Sérgio Roxo – O Globo
• Ataques diretos ao ajuste fiscal foram substituídos por propostas de taxações aos mais ricos
SÃO PAULO - A chapa majoritária do PT, Partido que Muda o Brasil (PMB), mudou o discurso e decidiu poupar o governo federal de críticas em relação à política econômica em carta aos delegados que participarão do 5º congresso da legenda, que começa na quinta-feira, em Salvador. Ataques diretos às medidas implantadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, presentes na tese original da chapa elaborada em março, foram substituídos por uma análise negativa do modelo neoliberal.
Fazem parte da chapa PMB, entre outros, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do partido, Rui Falcão. Na tese original elaborada em março, a chapa criticava o governo por não ter consultado a sociedade sobre as medidas econômicas implantadas no início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff e pelo “ajuste ter recaído mais sobre os trabalhadores do que sobre outros setores das classes dominantes”.
Agora, logo no primeiro parágrafo, o novo documento os petistas dizem se fiarem “na determinação e competência do governo da presidente Dilma para nos liderar nesta travessia”. Na tentativa de contemplar reivindicações de correntes mais à esquerda da legenda, a cúpula assume a bandeira de propostas como a taxação de grandes fortunas, a revisão da política de juros altos, a criança de novas faixas de imposto de renda e a recriação do imposto do cheque, a CPMF, para redirecionar recursos para a saúde. Ainda no início, o texto fala em construção de “uma pátria socialista”, termo que não constava na tese original da chapa majoritária.
Dos 82 itens do novo documento, os 30 iniciais são dedicados a analisar a conjuntura econômica mundial e brasileira, numa forma de justificar o ajuste fiscal, expressão que não aparece em nenhum momento.
A defesa da criação de uma frente de esquerda, já presente na tese original, é aprofundada. “Nossa proposta é a constituição de uma nova coalizão, orgânica e plural, que se enraíze nos bairros, locais de estudo e trabalho, centros de cultura e pesquisa, capaz de organizar a mobilização social, o enfrentamento político‐ideológico, a disputa de hegemonia e a construção de uma nova maioria nacional”, diz o documento.
É feita uma referência indireta às dificuldades impostas pelos presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao governo. “Setores dos partidos de centro se sentiram mais à vontade para recompor um bloco com as forças de direita em um momento de dificuldades para o PT e o governo da presidenta Dilma Rousseff”, afirma.
Ao analisar os 13 anos do governo, os petistas dizem que os erros dos partido foram a falta de empenho para a aprovação de uma reforma política e de um projeto democratização da mídia. Não há qualquer referência aos escândalos do corrupção que envolveram a legenda. Na tese original, a PMB “dizia que as denúncias de corrupção - verdadeiras ou não - golpeavam a imagem do partido e que as responsabilidades não podiam ser diluídas”.
Desde a semana passada, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, saiu a campo para colocar em prática a “operação bombeiro” e evitar que as críticas do congresso petista ao ministro Levy, anunciadas na maioria dos documentos da tendências internas do partido, sejam o tema principal do encontro que reunirá 800 delegados da legenda.
Apesar dos apelos, o clima no congresso deve ser tenso. Na semana passada, dirigentes da CUT, braço sindical do PT, elaboraram uma carta que será levada ao encontro da legenda com ataques duros aos caminhos adotados pelo governo Dilma no início do segundo mandato.
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