quarta-feira, 13 de maio de 2015

Celso Ming - Mais sintonia

• Um conjunto de sinais nos dá conta de que hoje reina maior harmonia entre autoridades fiscais (Ministério da Fazenda) e autoridades monetárias (Banco Central)

- O Estado de S. Paulo

Quando o mercado imobiliário reivindicou a liberação de recursos das cadernetas, retidos no Banco Central, para impulsionar o crédito imobiliário que está minguando, a resposta das autoridades da Fazenda foi a de que não podem fazer jogo contrário ao do Banco Central, que é conter o crédito.

Se a política monetária (política de juros) é restritiva, ou seja, é de redução do volume de moeda na economia, qualquer liberação artificial de crédito vai na contramão do que pretende o Banco Central.

Bem, essa resposta dada há dias pode ter sido uma desculpa, apenas para não atender ao pleito do mercado imobiliário, num momento em que a política é de ajuste. Poderia ser outra: a de que as retenções de 20% dos saldos em poupança são exigência prudencial, destinada à formação de reservas para serem usadas em caso de saques altos demais. E também seria uma resposta adequada.

Independentemente das razões e eventuais arrazoados empinados pelas autoridades, um conjunto de sinais nos dá conta de que hoje reina maior harmonia entre autoridades fiscais (Ministério da Fazenda) e autoridades monetárias (Banco Central).

Na administração anterior, o ministro Guido Mantega não olhava para a política monetária. Despejou à vontade recursos do Tesouro para que os bancos oficiais se esbaldassem no crédito. Nos últimos seis anos foram R$ 416 bilhões para o BNDES, R$ 21 bilhões para a Caixa Econômica Federal e R$ 8,1 bilhões para o Banco do Brasil.

Por conta desse aleluia de dinheiro fácil e farto, o Banco Central teve de puxar os juros para níveis muito mais altos do que teria de puxar, para neutralizar o jogo expansionista da Fazenda. E, não contente com isso, o ministro Mantega ainda se queixava de que o crédito andava escasso.

O que então prevalecia no Ministério da Fazenda era o falso entendimento de que o consumo teria de ser catapultado com isenções tributárias, aumento das despesas públicas e crédito abundante para impulsionar a atividade econômica e atrair investimentos. Isso não aconteceu.

O PIB definhou e os investimentos sumiram. Não se recuperaram nem quando a presidente Dilma apelou para que o empresário soltasse seu espírito animal.
Outro resultado ruim foi o estouro da inflação que o Banco Central foi chamado a combater. Mas persistiu o jogo maluco em que a Fazenda injetava dinheiro e a autoridade monetária se punha a enxugar.

Alguma distorção ainda pode persistir entre Fazenda e Banco Central, mas ambos agora remam na mesma direção. Quando isso acontece, o barco chega mais rapidamente a seu destino e a reversão das políticas econômicas pode ocorrer antes.

Agora, o Banco Central não tem mais de fingir que acredita na eficácia da política fiscal, como rezavam as Atas do Copom nos dois últimos anos. Em compensação, tem agora mais condições para recuperar a credibilidade e ancorar as expectativas de inflação.

A partir do momento em que todo o mercado acreditar em que a inflação estará embicando para os 4,5% ao final de 2016, os juros poderão não só parar de subir, mas poderão começar a cair - desde que o governo Dilma não repita as lambanças passadas.

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