• Desde o início do 2º mandato, número de eleitores com medo do aumento do desemprego e da inflação só cresce
Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli - O Estado de S. Paulo
A queda acentuada de popularidade da presidente Dilma Rousseff, que neste domingo será alvo de protestos em diversas cidades do País, coincide com a mais intensa reversão de expectativas econômicas ocorrida nas últimas duas décadas. Desde o início de seu segundo mandato, o número de eleitores com medo do aumento do desemprego e da inflação chegou às alturas, poucos meses depois de atingir, durante a campanha eleitoral, os níveis mais baixos desde o governo Fernando Henrique Cardoso.
O pessimismo em relação ao aumento da inflação, segundo série histórica de pesquisas do instituto Datafolha, supera atualmente até os níveis registrados logo após a desvalorização do real ocorrida no início do segundo mandato de FHC. A preocupação com o desemprego ainda não chegou ao patamar da era tucana, mas a linha de tendência aponta para isso.
Os gráficos publicados nesta página mostram como se manifestaram as ondas de pessimismo econômico nos cinco primeiros anos de governo dos três últimos presidentes. As linhas revelam uma clara tendência de melhora das expectativas durante as campanhas eleitorais de reeleição - época de bombardeio de propaganda na televisão - e de piora no primeiro ano do segundo mandato. Mas as guinadas da gestão Dilma se destacam pela intensidade.
O pessimismo em relação à economia ajuda a explicar os ânimos acirrados contra a presidente, evidenciados no "panelaço" do domingo passado e em manifestações que hoje tentam se lançar do palco virtual das redes sociais para o concreto das ruas e praças e de cidades grandes e médias.
Mas o panelaço e o bombardeio virtual contra a presidente e seu partido são também a continuação de um movimento já observado na campanha eleitoral do ano passado, marcada pela acirrada polarização entre o eleitorado pró e anti-PT.
Após a eleição, que Dilma venceu com 51,6% dos votos - o placar mais apertado desde a redemocratização -, a mobilização de grupos contrários à presidente ganhou impulso com o detalhamento do escândalo de corrupção da Petrobrás e a acusação, feita por ex-funcionários da estatal, de que partidos da base governista foram beneficiados pelo desvio de recursos.
A onda de insatisfação também se alimentou da série de más notícias no front econômico, desde a aceleração da inflação ao anúncio de medidas impopulares para reduzir o déficit público. No início de fevereiro, segundo o Datafolha, 44% dos brasileiros consideravam o governo ruim ou péssimo - a taxa mais alta da gestão da petista.
Dispersão. A fragilidade do governo também se evidencia no Congresso. No início de seu segundo mandato, Dilma está com a mais baixa taxa de fidelidade na Câmara dos Deputados desde o início da série histórica do Basômetro, ferramenta interativa do Estadão Dados que calcula a taxa de governismo dos parlamentares brasileiros. Desde 2003, no primeiro ano do governo Lula, nenhum presidente teve de lidar com uma base tão adversa.
Nas 14 votações que já ocorreram em 2015, em média, 70% dos votos dos deputados seguiram a orientação do governo. Essa taxa está 11 pontos abaixo da registrada nas primeiras 14 votações do segundo governo Lula - a melhor marca nessa mesma faixa de comparação. A situação tende a piorar para a presidente, já que, em regra geral, o início de governo costuma ter as maiores taxas de governismo do mandato.
Outra maneira de avaliar o governismo é medir o chamado "núcleo duro" do governo, formado por deputados que sempre ou quase sempre votam de acordo com a orientação do Executivo. Neste início de mandato, apenas 114 parlamentares votaram 90% das vezes ou mais com o governo, o que representa 30% do total - quase metade do que no mesmo período do governo anterior de Dilma, em que 58% dos deputados faziam parte do núcleo duro.
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