- Folha de S. Paulo
A Câmara de Eduardo Cunha vai parir mais uma aberração. O relator da reforma política, Marcelo Castro (PMDB-PI), discorda do texto que ele mesmo apresentou nesta terça. O deputado está tão contrariado que promete votar contra o próprio relatório no plenário.
O motivo da discórdia é o distritão, sistema eleitoral defendido por Cunha e pela cúpula do PMDB. Castro não queria incluir o modelo no relatório. Sob intensa pressão de seu partido, que ameaçou destitui-lo do cargo, foi forçado a voltar atrás.
"Em três meses, recebemos vários cientistas políticos e presidentes de partidos na comissão. Ninguém defendeu o distritão, exceto o presidente do PMDB", conta o relator.
O distritão muda a forma como são eleitos os deputados. O sistema ignora o desempenho dos partidos e prevê a eleição dos candidatos com maior votação individual. Para o relator da reforma, isso aumentará o custo das campanhas e a quantidade de celebridades na política.
"Como o distritão é a luta de todos contra todos, quem gastar mais terá mais chance de vir para o Congresso. Vamos escolher os nossos representantes pelo pior critério possível: o critério do dinheiro", diz ele.
Além dos milionários, Castro prevê que só deverão sobreviver os candidatos famosos ou que já estão no poder. É por isso, afirma, que o modelo ganhou tanta força na Câmara. "Se for adotado, a maior parte dos deputados que estão aqui conseguirá se reeleger", explica o relator.
Para o peemedebista, o sistema ainda acentuará a fragmentação partidária. Hoje 28 siglas estão representadas na Câmara. A maior delas, o PT, tem apenas 12% das cadeiras. "Isso inviabiliza qualquer governo. Imagine o Obama ou a Merkel com uma base dessas", diz o relator, sem esconder o desânimo.
"Nós precisávamos fazer uma reforma política para consertar os problemas que existem hoje. O distritão só vai agravá-los. O que já está ruim vai piorar", desabafa.
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