Cristiane Jungblut e Fernanda Krakovics - O Globo
• Ex-presidente também conversa com Mercadante e cúpula do PMDB
BRASÍLIA - Enquanto a presidente Dilma Rousseff cumpre agenda oficial nos Estados Unidos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ontem a Brasília para uma série de reuniões com dirigentes e parlamentares do PT, com a cúpula do PMDB e com o marqueteiro João Santana. Ele também telefonou para o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), citado na delação premiada de Ricardo Pessoa, dono das construtoras UTC e Constran, investigado na operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que investiga esquema de corrupção na Petrobras. A campanha de Lula em 2006 também foi citada na delação de Ricardo Pessoa como tendo recebido R$ 2,4 milhões da UTC.
A presença de Lula em Brasília não agradou ao Palácio do Planalto. A avaliação é que a movimentação do ex-presidente na capital federal agrava a crise gerada com o depoimento de Pessoa. Em encontro que contou com a presença do presidente em exercício, Michel Temer, e Mercadante, os governistas avaliaram que o encontro de Lula com deputados e senadores do PT, ontem à noite, traria mais ruído e acabaria ofuscando a viagem de Dilma aos EUA.
- Esse encontro já estava marcado, mas só aumenta a crise - disse um participante do encontro.
Celulares fora da sala
A reunião do ex-presidente com as bancadas do PT da Câmara e do Senado tinha como um dos principais objetivos articular a reação política à investigação da Polícia Federal. Reclamando, segundo pessoas próximas, que o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) não controla a PF, Lula passou a atacar, nas últimas duas semanas, o governo Dilma e a criticar também o PT, que, de acordo com o ex-presidente, envelheceu e "só pensa em cargos". Na reunião de ontem, Lula exigiu que deputados e senadores petistas deixassem os celulares do lado de fora da sala para evitar vazamentos.
Ministros e interlocutores do Planalto também consideraram um equívoco a estratégia adotada pela própria presidente Dilma de colocar o ministro da Justiça no foco da crise gerada pelo depoimento de Pessoa, ao participar da entrevista dos ministros Edinho Silva (Comunicação) e Mercadante no último sábado. Na ocasião, ambos se defenderam das acusações de que receberam recursos ilegais do empreiteiro e de que as doações foram feitas para a manutenção de contratos das empresas de Pessoa com a Petrobras.
Em sua passagem pela capital federal, Lula ainda tomará café da manhã hoje com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O peemedebista se tornou um dos principais adversários do governo desde que perdeu o comando do Ministério do Turismo, no início do ano, e passou a ser investigado na operação Lava-Jato.
Após confidenciar a aliados estar cansado de não ser ouvido por Dilma nem ser defendido pelo governo ao ter seu nome ligado a empreiteiras investigadas pela Lava-Jato, Lula passou a articular o contra-ataque por conta própria.
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