- Valor Econômico
• Lula nivelou-se ao baixo PT e não o PT ao alto Lula
Expectativa maior, não havia, e portanto os nativos não ficaram frustrados. Mas quem reparou pela fresta, mesmo alertado para o fato de que o congresso do PT na Bahia rendeu apenas o que se esperava que fosse render, ou seja, nada, deixou emergir o sentimento de oportunidade perdida. O partido não saiu do lugar, não sacudiu a poeira, não deu a volta por cima, não se reinventou, não criou instrumentos que possam remeter sua militância à conservação do poder no futuro.
O PT chegou à reunião máxima da sigla totalmente destruído e dela saiu igualmente estraçalhado. O que mais chamou a atenção foi a evidência de que não há uma só ideia nova, uma bandeira atraente, um líder político que proponha uma saída que não seja pela propaganda, uma dose de emoção.
Seus intelectuais, os acadêmicos que sustentam suas teses, os estudiosos que criam novas maneiras de justificar o injustificável, hibernaram. Dizem que estão fazendo esses estudos no escurinho do instituto de estudos partidários, mas a discrição é regra. O que se tem notícia de lá, porém, são estudos sobre tudo, do desemprego à venda no varejo, mas nada sobre o resgate partidário.
Os políticos que foram à Bahia contiveram-se nas suas velhas idiossincrasias. O imposto novo a cobrar dos ricos é o velho imposto sobre grandes fortunas; a taxa nova a cobrar da classe média é a velha CPMF. A modernidade, a inovação, os novos pensamentos, marcaram ausência.
O congresso do PT não apontou rumos. E para não dizer que a palavra símbolo do encontro foi o não, que imobilizou o partido, faça-se constar que o nivelamento do ex-presidente Lula e antigo líder carismático aos sentimentos de derrota do conjunto foi uma novidade.
Antes, quando tudo ameaçava ruir, invocava-se Lula, que seria então o candidato a comandar as massas, que manteria o poder do partido, que não se deixaria atingir. O congresso mostrou que Lula não é mais o mesmo. A simples convocação para depor à CPI da Petrobras de Paulo Okamotto, o número dois do instituto que leva seu nome, sócio no negócio de palestras nacionais e internacionais, pego justificando com uma argumentação inacreditável os pagamentos recebidos de empreiteiras envolvidas em investigações da polícia, tirou o chão do ex-presidente e o fez passar um recibo público por intermédio da repreensão às bancadas na Câmara e no Senado.
O congresso foi realizado no momento em que havia mais de um ano de investigações da Operação Lava-Jato, que vitimou o coração e o bolso do partido: seu tesoureiro e membro da Executiva Nacional está preso. As bancadas advertidas pelo líder maior da sigla, mostrando sua nova fraqueza. A militância imobilizada, sem responder aos apelos como o fazia antes, porque tolhida. Sequer pode criticar o governo como gostaria.
Também não deu para correr para o ombro presidencial, que também vai mal e está sem condições de arregimentar socorro. A presidente Dilma falou por quase uma hora sem ser ouvida. Alguns saíram, outros se refestelaram no chão, e muitos aumentaram o tom da conversa.
Proibida de atacar a política de ajuste fiscal do governo, a contenção de gastos e os sacrifícios exigidos agora dos seus eleitores para corrigir erros do passado, a militância foi recuando, afinou a voz e acabou em críticas apenas sussurradas.
Mas a perplexidade chegou mesmo com o fato de que os maus augúrios bateram em Lula. Esse o fato novo a registrar, a ameaça concreta de perda de poder, o medo.
A direção do partido, da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) desmobilizou a elaboração de documentos e cartas críticas de recomendação da reunião dos petistas, e também foi criticada.
As bancadas na Câmara e no Senado foram desqualificadas, não só por haverem cochilado na convocação de Okamotto, mas também por não estarem reagindo ao cerco ao partido, cada um cuidando do seu mandato e deixando para voltar-se ao PT mais perto das eleições, quando, segundo as ácidas referências do congresso, precisam de dinheiro. As eleições, sim, especialmente as municipais, ainda mobilizam grupos que pretendem se candidatar às prefeituras e realizam movimentos de deserção, ainda preliminares, a serem concluídos em fins de setembro.
O congresso não foi um marco da virada, e ainda permitiu que se notasse a ausência de um, dois ou três líderes, como já houve no PT, que apontassem a estratégia rumo ao futuro.
Lula está preocupado, muito preocupado, com a percepção de que não é mais impermeável às denúncias e críticas. Está sentindo o aperto, inclusive nas pesquisas internas, que comprovam terem o caso Petrobras e as dificuldades do governo Dilma atingido em cheio suas pretensões de voltar a candidatar-se a presidente. Antes, o PT corria para o alto Lula, agora, neste novo momento de adversidade, Lula corre para o baixo PT.
Intérprete dos sinais não tão ocultos no semblante do presidente do Senado, Renan Calheiros, relata que nada o irrita mais, hoje, na fase menos governista da sua carreira, do que a pergunta: "Mas, afinal, o que quer Renan Calheiros?"
A presidente Dilma Rousseff é uma das autoridades do Palácio do Planalto que mais repetem a questão, numa alusão à resistência do senador a acolher, de olhos vendados, como sempre fazia, os desejos do governo.
Identifica-se, no governo federal, que Renan mudou desde que foi citado pelo procurador-geral da República no inquérito da Operação Lava-Jato. Ele estaria atribuindo ao Palácio do Planalto, especialmente aos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça), ter não só se omitido mas até feito força para que seu nome entrasse na lista de Rodrigo Janot. Aos amigos, Renan registra que até hoje nem a polícia nem o Ministério Público nada apresentaram contra o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, seu afilhado político. Desde então deixou de curvar-se diante dos caramurus petistas.
Político das relações do presidente do Senado responde por ele a quem interessar possa: o que o Renan quer é sossego.
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