• De "conspirador" ele passou a ser visto como "resolvedor" da República
• "Passei um mês sem conseguir falar com ela. Hoje, já conversamos 8 vezes", confidenciou o vice a um aliado
Natuza Nery – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer (PMDB) ganhou status novo no Planalto. De "conspirador" da República, como era chamado até poucos dias atrás por ministros próximos à presidente Dilma Rousseff, o peemedebista foi promovido ao posto de "resolvedor-geral" da Esplanada.
Não muito tempo atrás, ele precisava acionar o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, quando tinha algum assunto urgente para tratar com a presidente Dilma. Não era chamado para reuniões nem procurado quando o PMDB, seu partido, causava problemas em votações importantes no Congresso Nacional.
Mas a crise política e econômica que o governo enfrenta mudou o papel do vice na configuração da Esplanada.
Nomeado articulador político no último 7 de abril, após sucessivos fracassos de ministros petistas no comando das negociações com o Legislativo, Temer já falou mais com Dilma nas últimas duas semanas do que durante todo o primeiro mandato.
Depois de quatro anos no ostracismo, já não há um dia sequer em não fale com a petista. Sua agenda ficou pequena diante das demandas. Governadores, senadores, deputados e prefeitos passaram a disputa audiências com ele.
O assédio saltou do zero ao dez em duas semanas. "Passei mais de um mês sem conseguir falar com ela.
Hoje, já conversamos oito vezes e não é nem meio-dia ainda", relatou o vice a aliados, nitidamente surpreso com a mudança da rotina na relação com Dilma.
Testes de fogo
Além de reduzir o nível de instabilidade com o PMDB e demais partidos da base, Temer tem diante dele dois testes de fogo: aprovar o pacote fiscal elaborado pelo Ministério da Fazenda para salvar a credibilidade do governo e evitar o naufrágio da economia brasileira e operar contra a deflagração de um processo de impeachment na Congresso.
O presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem reiterado publicamente não haver elementos para tanto, mas caberá ao vice-presidente a tarefa de garantir que esse posicionamento do correligionário se mantenha diante da pressão cada vez maior dos partidos de oposição, que vem aumentando o tom contra a presidente nas últimas semanas.
Trata-se de algo curioso. Até fevereiro, circulava na Casa Civil a versão de que Temer estimulava a revolta das ruas para ser o beneficiário direto de uma eventual deposição presidencial.
Possivelmente por essa razão, ponderam auxiliares de ambos os lados, demorou tanto para que a petista colocasse na articulação política de sua gestão um nome que presidiu a Câmara por três vezes e que, apesar de não ter o mesmo poder que no passado, ainda exerce grande influência no PMDB.
Entregar o cargo de embaixador político do governo era uma sugestão antiga do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas que Dilma renegava com frequência. A escolha só virou realidade quando já não havia muitas alternativas ao alcance da mão da petista.
Apesar da pouca fé palaciana, Dilma tem feito elogios nos bastidores ao vice.
Sempre que o assunto aparece, diz que Temer é "habilidoso", "fala a língua do PMDB", e já conseguiu diminuir um pouco a temperatura da atual crise.
Mudança de gabinete
Quem sabe agora, com mais cartaz, Michel Temer consiga mudar de gabinete. Há anos ele tenta sair do andar térreo de um prédio anexo ao Planalto reservado aos vices, e onde fica com pouca condição de segurança.
O problema é que o segundo andar do mesmo edifício já tem dono, o ministro José Elito, titular do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). O vice até hoje não havia convencido o Palácio de que seu cargo tem mais peso que um ministério
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