• Vice busca melhorar a relação com a Câmara, sem se afastar dos aliados
Júnia Gama e Isabel Braga
BRASÍLIA — Como novo articulador político do governo, o vice-presidente Michel Temer já começa a atuar para apaziguar o terreno minado que se instalou na Câmara desde a eleição de seu correligionário Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para o comando da Casa. Com trânsito direto entre os deputados, Temer tem procurado os parlamentares para negociar mudanças em projetos de interesse do Planalto, como o das terceirizações, e evitar o cenário de derrotas sucessivas para a presidente Dilma Rousseff.
A equação delicada sobre a qual Temer tem que se equilibrar envolve a necessidade de conseguir vitórias para o governo, firmando assim sua relevância como articulador, e atender tanto o seu partido, o rebelde PMDB, quanto as legendas aliadas. Essas estão cada vez menos comprometidas com o governo Dilma pelo distanciamento estabelecido por ela e seus interlocutores políticos com o Congresso.
O impasse sobre o projeto da terceirização na última semana teve como pano de fundo uma queda de braço entre Temer e o presidente da Câmara. Cunha agiu para fazer prevalecer sua vontade sobre o texto e ameaçou desfazer acordo patrocinado por Temer com o Ministério da Fazenda. O adiamento da votação foi considerado a primeira derrota de Cunha na Câmara.
Interlocutores do vice negam que ele vá partir para o embate contra o aliado, mas avisam que Temer irá trabalhar para defender os interesses do governo e se firmar como articulador eficaz.
— Cunha não teve força nessa votação porque Temer está trabalhando para manter suas prerrogativas na articulação. Isso vai ficar cada vez mais patente. Existe um interesse em firmar a liderança dele na defesa das posições do governo — diz uma pessoa próxima ao vice.
Além da longa história parlamentar, conta a favor de Temer o fato de ter, a princípio, “carta branca” de Dilma para tratar temas que exercem apelo imediato: a nomeação para cargos no governo e a liberação de emendas parlamentares.
Cunha, por sua vez, apesar de continuar insistindo que a Câmara se manterá independente em relação ao governo, nega que vá haver queda de braço com o vice-presidente. Ele admite, no entanto, que nem sempre os interesses do governo coincidirão com os do Parlamento:
— Não tem queda de braço. É óbvio que o Michel, na articulação, terá que tentar reconquistar a maioria na base. Mas isso não será nenhuma queda de braço porque não conduzo o resultado de votações contra o governo. Não sou mais o líder do PMDB.
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