Sergio Lamucci e Leandra Peres - Valor Econômico
NOVA YORK - A presidente Dilma Rousseff negou ontem a existência de irregularidades na sua campanha eleitoral do ano passado, afirmando que "não respeita delator", ao falar pela primeira vez sobre as denúncias que constam na delação premiada feita pelo presidente da UTC, Ricardo Pessoa. No texto homologado pelo Supremo Tribunal Federal, Pessoa disse ter feito doações ilegais que somaram R$ 7,5 milhões para a campanha pela reeleição no ano passado.
"A minha campanha recebeu dinheiro legal, registrado, de R$ 7,5 milhões. Na mesma época em que eu recebi os recursos, pelo menos uma das vezes, o candidato que concorreu comigo recebeu também, com uma diferença muito pequena de valores", disse a presidente, em entrevista em Nova York depois de encerrar um seminário sobre oportunidades em infraestrutura no Brasil. Dilma fazia uma referência ao presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), derrotado por ela no segundo turno, que também recebeu doações registradas da UTC.
"Além disso, eu nunca recebi esse senhor. Nunca o recebi em toda minha passagem pelo meu primeiro mandato", afirmou Dilma. "Eu não aceito e jamais aceitarei que insinuem sobre mim ou a minha campanha qualquer irregularidade. Primeiro porque não houve. Segundo, se insinuam, alguns têm interesses políticos."
A presidente então lembrou que é mineira e fez uma referência sobre o movimento da Inconfidência Mineira, que foi desbaratado pela ação do delator Joaquim Silvério dos Reis. "Em Minas, na escola, quando aprende como é a bandeira, você desenha o triângulo e escreve 'Libertas que sera tamen [Liberdade ainda que tardia]' e aprende sobre a Inconfidência Mineira. E há um personagem que a gente não gosta, porque as professoras nos ensinam a não gostar dele. Ele se chama Joaquim Silvério dos Reis. É o delator."
Dilma então emendou. "Eu não respeito delator. Até porque estive presa na ditadura e sei o que é. "Tentaram me transformar em uma delatora. A ditadura fazia isso com as pessoas presas".
A presidente acrescentou ter resistido "bravamente". "Em alguns momentos fui mal interpretada porque disse que na tortura a gente tem de resistir se não você entrega [outras pessoas]. Não respeito nenhuma fala". Segundo Dilma, "a Justiça tem de pegar tudo o que ele disse e investigar".
"[Investigar] Tudo, sem exceção. A Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal." Questionada se tomaria alguma providência em relação ao empresário, Dilma respondeu: "Se ele falar sobre mim, eu tomo". Sobre os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação Social), que também foram envolvidos nas denúncias do empreiteiro, Dilma foi lacônica: "Vamos avaliar com cada ministro que é foro deles."
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