedora de que, além da economia, teria um campo minado na discussão de política internacional devido à questão da Ucrânia.
Já o Brasil, com três ministros presentes, ainda tentava ontem incluir Joaquim Levy, da Fazenda, ou Marcelo Neri, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, na mesa redonda dos BRICS. Houve um ano aqui em Davos em que Fórum Econômico Mundial tirou simbolicamente uma letra da sigla mais famosa dos últimos anos nas consultorias econômicas.
Na reunião de 2006, apenas os RICS tiveram atenção especial dos analistas, ficando o Brasil de fora das expectativas. Hoje, os BRICS, acrônimo que já serviu de referência à palavra inglesa "Brick", de tijolo, a imaginar a construção de um novo mundo com Brasil, Rússia, Índia, China e posteriormente África do Sul (South Africa em inglês), já não serve para trocadilhos como o inventado por Jim O"Neal, economista na época na Goldman Sachs.
Brasil, Rússia e África do Sul saíram do radar da economia mundial, e é esse espaço que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vem tentar recuperar aqui, mas dificilmente terá muito destaque, pois está chegando em momento de grande expectativa na Europa diante da possibilidade de o Banco Central Europeu anunciar nova injeção de dinheiro nos países da União Europeia.
Também na Suíça, anfitriã do encontro, a questão econômica está na ordem do dia depois que o Franco Suíço foi valorizado inesperadamente para o nível do Euro, deixando o que já era caro mais caro ainda. Estarão no encontro de Davos nada menos que oito presidentes de bancos centrais do mundo, inclusive o brasileiro Alexandre Tombini, mas não o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi.
Tombini virá apenas no dia 22, depois que o Banco Central do Brasil anunciar a taxa de juros, que provavelmente terá mais um aumento. Já Draghi, que aproveitou o palco do mesmo Fórum Econômico Mundial, anos atrás, para anunciar que o Banco Central Europeu não deixaria faltar incentivos para a economia europeia, desta vez deve anunciar nova fase de incentivos longe de lá, mas será certamente o centro das discussões também no dia 22.
Nunca serviu tanto para o Brasil a definição deste ano feita pelo fundador e presidente do encontro Klaus Schwab, embora em outra perspectiva. Para ele, 2015 será "um ano de encruzilhada", referindo-se aos conflitos internacionais envolvendo o terrorismo. Ele vê dois caminhos possíveis: "um mundo de desintegração, de ódio, de fundamentalismo; ou um mundo de solidariedade e de cooperação".
Enquanto o destino da Humanidade estará sendo jogado este ano, no Brasil nós estaremos jogando um jogo de vida ou morte para recuperar a economia e poder voltar a ter peso nas decisões internacionais num momento crucial como este.
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