Mariana Sanches – O Globo
• Ex-candidata a presidente afirmTou em SP que plano de concessões é ‘medida sobre leite derramado’
SÃO PAULO — Ex-candidata à Presidência da República pelo PSB, Marina Silva fez nesta terça-feira severas críticas à presidente Dilma Rousseff e afirmou que o governo levou o país de volta “ao período pré-industrial”. Em um evento sobre meio ambiente na Câmara Municipal de São Paulo, Marina criticou a condução do ajuste econômico feita pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e afirmou que os cortes são mais profundos porque o governo “perdeu a credibilidade”. Marina ainda considerou “medidas sobre o leite derramado” o Plano de Concessões de Obras anunciado pelo governo federal.
— O que está acontecendo é muito grave. Nós estamos vendo milhares e milhares de postos de trabalho desaparecerem da noite para o dia, a população está ficando cada vez mais endividada, quando vai ao supermercado o salário está ficando cada vez menor em função da inflação. Esse é o momento de reconhecer a gravidade dos problemas e recuperar credibilidade — disse Marina, em entrevista coletiva.
Questionada sobre a profundidade e o foco dos cortes no Orçamento promovidos pelo ministro Levy, Marina disse que o governo espera que a população faça todo o sacrifício sozinha:
— O ajuste é feito de uma forma muito mais amarga em função da falta de credibilidade. Como não há autocrítica sendo feita e o governo pede para que a sociedade faça sacrifícios, fica muito difícil que os sacrifícios sejam feitos por quem menos pode. Exatamente nesse momento quem paga o maior preço é quem não tem como pagá-lo sozinho. O governo continua com 39 ministérios, com mais de 20 mil cargos em comissão, sem reconhecer os erros que cometeu para poder ganhar uma eleição — disse ela.
A ex-candidata, que, quando estava no PT foi senadora pelo partido no Acre e ministra do governo Lula, criticou ainda as Medidas Provisórias (MPs) que dificultam o acesso aos direitos trabalhistas:
— No momento em que a população mais precisa de seguro-desemprego porque está ficando desempregada, são criadas barreiras para o acesso ao seguro-desemprego. No momento em que a sociedade precisa ser treinada para ter a esperança de um novo posto de trabalho, estão reduzindo os recursos do Pronatec pela metade. Há uma contradição muito grande entre as necessidades reais do país e aquilo que está sendo feito.
Marina demonstrou ceticismo em relação ao sucesso do Plano de Concessões de Obras, anunciado hoje pelo governo federal, dizendo que "são medidas tomadas sobre o leite derramado". E criticou o desejo da presidente Dilma de criar mecanismos para agilizar o licenciamento ambiental das obras:
— Dilma disse hoje que quer uma legislação para simplificar o licenciamento. O problema não é o meio ambiente, nós somos o eterno bode expiatório. O gestor público não acelera nem dificulta nada, ele cumpre regimentos de forma republicana — disse Marina durante sua palestra, lembrando que foi apelidada de "ministra dos bagres" durante a polêmica do licenciamento ambiental das usinas hidrelétricas do Rio Madeira, em Rondônia.
Financiamento de Campanha
Marina Silva fez críticas indiretas à aprovação do financiamento empresarial de campanha pela Câmara dos Deputados, em votação capitaneada pelo presidente Eduardo Cunha. Segundo Marina, seu partido, a Rede Sustentabilidade, cujo registro espera decisão judicial, defende financiamento público com a possibilidade de doações de pessoas físicas até um certo limite.
— A ideia é ter muitos contribuindo com pouco, para diluir as doações. Assim não fulaniza as contribuições — afirmou Marina, que já adotou sistema de doação de pessoa física online com resultados bastante modestos durante suas duas campanhas eleitorais.
Agora, a ideia é ter um fundo partidário voluntário para a Rede, que, por mudanças na lei eleitoral, não terá acesso ao fundo partidário público. Segundo ela, para funcionar, o modelo pode demorar muitos anos porque precisa de uma mudança de educação política da população:
— Infelizmente há um descolamento das pessoas em relação aos políticos e partidos. E a sociedade não tem motivos para dizer “eu vou contribuir” porque não há mais discussões de ideias entre partidos, é discussão de tempo de TV, marqueteiro — disse Marina.
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