- O Estado de S. Paulo
O clima de entendimento verificado na votação do veto presidencial ao reajuste da tabela do Imposto de Renda, que evitou outra derrota anunciada para a presidente Dilma Rousseff, já foi reflexo da mudança na articulação do governo, ampliada para esfriar a temperatura política.
Na prática, revogou-se os mandatos de negociadores dos chamados ministros palacianos, aqueles que têm assento em salas vizinhas à da presidente - Aloizio Mercadante (Casa Civil), Pepe Vargas (Relações Institucionais) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), todos do PT, como queria o ex-presidente Lula.
O movimento procurou preservar esses ministros caracterizando-se como uma ampliação da equipe de articulação. Mercadante, na versão atribuída a Lula, deveria ficar apenas como gestor interno, a exemplo de Dilma no mesmo posto, no governo Lula.
Entraram em campo os ministros Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia), Eliseu Padilha (Aviação Civil) e Gilberto Kassab (Cidades), do PC do B, PMDB e PSD, respectivamente, reforçados por dois outros petistas que já tinham ação paralela - Jacques Wagner (Defesa) e Ricardo Berzoini (Comunicações).
Não por acaso, o desenho idealizado pelo ex-presidente. Rebelo já fora seu articulador político, Padilha, do governo Fernando Henrique, e Kassab já exercia a defesa de Dilma desde seu primeiro mandato. Todos atuaram intensamente na sessão que evitou a derrubada do veto presidencial à tabela do IR.
A ação se mostrou eficaz por trabalhar na linha de separação da crise econômica e da política. E seu êxito pontual indica compreensão de que, sem o ajuste fiscal, a crise se avoluma e enreda todos no mesmo tsunami.
Dada a teimosia ou a insuficiência da presidente para o exercício da negociação e sua resistência em admiti-las, esse pequeno avanço obtido ganha ares de tutela imposta pelas circunstâncias.
De um lado, o ministro da Fazenda tem o comando da economia, embora sob o constrangimento da presidente; de outro, a política exercida por um triunvirato que ela não escolheu, mas que conquistou seu próprio espaço.
O pano de fundo é a dinâmica própria que o movimento pelo impeachment ganhou, à revelia dos partidos, o que inclui a oposição. Ninguém quer esse desfecho, mas todos temem que ele tenha vida própria se permanecerem o isolamento e a desorientação presidencial diante da crise conjugada da economia e da política.
Já o PT morreu mais um pouco depois do depoimento do ex-gerente da Petrobrás Pedro Barusco.
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