- Folha de S. Paulo
A coalizão de Dilma está conflagrada. Os ministros tentam puxar o tapete uns dos outros. O MST ataca o governo para defendê-lo. A oposição se divide sobre os protestos. Os manifestantes não conseguem unificar suas bandeiras.
O noticiário dos últimos dias dá a impressão de que só existe uma aliança sólida no país: a dos políticos investigados no petrolão.
Parlamentares de diferentes partidos se juntaram para tentar salvar a própria pele. Todos se dizem indignados e surpresos. Todos negam as acusações com veemência. Todos atacam o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Para a turma da Lava Jato, o responsável por investigar a corrupção virou o inimigo público número um do país. A senha para a inversão de papéis foi dada por ninguém menos que o senador Fernando Collor, do PTB. Ele acusou o chefe do Ministério Público de ser "parcial e irretratável" e de fazer "pirotecnia" em busca da "momentânea celebrização".
O senador Humberto Costa, líder do PT, criticou a investigação e disse que o procurador quer ser "o homem mais poderoso da República".
O deputado Paulinho da Força, do Solidariedade, solidarizou-se com os suspeitos e pediu a quebra do sigilo telefônico de Janot. Sua sigla passou a abrigar Luiz Argôlo, o ex-deputado do PP que trocava torpedos carinhosos com o doleiro do petrolão.
A tribuna aceita qualquer coisa, e cada investigado é livre para definir sua linha de defesa. O grave é transformar críticas em ameaças institucionais, como têm feito os presidentes da Câmara e do Senado.
Eduardo Cunha acusou o procurador de se curvar ao governo e propôs mudar a lei para impedir sua recondução em setembro. Renan Calheiros ensaiou criar uma CPI para investigar os investigadores.
Se os indignados que vão às ruas hoje estiverem em busca de uma causa mais legítima que o impeachment, o respeito à independência do Ministério Público é uma boa opção.
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