• Em Brasília, ex-presidente cumpre agenda de governante, conversa com marqueteiro do Planalto e diz a aliados petistas que "batalha será dura"
Vera Rosa – O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Dias após afirmar que o PT está "abaixo do volume morto", o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em conversa reservada, que o par-tido precisa apontar a artilharia para seus acusadores e "dar a volta por cima".
Com o PT, o governo Dilma Rousseff e até uma de suas campanhas atingidas pela delação do dono da UTC, Ricardo Pessoa, Lula cobrou do partido uma reação "vigorosa" diante das denúncias. "Todo vazamento é contra o PT", reclamou o ex-presidente, repetindo bordão usado a cada denúncia. "Não importa que seja verdade ou não. O que sabemos é que a batalha, daqui para a frente, será muito dura."
Lula se reuniu à tarde com o marqueteiro João Santana e com dirigentes do PT, em Brasília, antes do encontro com a bancada do partido na Câmara e no Senado. Santana foi chamado para fazer o programa do PT, que irá ao ar em 6 de agosto. A orientação é para que, a partir de agora, nenhuma acusação fique sem resposta. Atualmente, Santana está fazendo a campanha presidencial de José Manuel. De La Sota, na Argentina.
A portas fechadas, Lula afirmou que, neste momento, não adianta o PT pensar na eleição de 2018. Apesar de todas as dificuldades, o ex-presidente ainda é o principal nome do PT para a sucessão de Dilma. "O que a gente precisa é repensar o nosso papel na sociedade", cobrou.
Freio de arrumação. Enquanto Lula tentava descobrir uma solução para a crise política, que se agrava, a cada dia, Dilma se encontrava com grandes empresários nos Estados Unidos. Além de tentar colocar um freio de arrumação na articulação do PT no Congresso, o ex-presidente vai conversar com dirigentes do PMDB.
Na manhã de hoje, por exemplo, ele tomará café da manhã com o presidente do Senado, Ren.an Calheiros (PMDB-AL). Apesar de aliado, Renan tem criado muitos problemas ao Palácio do Planalto desde que seu nome entrou na lista dos investigados na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que apura corrupção na Petrobrás.
Na conversa reservada com petistas, ontem à tarde, Lula avaliou que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, precisa ser enquadrado pelo PT porque "perdeu o controle" da Lava Jato e da Polícia Federal. "Por que ninguém investiga as doações recebidas pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso e pelo PSDB?", perguntou o ex-presidente, segundo relato de um deputado do PT.
A cúpula do partido decidiu, na semana passada, chamar Cardozo para cobrar explicações sobre o que considera "falta de isonomia" no tratamento conferido pela PF a petistas e tucanos. Além disso, cresce no PT e no Instituto Lula o movimento dos que querem a "cabeça" do ministro. Dilma, porém, se recusa a demitir Cardozo.
A ida de Lula a Brasília, coincidindo com a visita de Dilma aos Estados Unidos, não agradou a auxiliares da presidente. Na avaliação de um ministro do PT, o sinal que se passa para a opinião pública é que Lula tenta assumir "o controle do barco" enquanto Dilma está fora.
União. Dilma e Lula não se falam desde que o ex-presidente fez críticas públicas ao governo e ao PT. Dois ministros tentam reaproximar os dois, sob o argumento de que, diante de tanto tiroteio, a hora é de pacificar as relações. "Um momento como esse é de fazer um pacto pelo PT e pela governabilidade", disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PF-CE).
"Estamos "sob fogo cerrado. Tudo o que não podemos fazer é brigar." Para o deputado Beto Faro (PT-PA), é preciso um "comando unificado" no Congresso para o PT reagir. "Está todo mundo meio atônito com tanta pancada."
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